A Jovem Pan News está tentando correr atrás do prejuízo depois de ter perdido uma de suas principais fontes de renda: em uma movimentação para tentar desassociar o canal de notícias da imagem de Jair Bolsonaro, Tutinha surpreendeu os diretores da emissora ao enviar uma mensagem ordenando a retirada imediata do Pânico da programação televisiva da empresa. Já a partir desta segunda (28), o humorístico ficará restrito ao rádio e a internet e será substituído na TV por mais uma edição do telejornal Headline News, que irá ao ar das 13h às 14h.
No horário alternativo da atração liderada por Emílio Surita, entre meia-noite e 1h da manhã, o canal exibirá reapresentações de Prós e Contras, formato de debates exibido na faixa vespertina. Internamente, as mudanças determinadas por Tutinha já viraram motivo de piada. Não são poucos os funcionários da Jovem Pan que reclamam das ideias mirabolantes do proprietário da rede, que passou a ser chamado de Silvio Santos Golpista dentro dos bastidores do canal de notícias — ambos tem temperamento difícil e mudam a programação de suas TVs da noite pro dia.
A reportagem do TV Pop apurou que a equipe da emissora foi avisada sobre as modificações na programação apenas na noite deste domingo (27). Foi o caso, por exemplo, de Cláudia Barthel: ela estava na geladeira da empresa desde que o empresário determinou o cancelamento do Jornal da Manhã 2ª Edição e sequer estava indo aos estúdios da rede nos últimos dias. Por volta das 19h, a jornalista foi alertada de que irá apresentar a nova edição do Headline News, que continuará tendo uma edição noturna entre 22h30 e 0h, sob o comando de William Travassos.
Nos bastidores, há a leitura clara de que Tutinha está fazendo de tudo para provar ao mercado que seu canal não é um disseminador de notícias falsas: ao lado de Os Pingos nos Is, que já teve uma grande reformulação depois da derrota do atual Presidente da República nas eleições, o Pânico era uma das atrações da empresa que mais defendiam Bolsonaro e seus aliados — e sempre foi um dos carros-chefe da Jovem Pan nas plataformas digitais. O empresário seguirá apostando na trupe na rádio e na internet, mas acredita que a manutenção da trupe na TV não é prudente.
Desde que os canais da Jovem Pan no YouTube foram desmonetizados, o dono da Jovem Pan passou a cobrar mais eficiência de seu departamento comercial para evitar um rombo ainda maior nas finanças da empresa. A empreitada televisiva da companhia já deixou de ser deficitária, mas tem resultados financeiros modestos na comparação com a GloboNews e com a CNN Brasil, que são as líderes de faturamento do setor. Não são poucas as marcas que tem receio de anunciar nas atrações do canal e acabarem, por tabela, envolvidas nas polêmicas dos contratados da rede.
Dias antes da desmonetização virtual, o canal de notícias conseguiu fechar o seu primeiro grande contrato: a emissora conseguiu convencer o Banco Safra, que até então concentrava todos seus investimentos nas duas rivais, a se tornar patrocinador do Jornal Jovem Pan. Antes disso, os intervalos da televisão eram repletos de marcas duvidosas e de comerciais de empresas abertamente alinhadas ao governo de Jair Bolsonaro, como a rede de restaurantes Coco Bambu e a administradora de shoppings Multiplan.
No entanto, não será uma surpresa se Tutinha mudar a programação novamente após a publicação deste texto: em guerra com a imprensa especializada, ele já dispensou os serviços de quatro empresas de assessoria em menos de um ano — a mais recente teve o seu contrato rescindido na semana passada. Há alguns dias, em uma tentativa de descobrir quem seria o responsável por vazar informações internas da empresa, o empresário chegou a suspender a exibição do programa Opinião até que algum veículo publicasse que o formato havia sido tirado do ar.