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Demon Slayer – Kimetsu no Yaiba e os brincos de Tanjirou Kamado: uma reflexão sobre “o que é ser ofensivo”

Tanjirou Kamado, protagonista de Demon Slayer: Kimetsu no Yaiba. Ilustração foi usada para divulgação do anime em streaming (foto: Reprodução)
Tanjirou Kamado, protagonista de Demon Slayer: Kimetsu no Yaiba. Ilustração foi usada para divulgação do anime em streaming. (Imagem: Reprodução)

Lidar com o lançamento mundial de qualquer obra cultural é um desafio em qualquer lugar. A dificuldade é intensificada quando a obra traz costumes diferentes, modos e referências sutis que inicialmente passariam despercebidas, mas que podem trazer sérias consequências para quem tem uma visão mais atenta.

Com a chegada do filme Demon Slayer – Kimetsu no Yaiba: O Filme – Trem Infinto aos cinemas pelo mundo e a chegada do anime completo à Coréia do Sul, algumas questões envolvendo choques culturais voltaram à tona. O longa, em si, vem sendo um trem expresso nas bilheterias ao redor do mundo. Na própria Coreia do Sul, mais de 1 milhão de espectadores foram aos cinemas em apenas sete semanas, tornando Mugen Train o segundo filme mais assistido de 2021 até o momento.

Ao trazer para o catálogo coreano todos os 26 episódios da adaptação, a Netflix trouxe uma controvérsia antiga de Kimetsu no Yaiba à tona. Na ilustração que divulga o conteúdo no catálogo, o protagonista Tanjirou Kamado era o destaque. O que não foi percebido é que a ilustração valorizava bastante os brincos do personagem, que faziam alusão à Bandeira do Sol Nascente japonesa. A bandeira é conhecida negativamente por alguns países asiáticos como China e Coreia do Sul como um símbolo das guerras nipônicas e do imperialismo japonês.

Catálogo da Netflix sul-coreana destaca o protagonista de Demon Slayer: Kimetsu no Yaiba com brinco que remete ao imperialismo japonês (foto: Reprodução/Netflix)

Até a chegada na plataforma de streaming, o anime não era tão famoso. Segundo o Yahoo! Japan, ao chegar no catálogo coreano, logo atingiu a terceira posição do top 10 com apenas três dias no catálogo, o que mostra que o efeito “Tem na Netflix?” tende a ser real em qualquer canto do mundo.

A Netflix percebeu o problema e tratou de mudar a ilustração logo que soube, mas o grupo sul-coreano responsável pelo levante reivindicou também uma adaptação da obra que removesse a ilustração ofensiva dos brincos de Kamado e que fosse a versão para distribuição mundial. Embora a Netflix tenha apenas comprado os direitos de exibição do anime e não possa fazer alterações em design de personagem, exceções para o mesmo evento já foram feitas na própria China já em 2019, onde o controle sobre a mídia é bem mais intenso e o mercado, mais aquecido. Lá, Demon Slayer foi censurado e trouxe uma reedição com os brincos alterados. Apesar disso, nenhum outro país teve a versão editada em seus catálogos, apenas a original.

Diferença entre a versão original e a modificação chinesa no anime (foto: Reprodução/News Gamme)

Há quem trace um paralelo dessa aparição com uma suástica nazista, oriunda da ideologia associada a Adolf Hitler e ao Partido Nazista. Dadas as proporções, há sentido na acusação. Os próprios coreanos, enquanto vendo um crescimento vertiginoso na quantidade de conteúdo japonês disponível para consumo no país, ainda acusam o Japão de ser um aliado dos nazistas com anuência do primeiro-ministro. Além disso, a Netflix também foi tratada como “conivente” em relação ao caso, mantendo o conteúdo no ar.

Claro, há também quem opine que a associação não tem pé, nem cabeça, dizendo que se o brinco faz alusão à bandeira, uma teia de aranha também pode fazer. Os brincos originais, inclusive, já foram vendidos até na Amazon, apesar de não estarem mais disponíveis no momento da consulta para esta coluna.

Demon Slayer: Kimetsu no Yaiba está disponível também no catálogo brasileiro da Netflix. O filme Trem Infinito estreia hoje nos cinemas brasileiros.

Caio Alexandre é entusiasta de cinema, exibição, animes e cultura pop em geral. Escreve desde 2008 sobre os mais variados assuntos, mas sempre assumiu a preferência pelo cinema e sua tecnologia embarcada. Não dispensa um filme com um balde de pipoca e refrigerante com o boss no fim de semana. No TV Pop, fala sobre tudo que é tendência no universo da cultura pop. Converse com ele pelo Twitter, em @CaioAlexandre, ou envie um e-mail para [email protected]. Leia aqui o histórico do colunista no site.

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