A Globo não vai rescindir o contrato com Cassia Kis após o fim da novela Travessia, atualmente em cartaz na faixa das 21h. A emissora renovou o vínculo com a artista durante o período da crise sanitária, e o novo acordo de exclusividade com a empresa vai até 2025. Mesmo com pressão da classe artística e do público, a direção da rede decidiu que não quer ser acusada de perseguição política contra a artista de 65 anos e vai manter o contrato até o fim.
Segundo informações da colunista Carla Bittencourt, de um site de notícias da TV, o departamento de RH (Recursos Humanos) da Globo chegou ao entendimento que demitir Cassia Kis por ela ter disseminado notícias falsas e apoiado atos democráticos poderia se causar ainda mais polêmicas, pois acabaria envolvendo casos de outros funcionários do conglomerado de mídia com o mesmo tipo de comportamento político.
Em setembro, antes da estreia de Travessia, Cassia Kis já havia manifestado que deixaria de fazer novelas. O folhetim de Gloria Perez será o último da teledramaturgia diária com sua participação. “Eu passei por personagens que foram muito interessantes, né. Me construíram como atriz, como mulher, como ser humano, como mãe. Mas eu estou aqui vivendo essa coisa bonita de fechar um ciclo com a novela da Gloria Perez”, disse a atriz.
Na ocasião, Globo e Kis chegaram a um acordo de que ela só gravaria séries e projetos especiais até o fim do contrato. O próximo trabalho previsto é a segunda temporada de Desalma, produção original do Globoplay, que tem gravações previstas para o segundo semestre. Depois, a previsão é de que ela fique na geladeira até o término do contrato. Procurada pela publicação, a Central Globo de Comunicação afirmou que “não comenta especulações”. A atriz também foi procurada, mas não respondeu aos contatos.
Cassia Kis causa revolta por falas preconceituosas
Cassia Kis foi alvo de críticas e causou revolta nas redes sociais após dar uma entrevista para a jornalista Leda Nagle em outubro de 2022. Na conversa, a atriz da novela das 21h escrita por Gloria Perez soltou declarações homofóbicas, como se apenas casais héteros pudessem ter filhos. “Não existe mais homem e mulher, mas mulher com mulher e homem com homem, e homem com homem não dá filho, nem mulher com mulher. Como a gente vai fazer?”, disse ela. A atriz chegou a ser denunciada por atores, atrizes, diretores, roteiristas e produtores que trabalham na Globo.
Nos anos 1980, a atriz optou por interromper uma gravidez e se arrependeu. Desde então, ela tem se posicionado contra o tema e luta contra a legalização no Brasil. No país, a gravidez pode ser interrompida até os três meses de gestação ou em qualquer período nos casos de estupro e risco de morte da mãe. “Ouvi falar que lá na Europa, que é tudo legalizado e espero que nos mantenhamos longe disso, eles fazem a mãe escutar o coração do bebê. Se tivesse ouvido o coração do meu filho na barriga, teria tido este filho que não tive. Eu matei o meu filho”, disse.
Kis também comentou sobre formação de família e lamentou os lares com filho único ou sem herdeiros. Além disso, a atriz de Travessia disparou desserviço contra métodos contraceptivos ao citar o caso de amigos de um dos filhos dela. “Ficam encantados, evidente. Trata-se de uma vida, a gente pari Deus”, continuou. “Para esses jovens, fazer um aborto, tomar uma pílula do dia seguinte, um anticoncepcional é muito fácil, porque eles não têm a referência do bebê, da vida dentro da barriga. Isso é grave, muito grave”, afirmou.
Na mesma entrevista, Cassia Kis também soltou uma das fake news mais usadas pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) nos últimos anos. “Essa ideologia de gênero já está na escola. Eu recebo imagens inacreditáveis de crianças se beijando. Duas meninas se beijando dentro de uma escola, onde há um espaço chamado ‘beijódromo’. O que está por trás? Destruir a família!”, comentou, na ocasião. No ano passado, após as eleições, que certificaram a vitória de Lula, a atriz ainda marcou presença em diversos atos golpistas que contestavam o resultado do pleito.