Por mais que a Globo diga que a rescisão contratual de Fausto Silva foi feita em comum acordo, o clima nos bastidores da emissora aponta para outro cenário. De acordo com pessoas próximas ao apresentador, Faustão não gostou nada de ver suas mais de três décadas de história na rede resumida reduzidas a menos de três linhas de um comunicado feito para a imprensa na tarde de quinta-feira (17). Os executivos da líder de audiência, por sua vez, também não imaginavam a enxurrada de comentários negativos sobre a saída antecipada do dono do Domingão.
A diretoria, temendo que o público possa interpretar a promoção de Tiago Leifert como uma puxada de tapete, agiu rápido. Poucas horas depois do término de sua reunião com os chefões da Globo, Faustão voltou a ser procurado por alguns dos executivos da emissora e foi avisado de que a rede gostaria de lhe homenagear, de forma breve, na edição de domingo (20) de seu antigo programa, que agora se chamará Super Dança dos Famosos. Além da homenagem, a cúpula pediu para que ele, se possível, gravasse um vídeo para se despedir dos telespectadores.
O TV Pop apurou que Fausto Silva disse não ter interesse algum em ser homenageado pela emissora que o demitiu. A sua relação com o canal já estava indo de mal a pior desde que Ricardo Waddington, principal nome do setor de entretenimento da rede, lhe procurou no final de 2020 para avisar que se ele quisesse seguir como funcionário da empresa, teria que deixar os domingos e migrar para um espaço semanal, e em temporadas, durante a semana.
O apresentador, como já é público, recusou a proposta e anunciou a sua saída da Globo ainda em janeiro. Ciente do peso e da importância do Domingão do Faustão não só para a emissora, mas para a televisão brasileira, a rede não se incomodou com a decisão e optou por deixar Silva no ar até o término de seu contrato, em dezembro. Os executivos só não esperavam, no entanto, que ele fosse assinar contrato com a Band e que tornaria isso público ainda em 2021.
A assinatura com a Band terminou de azedar o relacionamento de Faustão com a Globo. Incomodada, a emissora não via com bons olhos o desmonte da equipe do Domingão, que passou a ensaiar uma migração em massa para a Band. Apesar disso, a pressão do mercado publicitário falava mais alto: o apresentador já tinha contratos, muitos deles milionários, assumidos até dezembro. E a maior parte deles foram feitos, como de praxe, com a prerrogativa de rompimento do acordo sem multas rescisórias se algo acontecesse com o rosto contratado para a campanha.
Ainda combalida com a retração do investimento publicitário no ano passado, a Globo chegou a conclusão de que era melhor engolir o orgulho e seguir com o apresentador, mesmo que isso representasse propaganda involuntária para uma rival. Ninguém, no entanto, contava com a internação do comunicador na semana passada. A doença de Fausto Silva serviu para que a rede achasse uma deixa para um período transitório feito de maneira menos desrespeitosa.
Mesmo entre os executivos da rede, a aprovação de Leifert diante dos telespectadores na inesperada última edição do Domingão do Faustão foi uma surpresa. E acabou sendo o fator determinante para que a emissora decidisse, de uma vez por todas, que não precisava mais do apresentador que dava nome ao programa. O titular do The Voice também tem boas relações com o mercado publicitário, e minimizará a crise deflagrada no departamento comercial com o fim antecipado do contrato do marido de Luciana Cardoso.
O único fator imprevisto pela cúpula do canal foi a comoção provocada nas redes sociais pela forma com que Faustão foi dispensado pela emissora. Agora, a diretoria da Globo corre atrás do prejuízo para evitar uma crise de imagem de Tiago Leifert. O jornalista, responsável por comandar anualmente o principal faturamento da empresa no primeiro trimestre, não pode sofrer danos e tampouco ser rejeitado pelos anunciantes por conta de uma empreitada que deve durar apenas seis meses. E a emissora tem plena ciência de que terá uma missão ingrata pela frente se Faustão, de fato, bater o pé e insistir na recusa em se despedir do público que o acompanhou por 32 anos.