Em meio a mais uma crise de identidade do canal de notícias, Virgilio Abranches chega ao segundo posto mais importante do organograma da CNN Brasil com a mais complicada missão de sua carreira. Apesar de alçado ao posto de vice-presidente de Jornalismo em caráter interino, ele decidiu chamar para si a responsabilidade de motivar outra vez uma equipe que sofreu nos últimos meses com uma sequência de decisões controversas, que fizeram com que a emissora fosse vista como uma espécie de filial da Jovem Pan News, consolidada como segunda força dos noticiosos.
A reportagem do TV Pop apurou que Abranches chegou ao posto de “todo poderoso” da operação brasileira da CNN para recuperar a confiança perdida pelo público e ainda pela matriz da rede, que vinha mostrando o seu descontentamento com a mudança editorial do canal na reta final da gestão de Leandro Cipoloni. Fontes próximas ao executivo garantem que a sua gestão, ainda que transitória, terá como meta reconduzir a empresa para o seu caminho original, em que a marca era sinônimo de agilidade e credibilidade, sem associação a conteúdos potencialmente duvidosos.
Cipoloni, oficialmente, pediu para sair da CNN Brasil. Apesar de ter tido sua gestão duramente criticada nos últimos meses, sua saída foi costurada em comum acordo com a alta cúpula da rede. Ele afirmou estar extremamente cansado de sua rotina e garantiu que busca apenas ter mais tempo para cuidar de sua saúde, que estava debilitada nos últimos meses, e de sua família, e diz que decidiu deixar o canal sem sequer ter um novo projeto profissional. Além disso, o canal assegura que “a gestão de Cipoloni sempre esteve alinhada às diretrizes editoriais da CNN internacional”.
No segundo dia de sua sugestão, o novo vice-presidente de Jornalismo fez questão de convocar todos os profissionais da Redação para uma reunião. Ele deixou claro que não tem certeza se será efetivado no posto, mas que enquanto isso, não terá o comportamento de quem está apenas esquentando a cadeira para a chegada de um novo nome. O jornalista fez questão de sinalizar que irá focar na manutenção de um ambiente cada vez mais salubre para os colaboradores e que mirará em uma linha editorial independente e apartidária, com a grade voltando a focar em hard news.
As primeiras mudanças visíveis promovidas por Virgilio Abranches visíveis para o grande público devem acontecer ainda nas próximas semanas. O TV Pop apurou que ele promoverá profundas reformulações nos telejornais e na programação da CNN Brasil, com o intuito de aumentar o espaço destinado para telejornais. Formatos vistos como problemáticos, como O Grande Debate, não vão ficar como estão — além de não atraírem audiência qualificada, que é o foco da empresa, ambos não conquistam ibopes expressivos e geram problemas jurídicos, por mais que a TV negue.
Com o apoio de João Camargo e Rubens Menin, chefões da operação brasileira da CNN Brasil, Abranches também fará outra correção de rota nos rumos do canal de notícias: com aval dos donos da chave do cofre da companhia, ele voltará a investir em contratações de medalhões do telejornalismo. O novo comando da empresa considera importante ter nomes reconhecidos pelo público e pelo mercado publicitário no comando de seus principais formatos, como o 360º, e está em busca de ex-profissionais da Globo e da Record para o posto, marcado pela passagem de Daniela Lima.
Daniela, por sinal, é vista como um assunto superado para a nova chefia da CNN Brasil: diferentemente da gestão anterior, que tinha como meta pessoal formar uma substituta dentro da própria estrutura da emissora, o novo comando da rede não quer queimar profissionais capacitados em um espaço marcado pela personalidade forte da antiga titular. Ao longo de seu primeiro discurso, Virgilio deixou claro que os nomes revelados pelo canal ainda terão espaço para crescer dentro da companhia, mas sem a inglória missão de serem testados em funções sem preparo para tal.
Nas redes sociais, não foram poucos os que lembraram que Virgilio Abranches tem uma grande passagem pela Record em seu currículo, sendo um dos responsáveis pelo auge do sensacionalismo de Geraldo Luís nos domingos da emissora. O novo vice-presidente da CNN, no entanto, foi mais do que o braço-direito do eterno parceiro do anão Marquinhos. Ele esteve na equipe da primeira versão do Tudo a Ver, comandada por Paulo Henrique Amorim, em um formato visto até hoje pela crítica especializada como um marco na história do telejornalismo brasileiro.
Abranches também foi responsável por comandar o Jornalismo da Record em Belo Horizonte e Porto Alegre, consolidando a emissora na vice-liderança de audiência nas duas cidades, e ainda foi parte da equipe que esteve a frente da melhor fase de audiência do canal na faixa matinal na Grande São Paulo, ocupando a chefia de Redação do São Paulo no Ar e do Fala Brasil quando ambos eram lideres de ibope. Ele, no entanto, não é uma cria da rede — seu primeiro emprego foi na EPTV, afiliada da Globo no interior de São Paulo, e ainda deu expediente na Folha de S.Paulo.
O TV Pop ouviu de diversos funcionários que a sua promoção ao posto de vice-presidente de Jornalismo é uma nova esperança para a longa e controversa trajetória da CNN Brasil. Diferente de seus antecessores, Virgilio Abranches é um profissional que realmente gosta e entende de televisão.
Nos bastidores da rede, não são poucos que explicam sua paixão pelo meio com um episódio recente, em que o executivo ficou parado durante vários minutos em frente a uma TV na Redação só para medir a velocidade em que o crawl — tarja com as principais manchetes do momento — estava passando na tela. Na véspera, o canal havia implantado o mesmo modelo da CNN americana, com notícias correndo eternamente na tela, e não com os enunciados completos. Por sinal, Abranches reclamou na ocasião que o GC estava muito rápido, quase incompreensível para o público.