Quer um conselho? Pense duas vezes antes de convidar Chico Pinheiro e Ana Paula Araújo para uma mesma festa. A dupla de apresentadores do Bom dia Brasil até tenta ter química e mostrar cumplicidade para o público, mas os dois já tem tirado o sono dos executivos da Globo. Mesmo antes do afastamento do veterano, em março do ano passado, os jornalistas sequer se olhavam nos bastidores e, quando muito, falavam só o essencial. Depois de 15 meses sozinha, Ana Paula tinha quase certeza que não teria que voltar a conviver com o seu desafeto. A certeza, porém, foi por água abaixo: Chico voltou para a bancada nesta segunda-feira (5) e não deverá sair dali por pelo menos um ano.
A diretoria da líder de audiência chegou a conclusão de que pegaria muito mal “sumir” com Chico Pinheiro sem mais nem menos. Ele quase foi demitido em junho do ano passado, após o vencimento de seu contrato, já que há consenso de que sua relação com a empresa está desgastada desde o episódio do áudio em defesa do ex-presidente Lula, mas conseguiu uma sobrevida na emissora por conta da crise sanitária. A alta cúpula enxergou em uma possível saída do veterano uma oportunidade dele, magoado, decidir falar mal do canal em concorrentes. Alguns executivos chegaram até a cogitar que ele pudesse virar garoto propaganda do Partido dos Trabalhadores nas próximas eleições.
Independentemente do cenário pós-demissão do apresentador, formou-se outro consenso entre a diretoria da Globo: ainda não é a hora de demitir o jornalista. Com o clima cada vez mais bélico da política nacional, é melhor mantê-lo por perto, mesmo que isso desagrade incontáveis setores da rede. O seu retorno ao Bom dia Brasil passou longe de ser uma unanimidade nos bastidores. Nem mesmo o próprio queria voltar para a bancada do matinal: ele até tentou negociar o retorno do Sarau, programa cultural comandado por ele na GloboNews, mas não teve sucesso.
De volta para o telejornalismo, Chico Pinheiro recebeu apenas uma ordem clara de seus chefes: não se envolver, em hipótese alguma, em política. Nem mesmo em rodinhas de amigos, como já aconteceu antes. Como sinal de prestígio e que as mágoas do passado foram superadas, ele ganhará outra chance no rodízio de âncoras do Jornal Nacional, do qual foi afastado no final de 2018. E, apesar de ter suas divergências com a linha editorial da empresa, ele parece ter ciência de que dificilmente terá um salário parecido com o da companhia em qualquer outro lugar.
Ana Paula Araújo, por sua vez, não faz a mínima questão de disfarçar a infelicidade com o retorno do colega. Mesmo antes da crise sanitária, ela já se esforçava para provar aos executivos da rede que é capaz de comandar sozinha o telejornal matinal, como já acontece com Maju Coutinho no Jornal Hoje e com Renata Lo Prete no Jornal da Globo. Na sexta-feira (2), ela anunciou a volta de Chico com a mesma animação de quem está narrando um enterro, além de não ter topado gravar chamadas para os intervalos comerciais ao lado do parceiro de bancada.
Apática e com um sorriso amarelo, a jornalista até tentou fazer um discurso exaltando a volta do veterano após os 15 meses de afastamento no início do Bom dia Brasil desta segunda. O tiro, porém, saiu pela culatra: as falas da âncora foram interpretadas nos bastidores como o início de uma nova temporada de rivalidade. Sem disfarçar a infelicidade, ela só deu um “bem-vindo de volta” para o colega, que retrucou com um irônico “obrigado pela acolhida carinhosa”. Fora do ar, os dois não trocaram uma palavra sequer.
Felizes ou não, os dois vão ter que se aguentar por mais algum tempo. A Globo só deve voltar a mexer na bancada de seus telejornais no primeiro semestre do próximo ano, quando tudo indica que Chico Pinheiro será substituído na apresentação do matinal por Hélter Duarte. Ana Paula, por sua vez, terá que esperar mais um pouco para realizar o sonho de ter um telejornal solo em rede nacional.