A chegada de Rafael Colombo instaurou uma nova crise nos bastidores da Jovem Pan News. Sem ter dinheiro suficiente para arcar com o salário de sua nova contratação, o canal de notícias começou mais uma temporada de demissões. Para conseguir pagar o antigo funcionário da CNN Brasil, a emissora demitiu na tarde desta sexta-feira (15) Adalberto Piotto, visto até então como um rosto indispensável para a empresa — ele foi o sucessor de Joseval Peixoto na função de porta-voz da companhia e era o encarregado de ler os editoriais e posicionamentos da companhia em casos delicados.
O TV Pop apurou que a demissão de Piotto, que estava na Jovem Pan desde janeiro de 2022, também teve motivação editorial. Ele estava inconformado com o final de seu programa diário, o Prós e Contras, tirado do ar sem aviso prévio no final do mês passado, e não aceitou um convite feito para assumir a bancada do Jornal Jovem Pan, transmitido no horário nobre. Desde o início do mês, ele apenas moderava o Direto ao Ponto (genérico do Roda Viva criado originalmente para Augusto Nunes) nas noites de segunda e, em raras ocasiões, cobria ausências de âncoras de outros jornalísticos.
O Direto ao Ponto tem futuro incerto na programação da Jovem Pan News. Em um outro processo de corte de custos, o programa de entrevistas passou a ser gravado horas antes de ir para o ar e deixou até de oferecer lanches para a equipe de seus convidados. Ele seguirá no ar ao menos na próxima segunda por já ter tido a sua produção iniciada, com o aceite de um entrevistado — e o canal não quis se indispor com o cancelamento do convite. Evandro Cini, titular do vespertino Três em Um, assumirá a moderação da atração enquanto não há definição se ela será ou não cancelada.
Profissional experiente, Piotto era um dos principais nomes da Jovem Pan. Formado pela Universidade Metodista de Piracicaba, o jornalista teve passagens marcantes pela CBN e pela TV Brasil, além de já ter trabalhado anteriormente na emissora controlada por Antônio Augusto Amaral de Carvalho Filho, o Tutinha, como âncora do Jornal da Manhã, durante seis meses em 2014 — entre os maiores orgulhos de seu currículo, está a direção do documentário Orgulho de Ser Brasileiro, que ele define como “um debate honestamente intelectual sem precedentes” sobre o patriotismo.
Além da recusa em assumir o Jornal Jovem Pan e de ter um salário muito acima da média habitual do conglomerado, Adalberto Piotto foi vítima de uma briga interna no canal de notícias. André Ramos, principal executivo da rede, optou por priorizar colaboradores com passagens pela CNN Brasil, em que ele trabalhou entre 2019 e 2022, e escanteou quem já havia sido contratado pelas gestões anteriores da emissora. O veterano era uma aposta de Mariana Ferreira e Carlos Aros, que também seguem com cargos diretivos na emissora, mas que deixaram de ter tanta autonomia quanto outrora.
Procurada pela reportagem do TV Pop, a Jovem Pan não se manifestou sobre a demissão de Adalberto Piotto até a publicação deste texto. O jornalista também foi procurado, mas não respondeu aos questionamentos enviados em um aplicativo de mensagens instantâneas. Depois da publicação deste texto, às 20h28, o apresentador se manifestou com a seguinte declaração:
Não lhe respondi antes porque ainda estou sob licença médica devido a um quadro de infecção de vias aéreas superiores, infecção esta que me fez até perder a voz, num caso de afonia, nestas últimas duas semanas.
Sim, sob licença médica atestada, recebi a comunicação por telefone, por uma ligação do RH da Jovem Pan hoje à tarde, com a decisão da empresa de romper o contrato, o que, embora lamente e questione a forma de ter sido por meio de uma ligação telefônica, recebo com absoluta serenidade.
Como prezo pela formalidade e elegância, visto que a formalização do distrato ainda se dará, considerei inadequado lhe dar respostas.
Por fim, reitero que sempre prezo pelo respeito, pela elegância e pela verdade dos fatos nas relações que forem, em todas as situações.
