Ex-repórter da Globo no Rio de Janeiro, Flávia Jannuzzi disse que o jornalismo no Brasil virou “militante”, o que deixou “tudo muito chato”. Em entrevista para Eduardo Tchao, também ex-funcionário da emissora líder, a jornalista falou sobre sua carreira de 25 anos na empresa. A profissional contou que antigamente era mais “divertido” atuar na área, porque o país não estava tão polarizado na política como atualmente. Jannuzzi foi demitida em abril deste ano, em uma onda de cortes que atingiu dezenas de colaboradores em São Paulo, Rio de Janeiro, Pernambuco, Belo Horizonte e Brasília.
“Tenho muito orgulho da minha trajetória, acho que construí uma carreira muito bonita, bacana, participei de coisas muito importantes, legais e divertidas, porque eu acho que o jornalismo não tinha essa coisa da militância que tem hoje. É uma coisa que já está escancarada, às vezes querem falar que não tem, mas tem, e a gente [também] não tinha um país tão polarizado, então as coisas podiam ser mais leves. Hoje tudo que você faz [dizem] ‘tem uma pitadinha aí da esquerda, tem uma pitadinha da direita’, então você fica nessa balança, nessa gangorra, e fica tudo muito chato, o medo do cancelamento”, lamentou Flávia Jannuzzi.
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Flávia Jannuzzi afirmou que se sentiu aliviada com a demissão da Globo. “A verdade é que está tudo muito chato, muito mimizento, tudo você tem que pensar, na palavra que você vai usar, não pode usar determinada palavra, não pode usar isso, não pode usar aquilo. Então, assim, eu senti até um certo alívio [em ser demitida]. Claro, a maneira como foi, foi muito dura, são 25 anos [de empresa], muito tempo fazendo a mesma coisa, no mesmo lugar, é claro que você tem um baque, mas não é o fim do mundo”, disse ela sobre a saída inesperada da emissora carioca.
A jornalista disse que já esperava a demissão e que tinha planos para caso isso acontecesse algum dia. “É uma coisa que [eu] esperava porque eu já via uma movimentação na empresa, que a empresa não era mais a mesma coisa. A gente pegou a era de ouro da empresa. É uma relação que a gente tem que ter gratidão, foram muitos anos ali, dedicada, eu acho que teve uma troca muito forte, muito importante, e vida que segue. A gente se reinventa, tem realmente que apostar em outras coisas. O mundo está mudando, a gente muda também”, pontuou Flávia Jannuzzi.
Contratada da Globo por 25 anos, Flávia Jannuzzi trabalhou por 16 deles produzindo reportagens para os telejornais locais e nacionais, como RJ2, Jornal Nacional e Jornal da Globo, e cobriu eventos importantes como o Carnaval e o Rock in Rio. Em junho, ela disse em outra entrevista que não teve coragem de voltar na sede do canal para buscar seus itens pessoais. “Eu não consigo passar pelo Jardim Botânico ainda. Me dá um mal-estar, um negócio que eu não consigo dizer o que é. Eu ainda não superei, mas vou superar”, disse a repórter, na ocasião.
