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Billie Eilish prova que é capaz de superar expectativas em seu segundo álbum

Novo álbum de Billie Eilish é um dos destaques da música no ano (foto: Divulgação)
Novo álbum de Billie Eilish é um dos destaques da música no ano (foto: Divulgação)

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Normalmente, o segundo álbum lançado por um artista após um álbum de estreia extremamente bem-sucedido envolve diversas expectativas comerciais e do público. Esse tipo de pressão acaba colocando esses trabalhos como momentos apáticos dos artistas, por mais que os álbuns tenham um bom trabalho de divulgação e garantam mais músicas de sucesso no repertório. Depois de uma estreia arrebatadora em todos os níveis, Billie Eilish lança seu segundo CD, “Happier Than Ever”.

O trabalho da artista conta com produções minimalistas e caseiras, com composição feita a quatro mãos ao lado do irmão, Finneas. Foi assim desde o começo e não ia mudar agora, principalmente depois de juntos conseguirem o topo dos charts e as premiações mais cobiçadas do mundo. A sensação de apatia foi crescendo à medida que mais singles foram lançados, fazendo com que gradualmente os lançamentos não chegassem a alcançar o top 10 das paradas musicais.

Agora, com o álbum lançado e com um novo tipo de repercussão, é visível que essa foi a última preocupação. Os singles lançados ao longo dos últimos 12 meses, basicamente, tem propostas diferentes mas buscam repetir a mesma embalagem do que Billie já havia apresentado antes, sem o mesmo brilho de antes. Billie é notoriamente reconhecida por um visual instigador e até incômodo, meio polêmico, que não bate muito com o processo com que o álbum foi construído, de forma muito natural em suas palavras.

O álbum tem tudo aquilo que ainda não conhecíamos sobre a Billie. Ela aproveita as 16 faixas para passear por diversos gêneros que casam muito bem com sua voz e dão até a ideia de que ela já fez isso alguma vez antes. Além disso, o álbum retrata basicamente um reencontro com autoestima e amor próprio, bem como sobre maturidade, pressão da mídia e, simplesmente, paixão e términos. Ela ainda continua foda, mas com muito menos vontade de provar isso o tempo todo, se apresentando de forma mais frágil e sincera.

Essa fragilidade, inclusive, é apresentada de forma muito inteligente na música-título, em que a produção complementa o que é cantado. O início da canção tem apenas um violão acústico acompanhado de uma melodia simples com frases sobre estar mais feliz do que nunca longe de uma pessoa, da forma mais singela possível, fazendo parecer que aquele término foi suave, de certa forma.

Assim que se aproxima da metade da música, tudo começa a mudar. Aquele clima acústico dá espaço para uma atmosfera pop-rock, em que gradualmente a letra da música vai se adaptando para que a cantora se expresse da maneira como se sente, passando da voz sussurrada para gritos de liberdade que só querem que o ex a deixe em paz. Ela, literalmente, dá gritos nos segundos finais da música. É como se a gente percebesse a artista mais contida dar espaço para a artista que também sabe se impor, também sabe falar alto, também tem personalidade o suficiente para fazer algo diferente.

O álbum reforça as diversas possibilidades de Billie, principalmente como compositora. Ela tem um vocabulário extenso e foi reconhecida por isso recentemente. Em Happier Than Ever, o vocabulário é o ponto alto, principalmente pela forma como as rimas se encaixam. É um álbum desafiador, tanto para a Billie, quanto para quem ouve música, quem aprecia música ou quem trabalha com música. Provavelmente a escolha mais improvável para um segundo álbum, mas a mais interessante e que abre diversos caminhos para uma jovem artista que já marca seu espaço na indústria contrariando tudo e todos.

Gabriel Bueno é publicitário de formação, atua no mercado desde 2013 nas áreas de criação, mídia e produção. Viciado em acompanhar música, sempre disposto a comentar premiações, álbuns, videoclipes e tudo que envolve o meio musical. É o autor da coluna Decifrando, publicada no TV Pop semanalmente. Siga o colunista no Twitter: @GabrielGBueno_. Leia aqui o histórico do colunista no site.

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