Desde os primórdios da televisão brasileira, as novelas têm desempenhado um papel significativo na cultura popular nacional. Seja abordando temáticas importantes ou contribuindo para popularizar tendências de moda, a influência da dramaturgia, até mesmo, nos dias atuais, onde a briga pela audiência é muito mais árdua, é inegável.
Esse é um dos indícios que comprovam que o formato não perdeu o seu prestígio, já que há uma grande parte da população brasileira que não consegue abandonar uma das maiores paixões nacionais. Inclusive streamings como a HBO Max estão investindo na realização de novelas próprias, demonstrando que o fascínio pelos folhetins permanece, com o público disposto a revisitar as obras nostálgicas do passado ou embarcar em novos universos das produções atuais.
Dessa maneira, ver uma peça de roupa, acessório ou quem sabe uma estética ganhar as ruas graças a um folhetim sempre foi um excelente termômetro para o sucesso da obra. Esse fenômeno, no entanto, era mais recorrente nas grandes novelas de antigamente. hoje o mais comum é que ocorra o caminho inverso, com o estilo hit das redes sociais, o acessório queridinho das fashionistas ou o modelo de calça feminina favorita da geração Z surgindo nas telas para que haja identificação com o público.
Assim, do estilo marcante dos protagonistas às roupas glamourosas dos vilões, cada peça de vestuário em uma novela é cuidadosamente selecionada para transmitir a personalidade dos personagens. Além disso, é uma excelente referência para entender e relembrar a moda de cada período. Vamos então viajar pelas novelas que marcaram época com tendências que saíram da ficção direto para o guarda-roupa dos expectadores.
As tendências de moda das novelas
As meias de lurex de Dancin’ Days (1978)
Dancin’ Days deixou sua marca na história da teledramaturgia não apenas por sua trama envolvente, mas também por sua enorme influência na moda do período. Transmitida pela Rede Globo no ápice da cultura disco, o final da década de 1970, o figurino da trama contava com diversas peças extravagantes e glamourosas, que refletiam o espírito da época.
Tudo que Julia Matos, a protagonista vivida por Sônia Braga, utilizava, caía no gosto das mulheres, que tentavam replicar seus looks de balada, como a famosa combinação de top com a calça vermelha de cetim. Contudo, foram as meias de lurex brilhantes e coloridas usadas com sandália de salto alto que roubaram a cena, viraram fenômeno de vendas e são lembradas até hoje como um ícone inesquecível das novelas bem como da moda brasileira.
O estilo gótico de Vamp (1991)
Antes mesmo do universo dos vampiros dominar a cultura pop entre o final dos anos 2000 e início da década de 2010, a Rede Globo já investia em produções com a temática sobrenatural em 1991. Sucesso absoluto, Vamp trouxe a moda gótica à tona com os figurinos repletos de roupas escuras, tecidos como veludo, vinil e renda, além de maquiagem dramática com sombras pesadas e lábios vermelhos.
A trama da vampira Natasha foi uma novela tão impactante que a emissora tentou repetir a fórmula em 2002 com O Beijo do Vampiro, que também obteve êxito e contribuiu para a estética gótica continuar em evidência no país. No entanto, há quem diga que é a atmosfera marcante de Vamp que permanece gravada na memória coletiva, transcendendo o tempo e garantindo o seu lugar como um clássico da televisão brasileira.
A blusa ciganinha de Babalu de Quatro por Quatro (1994)
Divertida e irreverente, Quatro por Quatro apareceu nas telas da Globo em 1994 para alegrar a audiência e deixar a sua marca na moda brasileira dos anos de 1990. Com a exibição da novela, era comum ver pessoas na rua utilizando desde os cortes de cabelo das personagens até os tamancos com meia da protagonista, Babalu, interpretada por Leticia Spiller.
Todavia, foi outro item utilizado por ela, a blusa ciganinha, que se tornou uma peça indispensável para mulheres de todas as idades. Hoje, considerado um clássico do guarda-roupa feminino, a blusa ciganinha se mantém em alta no verão 2024 e com certeza o folhetim pode ser creditado por ter ajudado a popularizar essa peça no território nacional.
O vestido vermelho de Paola Bracho em A Usurpadora (1998)
A novela mexicana A Usurpadora foi transmitida originalmente por aqui no SBT, conquistando rapidamente também o público brasileiro. Contando a história de duas irmãs gêmeas com personalidades opostas que trocam de lugar, o figurino da obra ganhou destaque, pois era uma forma de diferenciar as duas personagens vividas por Gabriela Spanic.
O contraste entre elas ficava nítido, enquanto Paulina mostrava sua delicadeza e doçura através de roupas românticas, sua irmã má, Paola, apostava na sensualidade, luxo e extravagância. Dentre os looks deslumbrantes da antagonista, os diversos modelos de vestidos vermelhos viraram sua marca registrada e uma referência de estilo e sofisticação para as telespectadoras. E é dessa maneira que a imagem de uma das vilãs mais inesquecíveis de todos os tempos está guardada na memória do público até os dias atuais.
A pulseira-anel da Jade de O Clone (2001)
Uma das novelas mais emblemáticas da história da dramaturgia brasileira, O Clone retratou a cultura muçulmana, visto que parte da história se passava em Marrocos. Poucos folhetins influenciaram tanto a nossa cultura quanto a trama de 2001 da Rede Globo. Expressões em árabe se tornaram corriqueiras, aulas de dança do ventre ficaram lotadas, além dos diversos efeitos também nos setores de moda e beleza.
Se o delineado marcado, os lenços e a blusa de um ombro só já foram um sucesso, foi a pulseira-anel de Jade que virou verdadeira sensação em todo o país. Difícil existir uma pessoa que viveu essa época e não tenha aderido a essa moda ou conhecido alguém que o fez. Assim, esse item icônico, bem como a novela em si, transcenderam as fronteiras da televisão e marcaram uma era da cultura brasileira.
Capinha de celular de soco-inglês da Helô de Salve Jorge (2012)
Em 2012, a Globo trouxe ao ar a novela Salve Jorge em um momento que o uso de smartphones estava se popularizando rapidamente e as cases de celular haviam se tornado um novo acessório fashion. Desse modo, a capinha em forma de soco-inglês logo virou tendência graças a outro papel de Giovanna Antonelli, a delegada Helô.
Uma escolha certeira de figurino, que além de combinar com a profissão da personagem, chamou a atenção por ser um acessório funcional que protegia o celular ao mesmo tempo que proporcionava atitude, confiança e charme para quem o utilizava. Com essa fusão entre funcionalidade e estilo, o item conquistou não apenas os telespectadores, mas também os entusiastas da moda em todo o país, sendo lembrado até hoje por muitas pessoas.