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Saída de Faustão da Globo marca fim melancólico dos animadores dominicais

Faustão deixará a Globo no final de dezembro (foto: Reprodução/TV Globo)
Faustão deixará a Globo no final de dezembro (foto: Reprodução/TV Globo)

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Deslizando pela timeline do Twitter me deparei com um retweet de um vídeo com a seguinte cena: Gugu entrevista ao vivo a atriz Taís Araújo no palco do “Domingo Legal” (SBT). Só isso já seria algo bem raro de acontecer de uns anos pra cá. Taís logo se tornou uma das maiores estrelas do país e o habitat dessa categoria fica nos ”Estúdios Globo”.

Augusto Liberato infelizmente nos deixou em novembro de 2019. Vinte e três anos antes desse trágico desaparecimento, Gugu e Taís Araújo dividiam o palco do icônico programa com pelo menos umas trinta pessoas – uma aglomeração para tempos de hoje. Algumas assistentes de palco e dançarinas no chão, outras no alto dentro de taças gigantes (sim!), alguém fantasiado de coelho, outro de rato, uma pessoa com a fantasia de boca, mais algumas pessoas com fantasias que provavelmente tinham algum contexto na época (ou nem), além do grupo Gera Samba (Beto Jamaica, Compadre Washington, Débora Brasil, Carla Perez e Jacaré) e uma criança aleatória.

Enquanto Gugu conversa com Taís sobre a responsabilidade que ela tem em interpretar Xica da Silva (personagem baseada na realidade que foi sucesso numa novela da Manchete na década de 1990), ouvimos ao fundo uma das típicas trilhas do programa. Gugu cumpre o protocolo, faz três perguntas rápidas sobre a novela e depois parte para o que realmente interessa: saber se Taís sabe fazer a “Dança do Bumbum”. A intérprete de Xica se faz de rogada. Sorri envergonhada dando alguns passos atrás, depois apoia uma das mãos no queixo como quem parece pensar: “O que estou fazendo aqui?”.

Ledo engano.

Quando toca a música, Taís Araújo imediatamente encarna o papel de dançarina do Gera Samba executando com riqueza de detalhes a coreografia que era um hit naquele ano. A câmera passeia pelo palco, um garotinho de blusa azul está posicionado ao lado de Débora Brasil em sincronia total. Todos no palco “botam a mão no joelho, dão uma abaixadinha, vão mexendo gostoso e balançando a bundinha”.

São cenas de um domingo à tarde vistas por milhões de brasileiros no auge da “guerra pela audiência” entre Gugu e Faustão. É possível que outras milhões de pessoas naquele mesmo momento estivessem ignorando a trupe formada no palco do SBT para assistir a exibição de um “sushi erótico” ao vivo – na Globo. Se não era isso, devia ser algo do tipo. Cenas que jamais serão vistas novamente na nossa TV. Em 1997, Faustão reuniu Márcio Garcia e Oscar Magrini, trajados em referência à cultura japonesa, para degustarem a iguaria típica da terra do sol nascente sobre corpos de mulheres nuas.

Deixando um pouco de lado o Twitter, ligo a TV também num domingo à tarde. Na Globo, uma superprodução com o “The Voice +. Daniel, Mumuzinho, Cláudia Leitte e Ludmilla se derretem em lágrimas com o desempenho de cantores idosos que não tiveram tanta sorte ou êxito como eles na carreira artística. O programa – que é um formato gringo – é bonito, bem executado, cultural, até inspirador e, por fim: um porre! Quase ninguém é “gongado” – pra usar uma expressão muito comum nos tradicionais programas de calouros que são a história da TV brasileira – além de uma emoção aparentemente forçada e desesperada.

No SBT, uma talentosa repórter fantasiada de Narcisa Tamborindeguy entrevista pessoas pra descobrir quem sabe escrever o nome de Whindersson Nunes (que não faço ideia se eu mesmo escrevi corretamente). A reportagem de rua é um complemento ao conteúdo principal, uma visita da apresentadora Eliana à casa do humorista que nesta semana foi notícia em todos os portais ao anunciar que será pai. Apesar disso, o telespectador não viu esse assunto ser abordado por Eliana já que o material é uma reprise de 2019.

Nosso grande domingo não existe mais na TV. E essa era vai ter um final absoluto com a despedida de Faustão no fim desse ano. Por mais que o “Domingão” tenha abandonado há tempos a característica mais apelativa por audiência, ainda era o nosso portal de memórias para tempos inesquecíveis onde a criatividade era revertida em pontos de audiência semana após semana.

No panorama atual do nobre domingo, a criatividade passa longe. Seja pelo domínio dos formatos na Globo, pela inércia total no SBT ou pela alta demanda de reciclagem na Record que para fazer frente à reprise de Whindersson na Eliana e ao “The Voice +”, apresentava ex-integrantes d’A Fazenda sendo desafiados por Rodrigo Faro a fazerem uma travessia entre balões a metros de altura.

Para quem viveu a TV dos anos 1990, é impossível não experimentar uma nostalgia melancólica. A despedida de Faustão após 32 anos nos faz lembrar que o arrojo e a criatividade já não podem ser sintonizados com tanta naturalidade. Quantos artistas hoje se atreveriam a executar com maestria a “Dança do Bumbum” para um país de audiência? Quantos outros mergulhariam em busca de sabonetes numa banheira? Que apresentador se arriscaria a colocar no ar tipos brasileiros como o “Latininho”? Que programa teria a relevância de revelar em primeira mão a gravidez de uma rainha, como Xuxa? Ou receber o cantor Belo após mais de um mês de cárcere acusado por tráfico de drogas, porte ilegal de armas e formação de quadrilha? Esse era Faustão.

Nos resta desejar que a breve saída de cena de Faustão (seja para a aposentadoria ou novos projetos fora da Globo) seja uma sacudida suficiente para lembrar que a originalidade e a criatividade, com a naturalidade popular brasileira ousada e divertida gera como resultado a eternidade.

é pop Final da Libertadores rendeu audiência histórica para o SBT. Segundo o TV Pop, foi uma das maiores marcas de toda a história da rede. Não dá pra negar que a emissora da Anhanguera sabe aproveitar uma boa ocasião de mercado.

é flop Edição de sábado do Jornal Nacional não levou ao ar as cenas da final da “Libertadores”. O telespectador do maior e mais importante jornal da TV brasileira precisou se contentar com fotos. William Bonner explicou, corretamente, que a Globo não possui os direitos das imagens, mas complementou informando que a emissora não recebeu a tempo as imagens cedidas. O detalhe é que o SBT alegou ter enviado o pacote de imagens às 20h26. Quem entende um pouquinho de TV, sabe que seria perfeitamente possível exibir com imagens a informação que acabou indo ao ar por volta das 21h no JN. Ficou parecendo birra.

Josuá Barroso é titular da Coluna de Segunda (com trocadilho!) do TV Pop. Jornalista com ampla experiência em televisão, atuou por mais de doze anos em variadas praças exercendo as funções de repórter, editor, editor-chefe, chefe de redação e gerente de jornalismo. Sem vocação alguma para ser um “alecrim dourado”, analisa a mídia acertando e errando junto. Quem nunca? Siga @JosuaBarroso no Twitter e envie xingamentos (brincadeira, mande mensagens carinhosas) para o colunista por e-mail: [email protected]. Leia aqui o histórico do colunista no site.

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