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Nunca desliga? GloboNews leva baile de CNN e Band na eleição de Maduro

Foto de Nicolás Maduro
Cobertura da vitória de Nicolás Maduro comprova decadência da GloboNews (foto: Divulgação)

Há quase 14 anos se vendendo aos telespectadores como a emissora que nunca desliga, a GloboNews está cada vez mais inerte ao que acontece no mundo. O canal de notícias da Globo optou por priorizar a reapresentação do Fantástico e acabou sendo furado por praticamente todas as suas concorrentes na madrugada de domingo (28) para segunda-feira (29), marcada pela cobertura das eleições na Venezuela. Diferentemente da CNN Brasil e do BandNews TV, a rede não abriu mão de sua programação habitual e acabou passada para trás no anúncio da vitória de Nicolás Maduro.

O canal de notícias da Globo permaneceu desligado até mesmo no momento em que o Conselho Eleitoral venezuelano anunciou a reeleição de Maduro. Enquanto a CNN Brasil exibia a coletiva, à 1h11 da manhã, a GloboNews reapresentava o Fantástico da noite anterior, com uma reportagem sobre um caso de racismo no Rio de Janeiro. O conteúdo só foi interrompido seis minutos depois, à 1h17 da manhã, quando um flash do Jornal GloboNews entrou no ar por menos de dois minutos. Sem a entrada de repórteres, Narayanna Borges se limitou a anunciar o resultado da eleição.

A principal rede all-news do Brasil acabou furada até mesmo pelo BandNews TV, eterno lanterninha do gênero no quesito audiência: a emissora da Band, que cobria o pleito venezuelano desde o início do telejornal Madrugada BandNews, reportou o triunfo de Nicolás Maduro dois minutos depois da CNN Brasil, à 1h13. Na televisão aberta, beneficiada por uma transmissão simultânea do seu canal de notícias, a Band foi a primeira a dar a notícia — a emissora interrompeu O Melhor do Linha de Combate à 1h20 para exibir um Plantão comandado por Israel Goldenstein.

Mesmo com um telejornal ao vivo nas madrugadas, o SBT só informou aos seus telespectadores sobre o resultado da eleição venezuelana à 1h26 da manhã, minutos depois do início do SBT News na TV. O telejornal de Marcelo Casagrande, mesmo chegando atrasado, fez uma ampla cobertura da reeleição de Nicolás Maduro, contando com a participação especial do especialista em política internacional Uriã Fancelli, conhecido justamente por ser uma figurinha carimbada na programação dos canais de notícias brasileiros.

Foto da programação da GloboNews e da CNN Brasil
GloboNews exibia pesquisa desatualizada enquanto CNN transmitia discurso de Nicolás Maduro (foto: Reprodução/GloboNews e CNN Brasil)

Globo leva baile até na televisão aberta

Mesmo também contando com a vantagem de um canal de notícias 24 horas, a Globo levou quase uma hora para fazer uma inserção sobre o tema na televisão aberta. O público da emissora, que dedicou uma parte relevante do Fantástico ao noticiário sobre as eleições venezuelanas, só foi comunicado do resultado às 2h01, durante um boletim do Hora 1 exibido no intervalo do Cinemaço. No mesmo momento, a GloboNews seguia reapresentando o jornalístico exibido na noite anterior, desta vez anunciando um clipe musical que seria exibido com exclusividade no bloco seguinte.

Desligado da realidade, o canal de notícias da Globo exibiu ao seu assinante conteúdos desatualizados durante boa parte do momento culminante da eleição. À 1h43, por exemplo, a GloboNews reapresentava — sem nenhuma indicação de que se tratava de um conteúdo já exibido previamente, diferentemente do que fazem CNN Brasil e BandNews TV em situações semelhantes — uma reportagem do Fantástico com uma pesquisa eleitoral que apontava a vitória de Edmundo González por 72%. O resultado oficial da eleição, já divulgado naquele momento, foi bem diferente.

No momento em que a emissora que nunca desliga transmitia uma reportagem velha e desatualizada, CNN Brasil e BandNews TV estavam ao vivo com o discurso de vitória de Nicolás Maduro sendo traduzido simultaneamente para o português. O canal de notícias da Band encerrou sua cobertura e retomou o noticiário habitual às 2h. A CNN Brasil, por sua vez, também transmitiu a primeira declaração da oposição depois da derrota, além de um bloco de análise política comandado por Muriel Porfiro — a emissora ficou no ar, ininterruptamente, das 22h55 às 2h47.

A GloboNews, ainda isolada da realidade, continuou exibindo conteúdos velhos até às 2h43 da manhã, quando passou a exibir uma edição ao vivo do Jornal GloboNews. Narayanna Borges até trouxe o resultado das eleições, tal qual já havia feito no boletim exibido 90 minutos antes, mas não trouxe nada mais de novo: enquanto CNN e BandNews TV tinham especialistas e repórteres em Caracas, capital da Venezuela, o principal canal de notícias do Brasil reprisava, mais uma vez, as mesmas matérias do Fantástico, sem sequer cortar as pesquisas que não se concretizaram.

A má-vontade do canal que nunca desliga em cobrir a eleição de Nicolás Maduro tem um motivo simples: audiência. Imersa em uma das piores crises de público da história, a GloboNews voltou ao patamar que estava há quase uma década, quando a reapresentação do Fantástico figurava entre os cinco maiores ibopes da emissora. Os números prévios de audiência do Painel Nacional de Televisão, obtidos pela reportagem do TV Pop com fontes do mercado, indicam que a rede chegou a ter apenas 0,1 ponto em diversos momentos na faixa das 23h, atrás de todas as suas rivais.

Depois, com a reapresentação do que já foi ao ar na TV Globo, o jogo virou: a reprise do jornalístico de Maju Coutinho e Alex Escobar marcou pico de 0,6 ponto em sua primeira hora de exibição, quando ainda não havia uma confirmação do resultado eleitoral na Venezuela. O tiro da GloboNews, no entanto, saiu pela culatra: o telespectador interessado no noticiário da América Latina foi em busca de notícias nas concorrentes, abandonando a rebatida do Fantástico. Na faixa da 1h, por exemplo, a CNN Brasil chegou a liderar o ibope dos canais de notícias, com 0,2 ponto.

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