Historicamente, o Video Music Awards é uma das premiações mais importantes da indústria musical no mundo todo. A MTV investe muito na divulgação do VMA e se envolve, falando o mínimo, com dedicação nas performances do programa. A mídia americana e mundial sempre se prepara para cobrir a chegada dos artistas ao evento, com os figurinos mais excêntricos. Os fãs e observadores de música ficam atentos, à espera de momentos icônicos como várias outras performances executadas no palco da premiação.
A verdade é que o VMA deixou de ser um grande motivo de comoção e gira mais em torno de quem vai se apresentar, o que vão executar nas performances e quem vai desfilar looks insanos no red carpet. Para os fãs, é apenas uma das conquistas de seus ídolos e uma forma de participar ativamente através da votação em parte das categorias. Para a indústria, é uma forma dos artistas mostrarem ousadia, criatividade e versatilidade no palco montado pela MTV.
Basicamente, apesar de ter importância, tanto para os fãs quanto para os artistas, é como se o VMA tivesse se tornado só um palco mesmo, que a indústria utiliza para criar novos melhores momentos a cada ano, que vão gerar uma repercussão gigantesca na internet e acabar levantando ainda mais o alcance das músicas ou até salvando elas do completo fracasso. Os vencedores? Bem, isso acaba se tornando irrelevante. Irrelevante porque os critérios que a premiação estabelecia para se tornar uma versão jovem e antenada do Grammy nem existem assim mais.
Eu concordo muito que Doja Cat teve mais um ano excelente, principalmente pela colaboração com SZA em Kiss Me More. Mas, pela primeira vez, uma indicada ao maior prêmio da noite (Vídeo do Ano) também foi a apresentadora. Seria um grande problema? Particularmente, eu não vejo nenhum. Mas se assistimos a um Prêmio Multishow e temos a sensação de ser uma festa da firma, porque não podemos ter a mesma sensação com o prêmio da MTV norte-americana?
A raiz de todos esses problemas é que a MTV, não só no Brasil, mas no mundo inteiro, deixou de investir em programas especializados em música, falando sobre os mais diversos gêneros musicais e gerando conteúdo sobre o tema para que a discussão sobre música continue aquecida até chegar sua premiação que já foi alvo de cobiça e testemunha de momentos históricos da música que influenciam os artistas atuais.
Apesar de tudo isso, se falamos de momentos marcantes, o VMA 2021 proporcionou mais alguns deles e isso é mérito de artistas como Normani, Chlöe, Lil Nas X e, claro, Doja Cat. A apresentadora da edição deste ano provou mais uma vez que é um dos grandes novos nomes do mercado e com capacidade de exercitar múltiplos talentos, além de se apresentar com versões modificadas de suas músicas para deixar uma sensação refrescante. Lil Nas X foi o vencedor do prêmio de Vídeo do Ano e realmente o merecia. A performance combinada de Industry Baby e Montero (Call Me By Your Name) só confirma o merecimento e é um brinde à comunidade LGBT+ com espaço em ambientes antes inimagináveis.
Chlöe fez basicamente sua estreia solo no palco da premiação e tornou sua performance um dos momentos memoráveis da noite do último domingo. Have Mercy está sendo trabalhada por artista e equipe desde 1º de julho, através de um vídeo supostamente tímido postado nas redes que gerou challenges no TikTok e só estimulou ainda mais o lançamento da música, que tem um clipe ridículo de tão bom. Mas eu aposto que o grande momento da noite foi a aguardada performance de Wild Side, a nova aposta de Normani.
Normani sempre merece um capítulo à parte, mas como a maioria das coisas é somente boato e suposição, a gente se apega ao que é fato. Realmente foi muito estranho a confirmação da performance basicamente em cima da hora e após o clamor dos fãs. Mas no final das contas, ela entregou mais uma grande recordação após a brilhante performance de Motivation no VMA 2019, com uma homenagem à Janet Jackson no final, nos apresentando mais uma vez suas referências e motivações na carreira artística.
Além disso, o pop-punk teve seu momento de brilho com a performance de Good 4 U, de Olivia Rodrigo, que se segurou bem ao vivo por quase toda a apresentação, justificada pela empolgação natural. Justin Bieber, ao lado de Kid Laroi, entregaram a performance do mais novo hit do momento, Stay. Machine Gun Kelly também performou a primeira música de seu próximo álbum, mais uma vez em parceria com Travis Barker. O melhor de tudo foi ouvir essas músicas tocadas e cantadas ao vivo e com banda.
Para encerrar, a premiação ainda devia ter dado mais atenção à Cardi B, Megan Thee Stallion e à música coreana em geral, que tiveram um ano de destaque ou mais um deles. Por mais que tenham sido indicados, tenham ganhado alguns prêmios, o espaço dedicado não foi à altura. Talvez porque seus lançamentos não sejam tão frescos como boa parte dos outros indicados.
Menção honrosa: Quem esperou para ver Anitta, infelizmente não pôde assistir ao vivo por ser parte do comercial do Burger King, mas a cantora brasileira marcou presença na premiação. E, afinal, tem quantos artistas brasileiros fazendo uma ação com o BK assim nos Estados Unidos? O engajamento que a performance especial gerou pode fazer os olhinhos da MTV norte-americana brilharem e passarem a dar mais espaço pra nossa garota do Rio.
Gabriel Bueno é publicitário de formação, atua no mercado desde 2013 nas áreas de criação, mídia e produção. Viciado em acompanhar música, sempre disposto a comentar premiações, álbuns, videoclipes e tudo que envolve o meio musical. É o autor da coluna Decifrando, publicada no TV Pop semanalmente. Siga o colunista no Twitter: @GabrielGBueno_. Leia aqui o histórico do colunista no site.