No ar há menos de uma semana, o Times Brasil se consolidou como o mais problemático dos canais de notícias que operam no país. A mais nova empreitada de Douglas Tavolaro virou motivo de chacota entre suas concorrentes nos últimos dias, diante de uma enxurrada de falhas técnicas e despreparo de seus apresentadores, que escancaram diariamente não estarem similarizados com o noticiário de economia, principal foco da nova emissora. Tavolaro, por sua vez, se diz alvo de uma “máfia digital” e nega que a rede tenha sido anunciada como uma operação brasileira da CNBC.
Em um extenso comunicado disparado há alguns dias através da lista de transmissão de um aplicativo de mensagens instantâneas, o executivo culpa “o mercado” por toda a confusão relacionada ao nome do canal de notícias, e garante que o nome da emissora sempre foi Times Brasil Licenciado Exclusivo CNBC. No texto, ele faz uma comparação de sua nova empreitada com o regime das emissoras abertas brasileiras, que licenciam seu conteúdo para afiliadas espalhadas pelo país, e assegura que “nunca houve nenhuma mudança no formato do projeto anunciado ao país”.
O TV Pop, no entanto, teve acesso a uma série de documentos que apontam imprecisões no discurso verborrágico de Douglas Tavolaro. No primeiro semestre deste ano, emissários do jornalista enviaram para diversas agências de publicidade um livro de divulgação do modelo da emissora. A capa da publicação não deixa sequer margem para dúvidas: a marca Times Brasil não é utilizada, apenas o tradicional pavão da CNBC americana — sem a indicação de “exclusive licensee” que surgiu nas últimas semanas. Abaixo, surge um slogan: “a nova emissora de jornalismo do Brasil”.
Times Brasil não entregou promessas feitas ao mercado
A marca Times Brasil surge em poucas páginas do material publicitário, que dá amplo destaque para a logomarca da CNBC — em uma das páginas, o livro estampa a frase “agora no Brasil” com o pavão colorido logo ao lado, mas sem sinalização alguma de outro nome para a operação. Logo em seguida, a publicação promete “15 horas de programação ao vivo todos os dias”, algo que não se concretizou. Aos sábados, a rede terá apenas um telejornal, com 90 minutos de duração. Depois dele, entre 20h30 e 7h de segunda, serão exibidos apenas programas pré-gravados e enlatados.
Extraoficialmente, a emissora diz que exibirá flashes com notícias atualizadas de hora em hora aos finais de semana. Isso, no entanto, não consta na programação disponibilizada no site oficial do Times Brasil até o momento da publicação deste texto. O link no rodapé do portal, por sinal, redireciona o internauta para uma planilha hospedada em um ambiente externo. O arquivo tem vários erros de grafia, como “segunga-feira” ao invés de “segunda-feira”. Os erros de digitação, inclusive, tem sido frequentes também nas tarjas exibidas nos telejornais da rede desde a sua estreia.
Ao longo do livro, os autores usam e abusam de promessas e verborragias para engrandecer o projeto, apresentado como “mais que um canal de notícias”. Em uma página, aparece a promessa de um “visual disruptivo”, com uma “apresentação moderna que se destaca em todas as telas, oferecendo uma experiência visual única e envolvente”. O canal também dizia ter uma “alta capacidade gráfica”, com “produção sofisticada para elevar a qualidade do conteúdo e ampliar a interatividade com os espectadores”. Nada disso foi cumprido até aqui.
O Times Brasil (que na época ainda não havia contado ao mercado que não se chamaria CNBC) também estampou os projetos de seus futuros cenários. Os estúdios são, de fato, semelhantes com os anunciados pela empresa no início deste ano. As imagens do projeto, porém, acabam escancarando mais uma incongruência no discurso de Douglas Tavolaro: os modelos tinham a logomarca da CNBC estampada em paredes e bancadas. Na versão definitiva, que está no ar desde a noite de 17 de novembro, não há nem sinal do imponente pavão aonde ele teoricamente deveria estar.
Gambiarras e insatisfação: os bastidores dos primeiros dias
Para poder contar com o pavão em sua programação jornalística linear, o canal precisou apelar para uma espécie de gambiarra: ao lado da logomarca da CNBC está uma discreta seta, apontando para uma linha de manchetes rotativas na tarja dos telejornais — chamado de “crawl” e “ticker” na linguagem técnica. Aquelas notícias, de fato, pertencem ao canal americano, e estão disponíveis traduzidas no site do Times Brasil. A emissora, no entanto, conta com um número limitado de conteúdos por semana, fazendo com que as mesmas manchetes se repitam no ar durante dias.
Em suas últimas duas páginas, o material estampava com orgulho reportagens sobre “o canal que virou notícia”. Em nenhuma delas, mais uma vez, foi utilizada a identidade do Times Brasil, que foi mais uma vez escanteada para a entrada do pavão americano. No ar, a emissora também segue com digitais que indicam a mudança repentina de nome: um exemplo aparece no patrocínio do Jornal Times Brasil, inicialmente batizado como Jornal Times CNBC. A rede alterou a identidade visual da vinheta, mas se esqueceu de trocar a voz-off, que segue anunciando o nome antigo.
O TV Pop apurou ainda que vários dos profissionais contratados pelo Times Brasil achavam que dariam expediente em uma operação brasileira da CNBC, e não em um canal independente. Com a confusão, alguns dos funcionários da emissora já começaram a pedir demissão de seus cargos, algo pouco usual para uma empresa recém-lançada oficialmente. O clima nos bastidores, até aqui, tem sido de frustração quase generalizada. Muitos esperavam uma nova versão da faraônica CNN Brasil, mas se depararam com uma espécie de TV Colinas, antiga afiliada clandestina da rede.
Um lançamento, muitas contradições
A seguir, confira a íntegra da mensagem de Douglas Tavolaro sobre os problemas enfrentados pelos primeiros dias do Times Brasil Licenciado Exclusivo CNBC. O jornalista, por sinal, usa o pavão do canal americano até mesmo na capa de sua biografia — e não a identidade do Times Brasil. Também na capa da publicação, está a frase “os bastidores da fundação de duas marcas históricas do jornalismo mundial no Brasil”, sem nenhuma menção de que se tratava de uma emissora afiliada, e não de uma operação 100% nacional da CNBC, tal qual havia acontecido com a CNN.
O “Times Brasil, licenciado exclusivo CNBC” foi alvo de haters na internet desde o dia da estreia – confirmado por empresas de tecnologia –, o que gerou comentários nas redes sociais e matérias na imprensa. O foco, sem dúvida, foi tentar reduzir o impacto da estreia junto ao público e ao mercado.
– Mesmo com falhas técnicas, o novo canal de notícias levou ao ar um Programa de Estreia com um conteúdo de altíssima qualidade: entrevistas exclusivas com o ministro Fernando Haddad e embaixadores um dia antes do G-20; entrevista exclusiva com o presidente do STF falando sobre o atentado a bomba no prédio do Supremo; documentário inédito narrado pelo jornalista Carlos Nascimento sobre a história global da CNBC; várias reportagens exclusivas da CNBC Internacional, entre elas uma entrevista inédita com o presidente do Banco Central do Brasil. Tudo isso, com repercussão em grande parte da imprensa dando crédito ao canal em veículos como O Globo, Valor, Estadão, Folha de S.Paulo, entre outros.
– Esse nível de qualidade de jornalismo oferecido ao público pelo canal só vai aumentar, semana após semana, como ocorreu com todos os projetos implantados pelos executivos do canal com larga experiência e atuação no mercado.
Sobre as questões operacionais:
– O canal realmente enfrentou várias dificuldades operacionais na implantação inicial do projeto. Foram estreadas, ao mesmo tempo, 15 horas ao vivo de telejornalismo, toda produção Digital e a engenharia de transmissão da empresa – tamanha complexidade de operação que naturalmente gera imprevistos e erros no ar.
– Nos últimos dias, foram mobilizadas equipes extras de engenharia e operações e, pouco a pouco, os problemas estão sendo superados. Há uma grande equipe técnica de plantão, 24 horas, para fazer as correções necessárias. Em poucos dias, todas estas questões estarão superadas.
Sobre a questão do nome da empresa:
1- Nunca houve nenhuma mudança no formato do projeto anunciado ao país, como mostra o anúncio para o mercado divulgado, simultaneamente, pela empresa brasileira e pela CNBC dos EUA. O Times Brasil é um grupo de mídia, cem por cento brasileiro, criado segundo as regras da legislação brasileira para formação de empresas de jornalismo.
Segue o comunicado da CNBC em março deste ano: https://www.cnbc.com/2024/03/05/new-brazilian-media-group-times-brasil-to-launch-with-cnbc-content-.html.2- A empresa é licenciada exclusiva da CNBC no Brasil. Como a RBS com a Globo ou qualquer outra das parcerias internacionais. É resultado de um acordo inédito, jamais assinado em território brasileiro. É o primeiro contrato de parceria editorial no Brasil assinado pelo grupo NBCUniversal, controladora da CNBC. Trata-se de um amplo acordo de licenciamento, válido por vários e vários anos, com diversos comprometimentos de ambos os lados.
3- O canal se chama oficialmente “Times Brasil, licenciado exclusivo CNBC” mas, nos últimos meses, acabou sendo chamado pelo mercado por “nomes fantasias” como “Times CNBC”, “CNBC no Brasil”, “Times” ou mesmo somente “CNBC”. Não há nenhum erro nem problemas ou dificuldades com isso.
3- É óbvio que a empresa possui regras para o uso da marca e do conteúdo, como qualquer contrato de licenciamento nacional ou internacional prevê. Por isso, a empresa desenvolveu um projeto de layouts na TV, e em cada uma das mídias onde está presente, que contempla a utilização das duas marcas em conjunto (como já é possível ver no ar).
4- Nada disso diminui ou reduz o impacto no público do que está sendo assistido no canal. A audiência está recebendo o mesmo nível de qualidade de conteúdo e de inovações prometidas desde que o projeto foi anunciado:
. o canal está no ar com dezenas de reportagens diárias da CNBC produzidas ao redor do mundo, na TV e no digital. Serão centenas mensalmente e milhares a cada ano. Isso nunca aconteceu no Brasil. Essa produção toda se soma a mais centenas de horas de produção de jornalismo feita por brasileiros no Brasil, exclusivamente para o público brasileiro;
. a marca CNBC está presente em todas as telas do canal, em conjunto com o Times Brasil, seguindo as regras acordadas no contrato internacional e que segue padrões convencionais no mercado global de licenciamento;
. o canal entrará ao vivo com “breaking news”, em simultâneo, com a CNBC dos EUA ou com a CNBC Internacional, por horas seguidas, para notícias de última hora na TV e no digital;
. o canal poderá exibir reportagens ou documentários exclusivos produzidos pela rede CNBC e exibido em mais de 80 países;
. haverá um repórter brasileiro na redação da CNBC e um repórter estrangeiro da CNBC na sede do canal, em São Paulo, produzindo intercâmbio de notícias;
. o canal está submetido a um conjunto de regras editoriais para produção de jornalismo no Brasil, assinado em contrato com a CNBC dos Estados Unidos. Até mesmo a presidência do Conselho Editorial do Times Brasil não pode ser substituída sem a anuência da CNBC dos EUA, o que reforça o compromisso com a credibilidade e a qualidade editorial;
. o canal vai aprofundar cada vez mais a parceria e uso da marca CNBC em parcerias de jornalismo que ainda não foram anunciadas;
. há um processo de evolução para uso cada vez maior da marca CNBC ao longo do período do contrato no Brasil, o que permitirá ao canal explorar negócios em cursos financeiros, eventos, palestras e até investimentos em outras mídias.
5- Portanto, o foco do ataque dos haters foi tentar reduzir o impacto da estreia do canal no Brasil. É a primeira vez que a CNBC chega ao nosso país. É a primeira vez que uma empresa nacional é criada para levar o conteúdo exclusivo do maior canal de notícias de negócios do mundo para os brasileiros.
6- É a primeira vez que uma equipe de apresentadores, jornalistas e mais de 350 profissionais brasileiros, de altíssimo nível, são reunidos para fazer um emissora de notícias de negócios, 24 horas, com essa proposta de inovação de conteúdo.
7- Reforça essa entrega de qualidade, ainda, a formação de um elenco raro com nomes consagrados como Christiane Pelajo, Fabio Turci, Natalia Ariede, Marcelo Torres, Carol Barcellos, Walter Longo, Rafael Ihara, Rita Wu, Marcus Buaiz, Zeca Camargo, entre outros apresentadores e repórteres que serão contratados nos próximos meses, além de comentaristas e analistas reconhecidos em todo país.
8- Por fim, segue anexo o vídeo de Deep Bagchee, presidente da CNBC Internacional, celebrando a parceria no Brasil, gravado há duas semanas. Ele disse: “Estamos verdadeiramente entusiasmados em trazer a oferta única da CNBC para uma das maiores economias do mundo. O lançamento de hoje é reflexo de dedicação e paixão, e estamos orgulhosos da nossa parceria. Reconhecemos a importância de apresentar a história dos negócios globais com relevância local, e é através de parcerias como esta que ajudamos a moldar a experiência para o público ao redor do mundo. Parabéns ao Brasil”.