No ar com papel em Tieta (1989), Paulo Betti defendeu que as novelas deveriam abordar mais questões políticas. O período foi marcado pelas primeiras eleições diretas no Brasil depois de 25 anos de regime militar, resultando na eleição de Fernando Collor.
Embora a trama não tratasse diretamente da redemocratização, o autor Aguinaldo Silva inseriu metáforas sobre a liberdade de expressão. Paulo Betti relembrou que os bastidores de Tieta eram repletos de debates políticos. “Uma novela, mesmo que não se passe no momento em que ela está acontecendo, vive muito da pulsação do bastidor, do camarim. E o nosso camarim de Tieta era altamente politizado. Armando Bógus, Paulo José, Yoná Magalhães, Betty Faria, Joana Fomm, José Mayer”, contou.
Durante as eleições de 1989, Paulo Betti apoiava abertamente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que concorria contra Collor. Ele sentia uma conexão com Lula, uma vez que ambos tinham experiências em fábricas. “Você vê a minha família, minhas irmãs, trabalhando na fábrica. O Lula era o cara que trabalhava na fábrica. Eu sabia o que era o torno, o que era um serrote, um martelo, uma plena, uma chave de fenda. Eu estava organicamente empenhado na vitória do Lula”, disse o ator em conversa com a Folha de S.Paulo.
O ator de Tieta lamentou a ausência de debates políticos nas novelas atuais, sugerindo que a televisão deveria refletir mais a realidade do país. “A TV brasileira devia falar mais próximo da realidade. Por exemplo, assistindo a uma novela das nove, você não tem um momento em que alguém no bar tá discutindo política, mencionando Lula, Bolsonaro ou [Arthur] Lira. Seria interessante se houvesse a citação nominal de personagens”, detalhou.