De todas as tarefas do mundo da música, se tornar um de seus maiores nomes é das mais difíceis, principalmente por causa de todas as variáveis que envolvem essa busca. Além disso, estabelecer novos padrões e mostrar que ainda é possível vender vários milhões de cópias de seus discos mesmo quando a indústria se aprofunda no consumo digital a cada ano é uma conquista ousada. Passar de um nome requisitado para uma inspiração é exatamente o que define o sucesso da jornada de vários ícones da música.
Adele é, inegavelmente, o retrato disso tudo. Mesmo com músicas que poderiam ser enfadonhas, a cantora britânica causa os mais diversos tipos de sensações com seu trabalho, o que causa aquela identificação do público com aquilo que ela escreve e canta. A simplicidade de seus projetos poderia ser um sinal de desleixo, mas é somente uma sintonia com o que ela realmente parece sentir e ser, no seu sofrimento e na sua risada mais frouxa.
Esse tipo de comoção ultrapassa o público e causa muita confusão nas estratégias musicais. Muitos artistas evitam o embate direto para alcançar números melhores, adiam lançamentos para suas chances em premiações serem maiores e até tentam comparações para valorizar seus passes. Mas na verdade é que tudo de Adele flui naturalmente porque ela sabe separar bem sua exposição nas músicas e clipes da sua vida extremamente reservada, causando um certo mistério que é até charmoso.
Com Easy on Me, primeira música inédita após seis anos, a cantora aposta no de sempre, mas certeiro. A música acerta em cheio nas emoções de alguém que tem experienciado a maternidade e os altos e baixos de um casamento que acabou chegando ao fim, o que torna o título de seu novo álbum, mesmo seguindo um padrão, ainda mais necessário. Adele já havia dito que o 25 provavelmente seria seu último álbum acompanhado de sua idade na concepção do projeto, pois acreditava em trilogias. Mas a discografia da cantora não é nada mais que uma oportunidade do público de acompanhar sua jornada e seu crescimento como mulher.
O clipe é dirigido por Xavier Dolan, premiado diretor de cinema, com quem a cantora já havia trabalhado em Hello, servindo quase como uma sequência do clipe dessa. Trazendo referências diretas a sua carreira, o clipe passa de preto e branco para colorido, como um símbolo de que esse é um novo momento para a britânica, tanto pessoalmente quanto profissionalmente. Sua imagem não é mais a mesma de quando tinha 19 anos e produzia seu primeiro álbum. Isso não só fisicamente, apesar de realmente ser a mudança mais visível. Ela realmente é uma mulher forte em sua carreira e em sua vida e parece que quer ser cada vez mais forte.
Mesmo com o tempo passando rápido e ela querendo demarcá-lo a cada álbum, Adele se dispõe a ser aquilo que ela consegue ser, o que já é muita coisa. Ao lado de outros bastiões da cultura mundial, seu trabalho é extremamente necessário para entender onde a música pretende chegar com tanta sinceridade de seus compositores e intérpretes. Se o tempo pode dizer alguma coisa, ele tem dito que a música e a vida de Adele vão continuar servindo de inspiração.
Gabriel Bueno é publicitário de formação, atua no mercado desde 2013 nas áreas de criação, mídia e produção. Viciado em acompanhar música, sempre disposto a comentar premiações, álbuns, videoclipes e tudo que envolve o meio musical. É o autor da coluna Decifrando, publicada no TV Pop semanalmente. Siga o colunista no Twitter: @GabrielGBueno_. Leia aqui o histórico do colunista no site.