A Band começou nesta terça-feira (21) um processo de remodelação das suas regionais. Disposta a incrementar os resultados financeiros e de audiência de suas filiadas, a empresa encomendou uma auditoria independente para avaliar os resultados das suas emissoras. O procedimento, corriqueiro em grandes empresas, apontou uma série de irregularidades nos balanços financeiros do canal em Curitiba, em que a Bandeirantes opera em sociedade com o Grupo JMalucelli — o primeiro é dono de 55% do canal 2.1 da capital do Paraná, enquanto o segundo tem 45% das quotas.
O TV Pop apurou que a auditoria descobriu que as contas bancárias da emissora chegaram ao final de 2024 com menos do que realmente foi arrecadado ao longo do ano. O principal desfalque envolve os valores relacionados ao projeto Verão Maior Paraná, evento anual organizado pelo Governo do Paraná. Diferentemente deste ano, em que o festival musical também é exibido no SBT, a edição anterior era transmitida em rede nacional apenas pela Band, nas noites de sexta-feira. Em Curitiba, compactos das apresentações também eram exibidos em outros dias da semana.
A cobertura veranesca é historicamente responsável por um incremento significativo no faturamento das principais redes de televisão, mesmo quando considerados canais que não retransmitem o festival musical. Além dos shows de artistas de relevância nacional, o Verão Maior Paraná também promove uma série de eventos esportivos e de lazer nas praias do estado, com divulgação em praticamente todos os canais de televisão aberta. Internamente, comenta-se que o evento é responsável por mais de dois terços do faturamento da Band Paraná no primeiro trimestre do ano.
Diante dos problemas constatados pela auditoria, a Band promoveu uma série de demissões na cúpula de sua filial paranaense — o Governo do Paraná, vale salientar, não tem envolvimento com o caso citado, mantendo apenas uma relação comercial com a rede, assim como tem com todos os outros canais. Amado Osman, que estava há mais de uma década na companhia, trabalhando como diretor-geral e interlocutor do JMalucelli com a Bandeirantes, foi um dos dispensados nesta terça, assim como toda a sua equipe — nem mesmo a secretária do executivo foi poupada.
Ele será substituído por Ricardo Massara, ex-diretor da operação televisiva do Grupo Paulo Pimentel, a atual Rede Massa. Remanejado para a Band Paraná há menos de um ano, Douglas Santucci também foi dispensado pela emissora: mais conhecido por seu trabalho como repórter especial e apresentador eventual do Jornal da Band, em rede nacional, ele era diretor de Programação da filial curitibana da rede. O jornalista estava na empresa desde 2010, e chegou a atuar como diretor-executivo de rede em São Paulo, cidade em que apresentou o telejornal Band Notícias.
A Band Paraná, inclusive, passará a ter auditores permanentente em seus setores chave, como nas áreas financeira e comercial. O TV Pop procurou Douglas Santucci e questionou sua saída e a auditoria feita pela Band. “Não soube nada sobre a auditoria, não fui informado. Apenas confirmo meu desligamento por reestruturação interna”, informou o jornalista. Também procurado pela reportagem, Amado Osman enviou a seguinte nota depois da publicação do texto:
Ocupo o cargo de diretor geral da Televisão Bandeirantes do Paraná desde 2016, neste longo período jamais cometi qualquer ato que desabone minha conduta. Com relação ao suposto “desfalque financeiro”, que tomo conhecimento neste momento através do TV Pop, nego de forma veemente. Me coloco a disposição para qualquer esclarecimento.
Depois da repercussão desta reportagem, a assessoria de comunicação da Band se manifestou sobre as demissões. “A Band informa que a iniciativa de promover mudanças na afiliada do Paraná foi uma decisão interna e natural dentro da rotina da emissora e não tem relação com a condução de projetos com o setor privado ou qualquer esfera de governo. A reestruturação faz parte das constantes melhorias que o Grupo Bandeirantes realiza para aprimorar a performance de suas afiliadas”, justificou a emissora.