Os cortes na CNN Brasil não estão restritos aos profissionais conhecidos do público. A direção do canal aproveitou o feriadão para fazer uma demissão em massa na área digital da companhia, que até então era responsável pela administração do portal de notícias da empresa e pela edição de conteúdos para as redes sociais, como o boletim Cinco Fatos e podcasts relacionados aos programas transmitidos na televisão. O TV Pop apurou que a emissora planeja poupar cerca de R$ 150 mil mensais com o passaralho — 22 profissionais foram demitidos entre quinta (28) e sexta-feira (29), e mais demissões estão previstas para acontecer nos próximos dias em outros departamentos.
Nas últimas semanas, a rede já havia iniciado cortes em seu departamento operacional. O setor, em boa parte terceirizado para a Casablanca e para a Paris Filmes, já tinha um número reduzido de profissionais efetivamente contratados pela CNN Brasil: a maioria dos nomes que respondiam diretamente ao canal eram gerentes e diretores, enquanto cargos inferiores trabalhavam para outras empresas e só prestavam serviços para a emissora. No entanto, nem mesmo os cargos de chefia tem sido poupados. Desde o início de outubro, há uma média de cinco cortes por semana na divisão.
Em comum entre os dois setores, há uma folha salarial inflada pela antiga gestão da empresa. A maioria dos profissionais que estão sendo desligados foram contratados por Douglas Tavolaro, que deixou o comando da CNN Brasil em março deste ano, e tinham vencimentos acima da média praticada pelo mercado. Renata Afonso, que assumiu a presidência da emissora no mês seguinte, tem tentado implantar uma folha de pagamentos mais próxima da realidade econômica do mercado audiovisual, em linha com valores praticados por outras empresas de comunicação.
A reportagem apurou que o canal deve poupar R$ 24 milhões anuais depois que os cortes já tiverem sido feitos em todos os setores. Além do braço digital e do setor operacional, demissões devem acontecer também entre apresentadores (nomes com baixo rendimento de audiência e comercial já estão na mira da emissora), repórteres e até mesmo no departamento Comercial, que tem tido dificuldades para comercializar os telejornais diários da rede, tendo maior êxito em projetos especiais e na recém-criada linha de produtos de entretenimento, exibidos no final do horário nobre.
Nos primeiros dias do feriado, já foi possível notar uma modificação no portal de notícias da CNN Brasil. O TV Pop acompanhou o site durante todo o domingo (31) e constatou uma diminuição no número de conteúdos publicados, além de ter visto um acúmulo de funções entre os autores dos textos publicados ao decorrer do dia. A maior parte das reportagens foram feitas por repórteres que também atuam na televisão, e não mais por redatores exclusivos para a internet. Em alguns casos, até mesmo um editor-executivo da emissora aparecia como responsável pelas matérias, algo extremamente raro até então.
A reportagem entrou em contato com o canal de notícias, que afirma que o movimento faz parte de um “projeto de reestruturação” feito para oferecer o “melhor conteúdo e a melhor experiência” para o público. A seguir, leia a íntegra do posicionamento da CNN Brasil sobre as mudanças promovidas no início do feriado:
A CNN Brasil esclarece que está reestruturando sua área digital e investindo em colaboradores, recursos, tecnologia e fornecedores, sempre buscando oferecer o melhor conteúdo e a melhor experiencia para a nossa audiência.
Horas depois da publicação deste texto, durante a tarde de segunda-feira (1º), a assessoria da CNN Brasil entrou em contato para retificar a posição enviada para a reportagem na noite de sexta (28). Em seu novo posicionamento, o canal de notícias diz que não foram 22, e sim “18 vagas terceirizadas” para que as vagas passassem a ser diretamente geradas pela emissora, e nega que os demitidos eram responsáveis pela administração do portal de notícias. Confira:
A CNN Brasil informa que não fez e nem pretende realizar nenhum corte de pessoal. Ao contrário, a empresa está investindo ainda mais recursos para manter e melhorar seu padrão de qualidade.
Na área digital, a CNN Brasil está contratando e não demitindo. A partir do encerramento do contrato com uma de suas fornecedoras, a CNN decidiu substituir as 18 vagas terceirizadas pela contratação direta de novos profissionais. Além de preencher todos esses cargos, a CNN deve aumentar o quadro de 18 para 22 pessoas nesse setor específico. As contratações, aliás, já estão em andamento.
Também é importante esclarecer que a empresa prestadora de serviços nessa área nunca cuidou da administração do portal. Suas atividades eram operacionais e envolviam a prestação de serviços na parte artística e visual do site. A administração e estratégia do portal sempre foram de responsabilidade dos diretores da CNN Brasil.
Cabe ressaltar que a empresa segue investindo cada vez mais e melhor em colaboradores, recursos e fornecedores. Só nos últimos meses, foram feitos investimentos importantes na criação de seis novos programas, lançamentos de três novas marcas e duas editorias, ampliação das coberturas internacionais e a contratação de um VP de Novos Negócios.
Na sexta-feira, a reportagem do TV Pop foi clara e explícita no questionamento enviado aos assessores do canal de notícias. Em e-mail enviado às 11h38, comunicamos que “recebemos a informação de que houve um passaralho no departamento digital, em que 22 pessoas teriam sido dispensadas após a rede rescindir o contrato com a agência terceirizada que cuidava de boa parte do portal”, e pedimos para que a empresa confirmasse a notícia e se manifestasse sobre o assunto, caso desejasse.
Horas depois, às 20h29, a assessoria enviou a nota que foi reproduzida integralmente pela reportagem, que não negava o número de demissões, tampouco que os profissionais demitidos teriam envolvimento na administração do portal de notícias da CNN Brasil. Portanto, causa espanto a mudança repentina de posicionamento após a repercussão da notícia, publicada originalmente na manhã desta segunda-feira.
O TV Pop, prezando pelo contraditório e seguindo os preceitos do bom Jornalismo, optou por publicar também o novo posicionamento da assessoria de imprensa da CNN Brasil. No entanto, a reportagem mantém todas as informações publicadas no texto e, mais uma vez, manifesta seu estranhamento quanto ao novo comunicado, sendo que as todas as informações contidas no texto foram enviadas ao canal de notícias antes da publicação da matéria — e, em momento algum, houve alguma negativa sobre o assunto. Em sua nova nota, por sinal, o canal se apega aos cortes no digital e esquece de abordar as demissões na área operacional, que também foram abordadas pelo texto.