A Globo foi condenada a pagar R$ 500 mil à atriz Roberta Rodrigues por danos morais, após decisão judicial que reconheceu assédio moral e racismo nos bastidores da novela Nos Tempos do Imperador (2021). A artista, que interpretou Lupita na trama, processou a emissora alegando ter sido submetida a tratamento discriminatório, junto com Cinnara Leal (Justina) e Dani Ornellas (Candida). Segundo elas, o diretor Vinicius Coimbra fazia distinção entre artistas negros e brancos, criando um ambiente de trabalho hostil para parte do elenco.
O que você precisa saber?
- Globo foi condenada a pagar R$ 500 mil a Roberta Rodrigues por racismo e assédio moral.
- Diretor Vinicius Coimbra foi acusado de discriminar atores negros nos bastidores de Nos Tempos do Imperador.
- Atores negros foram escalados para gravar durante a crise sanitária, enquanto elenco branco foi poupado.
- Roberta Rodrigues pediu R$ 10 milhões, mas recebeu apenas 5% do valor na sentença.
- A emissora negou as acusações e apontou que a atriz voltou a trabalhar na empresa.
Conforme a coluna de Monica Bergamo, da Folha de S.Paulo, a juíza Aline Gomes Siqueira, do Tribunal Regional do Trabalho da 1ª Região, considerou que a Globo permitiu práticas de assédio moral e racismo institucional. A magistrada determinou o pagamento da indenização, mas a decisão ainda cabe recurso. A defesa da atriz argumentou que os danos foram severos, mas a Justiça fixou um valor bem abaixo do que a artista pedia originalmente no processo.
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Roberta Rodrigues havia solicitado o pagamento de R$ 10 milhões em indenização pelos prejuízos emocionais e psicológicos que teria sofrido durante as gravações da novela. No entanto, a Justiça determinou que a emissora pagasse apenas 5% desse valor, o que corresponde a R$ 500 mil. Apesar da decisão favorável, a indenização ficou bem abaixo do esperado pela artista, que afirmou ter vivido situações abusivas nos estúdios da emissora.
No processo, Roberta relatou que o ambiente de trabalho tóxico afetou diretamente sua saúde mental, provocando um quadro de burnout. A atriz precisou se afastar das gravações por cerca de três meses para cuidar da saúde. O episódio também impactou sua carreira, levando-a a considerar a desistência da profissão. Apenas após receber um convite para atuar nas séries A Divisão e Veronika, produções do Globoplay, ela reconsiderou sua decisão e retomou os trabalhos.
Em 2022, o site Notícias da TV publicou que os atores negros de Nos Tempos do Imperador foram escalados para gravar cenas durante o pico de casos de crise sanitária causada pelo vírus da infecção respiratória, enquanto os artistas brancos, como Selton Mello, Mariana Ximenes e Leticia Sabatella, foram poupados da exposição ao vírus. A denúncia reforçou as alegações de que havia distinção no tratamento dado aos profissionais nos bastidores da produção da Globo.
“Em um dado momento, Vinicius gritou no estúdio: ‘O elenco vem comigo, os pretos ficam’. Na frente de várias pessoas. Quando alguns artistas pretos foram questioná-lo sobre essas falas, ele reagiu dizendo: ‘Vocês deveriam agradecer de estarem aqui'”, disse uma fonte ligada ao elenco. Além do tratamento diferenciado, havia críticas ao conteúdo da novela. O texto foi classificado como racista em algumas passagens e acusado de romantizar a escravidão. A repercussão negativa fez com que a Globo contratasse consultores para revisar os roteiros e apontar falhas na abordagem histórica da trama.
Globo negou acusações de racismo
A Globo negou todas as acusações, alegando que não houve segregação ou discriminação entre os atores. A emissora também destacou que Roberta Rodrigues voltou a trabalhar na empresa depois de Nos Tempos do Imperador, o que indicaria uma relação profissional normal entre as partes. Apesar da condenação, a Globo afirmou que não comenta casos sub judice.
Mesmo com o posicionamento oficial da emissora, Vinicius Coimbra foi afastado das funções após as denúncias virem a público e, dois anos depois, foi demitido. O diretor afirmou que foi informado que sua saída ocorreu por acusações de assédio moral. Na época, em resposta à imprensa, a Globo declarou que não tolera qualquer forma de preconceito e que aprimorou seus processos internos para evitar situações semelhantes.
“Em relação à novela Nos Tempos do Imperador, a empresa acredita que poderia ter adotado precauções extras para abordar a temática racial, nas diversas dimensões que a produção exigia. Nesse sentido, foram identificadas oportunidades de aperfeiçoar nossos processos internos para tratar adequadamente esta e outras temáticas sensíveis, garantindo que sua abordagem contribua para o avanço no caminho da diversidade, preservando a sensibilidade do público e de nossos colaboradores”, informou a Globo em nota.