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Globo, Record e SBT são vítimas de estelionatário; entenda a situação

Marcão do Povo fazia merchandising da Tráfego Automóveis no Primeiro Impacto (foto: Reprodução/SBT)
Marcão do Povo fazia merchandising da Tráfego Automóveis no Primeiro Impacto (foto: Reprodução/SBT)

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Os telespectadores da Globo, Record e do SBT foram bombardeados nas últimas semanas com uma enxurrada de propagandas de uma empresa chamada Tráfego Automóveis, que prometia fazer empréstimos até mesmo para pessoas com nome sujo nos órgãos de proteção ao crédito, propondo “financiamentos sem burocracia” aos interessados em adquirir os serviços. Até aí, ok: a Crefisa, uma das maiores anunciantes do país e patrocinadora do Palmeiras, também oferece isso. O problema é que a suposta companhia simplesmente não existe e conseguiu adquirir espaços publicitários nas três principais redes de televisão do país.

Nos últimos dias, a reportagem do TV Pop recebeu uma série de denúncias de telespectadores que caíram no golpe do financiamento. Apesar do visível amadorismo do site da empresa, que ainda estava no ar quando este texto foi publicado, boa parte do público acreditou na sedutora proposta de mudar de vida justamente pelos comerciais exibidos na programação das emissoras líderes de audiência. No SBT, a Tráfego Automóveis chegou a ter ações de merchandising testemunhal na edição nacional do Primeiro Impacto, comandada por Marcão do Povo.

Na publicidade, que teve a sua veiculação suspensa na quarta-feira (10), Marcão convidava o público do noticiário a conhecer os serviços da companhia e pedia para que os telespectadores ligassem para o número de 0800 ou enviassem mensagens para o número de WhatsApp da empresa, que ficava de forma fixa na tarja do telejornal durante todo o merchan. Ou seja: a marca, de certa forma, conseguiu ser beneficiada pela popularidade que o âncora tem com o público. O telespectador tende a intrepretar as ações testemunhais como um endosso, sem saber que na imensa maioria das vezes, o apresentador sequer conhece aquele produto — provavelmente, era o caso do titular do noticiário matinal da emissora de Silvio Santos.

E foi justamente o depoimento dado por Marcão do Povo que fez com que o cinegrafista Vagner R., que trabalha na ESPN Brasil, acreditasse na proposta de empréstimo feita pela Tráfego Automóveis. Ele relatou que o “apresentador fez comercial de empresa que estava fazendo empréstimo para negativados” e afirmou que ligou para o número de telefone fornecido pelo Primeiro Impacto. “Não imaginava que um comercial veiculado por um canal de televisão do porte do SBT iria me causar prejuízo tão grande”, lamentou ele.

“No número, a pessoa que falava comigo disse que o meu crédito foi aprovado, mas que teria que dar 3% do valor de entrada. Parei de pagar contas em casa, nem comida comprei mais para juntar os 3% e conseguir pegar o empréstimo. Fui até a lotérica e fiz o depósito na conta que me passaram, sem perceber que era uma conta física. Só aí que percebi que estava caindo em um golpe: depois que fiz o depósito de R$ 1050, o crédito não caiu em minha conta”, contou o cinegrafista.

“Quando chamei a pessoa novamente, dizendo que não caiu o valor na minha conta, ela disse que a seguradora havia bloqueado e exigiu que eu depositasse 10% para desbloquear o crédito. Como eu depositei apenas 3%, tive que correr atrás do restante, acreditando que finalmente teria o valor total. Fui atrás até de agiotas, mas não consegui o valor. Quando comecei a chamar colegas de TV, a minha ficha caiu. O pessoal puxou de onde era a agência que eu fiz o depósito: uma conta de Minas Gerais no nome de um suposto presidiário. Estou arrasado. Isso comprometeu toda a minha família, e eu só pensava em dar o meu melhor e organizar as minhas contas”, concluiu Vagner.

Marcão do Povo, logicamente, não foi o culpado pelo profissional não ter recebido o tão sonhado empréstimo. Ele apenas foi contratado, por intermédio do departamento Comercial do SBT, para fazer a campanha publicitária contratada pela Tráfego Automóveis, que também comprou espaços nos intervalos comerciais de programas da Globo e da Record em seus sinais de rede nacional, transmitidos pelas parabólicas. O TV Pop apurou que a empresa procurou as emissoras utilizando o CNPJ de outra companhia de venda de carros, que tem sede em São Paulo.

Munido de toda a documentação da empresa, que terá o seu nome preservado pela reportagem, o golpista conseguiu adquirir espaços na programação das três redes. Ao ser questionado pelos executivos de uma das emissoras sobre a divergência do nome apresentado nos comerciais com o que a empresa realmente atua, o homem afirmou que a companhia iria mudar de nome fantasia, e que a campanha publicitária na televisão era apenas o primeiro passo do novo posicionamento da marca. Sem motivos para duvidar, já que a documentação era verídica, as redes de televisão acabaram fechando negócio — e, no caso de duas das envolvidas, o pagamento total não foi exigido imediatamente.

Para o pagamento das demais parcelas, o estelionatário enviou os dados de cobrança da verdadeira empresa, que descobriu o golpe apenas ao ser procurada por uma das emissoras na terça-feira (9). A companhia procurou a rede de televisão e informou que nunca havia feito compra de mídia em quaisquer veículos de comunicação, e que desconhecia o motivo de estar recebendo aquela cobrança. Foi a deixa para que o departamento Comercial das três redes começasse a apurar qual era o problema, e suspendesse imediatamente a veiculação de qualquer conteúdo da Tráfego Automóveis.

A reportagem do TV Pop sabe que a Globo e a Record já registraram um Boletim de Ocorrência contra o homem que procurou as emissoras para adquirir o espaço nos intervalos comerciais, e a tendência é de que ambas entrem com uma ação judicial nos próximos dias, até para poderem se blindar de maneira mais eficiente de eventuais telespectadores revoltados. O SBT, por sua vez, decidiu promover uma reavaliação em todos os seus contratos para evitar que episódios semelhantes se repitam — em 2013, a rede de Silvio Santos se envolveu em um episódio parecido com a Neon Eletro. Além disso, o departamento Jurídico do canal decidiu se posicionar sobre o assunto.

“Foi com grande surpresa que o SBT recebeu a denúncia sobre esse anunciante, pois a campanha publicitária estava sendo veiculada também em outros canais de televisão aberta. Tão logo verificada a situação irregular, o SBT suspendeu a publicidade desse anunciante, e como também vítima dessa situação, tomará as medidas judiciais cabíveis e necessárias”, afirmou o setor, por meio de um comunicado enviado para o TV Pop na noite desta sexta-feira (12).

A reportagem também tentou entrar em contato com todos os meios de comunicação divulgados pela Tráfego Automóveis em suas campanhas publicitárias. O número de 0800 e os telefones de WhatsApp apresentados nas propagandas e no site da empresa já não funcionam: as chamadas sequer são completadas. “O cara deu perdido na gente e simplesmente sumiu, lesando a nós e aos telespectadores”, afirmou um executivo de uma das emissoras envolvidas, que pediu para ter a sua identidade preservada.

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