A falta de preparo e estrutura da Jovem Pan para ter um canal de notícias 24 horas está cada vez mais explícita. Além das incontáveis falhas técnicas, que não raramente chegam a tirar a emissora do ar durante vários minutos, a empresa tem apelado até mesmo para atrações produzidas há mais de um ano para preencher a sua programação. No final de semana, marcado pela cobertura dos desdobramentos sobre o acidente aéreo que vitimou Marília Mendonça, a rede chegou a transmitir programas feitos há 13 meses, quando operava apenas na rádio e em plataformas digitais.
O noticiário sobre a tragédia aérea, por sinal, escancarou que a empresa da família Carvalho não tem condições técnicas de atuar na cobertura de temas de última hora. Enquanto os demais canais de notícias cobriam o desenrolar da queda do avião na sexta-feira (5), a Jovem Pan News insistia em manter suas pautas habituais, com um enfadonho debate sobre o uso de cloroquina. Depois de ver a gravidade do assunto, quando até redes de televisão aberta já estavam no tema, a emissora finalmente derrubou o noticiário do dia e tentou se arriscar falando sobre a tragédia — o resultado, porém, foi algo próximo do amadorismo, com quase nenhuma imagem do local do acidente e informações sendo dadas muito depois das rivais.
Com o vexame de sexta-feira, o canal preparou uma grande mobilização para não passar tanta vergonha no sábado (6). A empresa enviou boa parte dos repórteres que atuam no Distrito Federal e em São Paulo para Goiás e Minas Gerais, em uma tentativa de ao menos estar presente no lugar em que tudo estava acontecendo — mas acabou se esquecendo de convocar substitutos para ocupar os postos dos enviados especiais, fato que deixou os telejornais da emissora beirando o enfadonho durante o final de semana, girando quase que exclusivamente em torno de Marília Mendonça.
Por sinal, o esforço em modificar a escala de repórteres para a cobertura não se repetiu entre os apresentadores. Durante todo o final de semana, todos os telejornais da Jovem Pan News contaram com apenas quatro âncoras — no sábado, o Jornal da Manhã foi encerrado depois do meio-dia, justamente por não haver substitutos para Adriana Reid e Thiago Uberreich, que enfrentaram quase sete horas ao vivo, com poucos intervalos comerciais. Depois, das 13h às 21h, foi a vez dos repórteres Maicon Mendes e Elisângela Carreira serem transformados em âncoras. No domingo, a escala foi a mesma: a emissora passou todo o final de semana com apenas quatro apresentadores.
Reprises não sinalizadas
Completamente despreparada para atuar em temas que fujam do espectro da cobertura política, a Jovem Pan sequer tinha conteúdos frios para preencher os horários de sua grade de programação no sábado e no domingo. Depois de encerrar o seu último telejornal ao vivo, às 20h59 de sábado, o canal de notícias passou a exibir uma série de programas que nada tinham a ver com o noticiário do dia — como um talk show de Antonia Fontenelle entrevistando Vampeta, com incontáveis piadas de teor sexual, e um rabino próximo ao apresentador Silvio Santos.
O programa de entrevistas da ex-mulher de Marcos Paulo até poderia ser o conteúdo mais absurdo levado ao ar pela Jovem Pan News no final de semana, mas o canal de notícias se esforçou para passar mais vergonha. Ainda no sábado, a emissora transmitiu em pleno horário nobre uma reapresentação do Direto ao Ponto de 5 de outubro de 2020, em que Augusto Nunes e uma bancada de convidados entrevistavam Wilson Witzel, ex-governador do Rio de Janeiro — e sem nenhum aviso aos telespectadores de que se tratava de um conteúdo tão antigo.
A versão genérica do Roda Viva voltou a dar as caras na programação dominical do canal, e com uma reprise ainda mais antiga: novamente em horário nobre, a rede exibiu uma edição da atração com a participação do vice-presidente Hamilton Mourão. O conteúdo, de tão antigo e datado, dizia ao público que Roberto Cabrini ainda trabalhava no SBT — ele foi demitido pela emissora em 21 de setembro de 2020, exatamente uma semana antes da exibição original do Direto ao Ponto, em 28 de setembro.
O público, evidentemente, não perdoou o amadorismo da família Carvalho. De acordo com levantamento obtido pelo TV Pop, a Jovem Pan News ocupou o último lugar de ibope entre os canais de notícias no sábado: a emissora foi assistida por 27.202 pessoas por minuto entre 7h e meia-noite, segundo dados consolidados do Painel Nacional de Televisão. A GloboNews teve onze vezes mais público e liderou o gênero, com sintonia média de 299.292 telespectadores, seguida por 143.202 da Record News, 81.625 da CNN Brasil e 54.416 da BandNews TV.