Juliana Caldas, atriz que se destacou em 2017 na novela O Outro Lado do Paraíso – como Estela, filha que não era aceita pela mãe, Sophia (Marieta Severo), por ser anã -, usou as redes sociais para dar seu posicionamento sobre a forma em que uma pessoa PcD (Pessoa Com Deficiência), é abordada no filme Amor Sem Medida, da Netflix, protagonizado por Leandro Hassum e Juliana Paes.
“Vou dar a minha opinião sobre um filme que está na Netflix, um filme brasileiro que aborda o tema nanismo. Nossa, bacana! Só que não… Bom, enfim, o filme é do Leandro Hassum, chama Amor sem Medida e… Se a gente parar para pensar… A gente fala tanto hoje em dia da representatividade, da importância da representatividade no mundo, na diversidade e etc. Só que vou dar a minha opinião, estou aqui dando minha opinião tanto como pessoa Juliana e como artista Juliana”, começou ela.
A atriz contou que não se sentiu representada com a produção. “Primeiro porque a pessoa que faz o personagem que tem nanismo… o ator não tem nanismo, que é o próprio Leandro Hassum. Eles fizeram computação gráfica, diminuiram [o Hassum] em computação gráfica, essas coisas, para mostrar que ele tem baixa estatura. E a maior parte do filme tem piadas totalmente capacitistas, totalmente preconceituosas e que não dá para aceitar hoje em dia. Se fossem piadas racistas, homofóbicas, gordofóbicas, eu acredito que talvez esse assunto estaria sendo levado mais a sério”, declarou.
Juliana Caldas desabafou sobre a forma preconceituosa com que o nanismo é abordado no audiovisual. “O filme é de humor… Quando a gente fala sobre o nanismo, a maior parte das vezes é nessa forma de piada e totalmente capacitista e preconceituosa. E não dá assim. Não dá mais para aceitar hoje mais um filme que faz você sentar e rir disso, rir dos outros, rir da condição do outro, sabe? No caso da deficiência do nanismo. O nanismo é considerado uma deficiência. Aí você rir disso hoje em dia não dá mais para aceitar. Eu não consigo, queria entender, realmente, se as pessoas sabem o que significa empatia. Porque eu, às vezes, vejo cada vez mais, que as pessoas não sabem. Na verdade, sabem o que é o significado, ok. Se colocar no lugar do outro, ok. Porém não exercem a empatia”, pontuou.
A artista declarou que não conseguiu assistir ao filme inteiro. “Porque não dá, sabe? Aí você questiona, pode questionar, pode se perguntar aí, né? Você que está vendo… ‘Mas você também fez um trabalho que seu personagem ouvia barbaridades, abordagens, falta de acessibilidade, sim‘ [sobre a personagem Estela de O Outro Lado do Paraíso]. Mas, na minha opinião, não se dava margem e abertura para você rir disso. Pelo contrário. Se dava abertura de você questionar, sim, sobre muitas coisas e para pensar o quanto isso fere o próximo. Você é chamado de monstrengo, você comparando ou infantilizando a pessoa com nanismo”, afirmou.
Juliana Caldas destacou um trecho específico no filme Amor sem medida. “Uma das abordagens é comparar o órgão sexual masculino do cara com o tamanho dele. É um absurdo, a gente tenta lutar por respeito, pelo nosso espaço… Por exemplo, um espaço que poderia ter tido um ator realmente com nanismo no filme não teve. A gente tendo respeito… Até quando? Foi assim que parei de assistir o filme, não dá. Eu acho que você pode realmente achar que é mimimi, que é essas coisas e você pode achar o que quiser, mas não dá para passar batido a falta de respeito com o próximo. Ainda mais no momento no mundo de hoje, sabe? E todas as outras pautas a gente vê que são levadas a sério. E aí quando você põe a pauta de nanismo, a maioria das vezes não é levada a sério”, lamentou.