O caminho para as boybands e girl groups de sucesso ao redor do mundo é recheado, na maioria das vezes, de muito sucesso, mas muitos olhos que julgam cada passo dado por esses grupos, que quase sempre agradam o público juvenil e veem seus fãs crescer à medida que seu repertório vai crescendo. Além disso, foi sendo naturalizado que os grupos servem como trampolim para a carreira solo de seus membros, com casos como o de Beyoncé, que é uma estrela nata e era o grande recheio do Destiny’s Child. Isso não desmerece o talento dos outros integrantes, mas era claro que haviam líderes.
Com o advento dos reality shows musicais, como o The X Factor, vários grupos de sucesso mundial surgiram e geraram uma nova onda de bandas com garotos e garotas jovens, com muito talento e com a imagem perfeita para se comunicar com um público quase que esquecido. A discografia desses grupos no início de suas atividades eram praticamente questionáveis, por fazer um som muito genérico, longe da personalidade que grupos como Pussycat Dolls e Girls Aloud tiveram em sua época.
Como um exportador de grupos, o Reino Unido viu surgir One Direction e Little Mix da mesma fonte quase que simultaneamente. O sucesso mundial do 1D fez Simon Cowell ter alguns dos maiores nomes do mercado em sua gravadora, gerando um lucro inestimável que nunca saberemos a fatia que os integrantes receberam. O Little Mix surgiu da mesma forma que o 1D, formado assim como ele e conquistando a vitória inédita de um grupo na competição musical.
Um grupo formado por meninas com menos de 20 anos, com um talento incrível e que foi aperfeiçoado para que pudessem trabalhar juntas. A bem da verdade, mesmo com o sucesso local e conquistas internacionais importantes, a sensação é de que o sucesso das “misturinhas” só começou a partir do momento que o One Direction saiu de cena. Ainda assim, a ascensão do Fifth Harmony com hits como Worth It e Work From Home fazia parecer que o alcance do girl group britânico se restringia a seu país.
O que é fato é que mesmo com um alcance limitado, principalmente pelas ações da própria gravadora, o Little Mix se tornou o grupo ocidental de maior relevância no mercado, fosse pelo repertório recheado de hits e experimentos musicais reconhecidos pela crítica ou pela proximidade das integrantes que parecia demais para quem estava acostumado com os diversos conflitos de grupos femininos no passado. Não quer dizer que fosse um mar de rosas, mas realmente havia uma afinidade que transparecia nas músicas, na criação e nas performances.
Mas para elas, as conquistas foram chegando aos poucos e elas se tornaram ainda maiores com o tempo, com o mesmo ineditismo que marcou o seu início. Receber um prêmio de melhor grupo na Inglaterra pode ter se tornado uma rotina para Coldplay ou Arctic Monkeys, mas ser o primeiro grupo feminino a receber esse prêmio, no berço das Spice Girls, tem uma representatividade enorme e só foi a cereja do bolo.
A maior vitória foi ter premiado seus fãs com 10 anos ininterruptos de trabalho, cantando muita música boa para se divertir, mas se aprofundando em temas muito importantes para o crescimento pessoal de quaisquer pessoas. Foi exatamente isso que presenciamos por 10 anos: o crescimento de quatro mulheres fortes, talentosas e com muita vontade de fazer música. Se para você aquele som é muito “infantil” ou bobo, te recomendo a ouvir o que ainda não ouviu só porque não eram as músicas que estavam exatamente tocando nas rádios, viralizando no YouTube ou permeadas por polêmicas.
Começar a carreira falando sobre dançar e sair com as amigas praticamente todos os artistas fazem, até os mais lendários que admiramos até hoje. Esse é um caminho natural que faz os artistas passarem a se arriscar mais com o tempo, falando sobre feminismo, aceitação, seus corpos, a vida na indústria musical como mulheres, bullying e até sobre os haters. Tudo isso, o Little Mix fez. E isso não fez ele ser menor, mas sim se tornar maior com o passar desses 10 anos. O que fica, pelo menos por enquanto, é a lição de que é possível se reinventar mesmo nos momentos em que parece que a carreira acabou, que o contrato não é mais agradável, entre outras coisas. No final, nós só pedimos para que não toquem mais músicas tristes.
Gabriel Bueno é publicitário de formação, atua no mercado desde 2013 nas áreas de criação, mídia e produção. Viciado em acompanhar música, sempre disposto a comentar premiações, álbuns, videoclipes e tudo que envolve o meio musical. É o autor da coluna Decifrando, publicada no TV Pop semanalmente. Siga o colunista no Twitter: @GabrielGBueno_. Leia aqui o histórico do colunista no site.