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A TV aberta precisa fazer rir e, porque não, rir de si mesma

Jasson Goulart apresenta o Balanço Geral de Curitiba; formato é um dos maiores sucessos da TV aberta (foto: Reprodução/RIC)
Jasson Goulart apresenta o Balanço Geral de Curitiba; formato é um dos maiores sucessos da TV aberta (foto: Reprodução/RIC)

Na era que o streaming vai ganhando cada vez mais mercado, especialmente entre os mais jovens, não podemos deixar de considerar que o Brasil é um país com dimensões continentais e, por conta disso, bastante heterogêneo no que diz a respeito à distribuição de renda e a sua infraestrutura. Seja por uma questão financeira ou simplesmente por uma precária qualidade de conexão com a internet, ainda hoje e, com certeza pelos próximos anos, a TV aberta seguirá sendo a única fonte de informação e entretenimento da população brasileira.

No quesito informação, tudo ok. Não faltam telejornais, programas jornalísticos das mais variadas tendências, alguns bem discutíveis, é claro, mas não dá pra negar que existem muitas opções. Só que esse leque de programas apenas informativos deixou a TV aberta mais triste. Pensem comigo, a pandemia do coronavírus que domina o noticiário há mais de um ano por si só é desesperadora, batendo agora a casa dos quase dois mil mortos por dia no país. Soma-se a isso: a violência urbana do nosso dia a dia, os incontáveis escândalos de corrupção, e por aí vai…

Como contrapor essa tristeza? Com humor, vão me dizer os mais atentos. Concordo! Mas é aí que temos o maior vácuo da TV aberta nos dias atuais. A líder Globo recentemente extinguiu por completo seu núcleo de humor. Record e Band também não tem um único programa humorístico sequer na grade, mesmo aqueles em que a maioria do público assistia sem dar uma única risada.

Os únicos exemplares do gênero que sobrevive (há décadas, diga-se de passagem), são os clássicos A Praça é Nossa, do SBT, que chega a liderar a audiência, mesmo com suas incontáveis reprises — Carlos Alberto de Nóbrega tem 84 anos, está no grupo de risco e chegou a ser internado com Covid-19 — e o aguerrido Encrenca, da RedeTV!, que faz milagres com uma verba extremamente baixa e, não raramente, dá dor de cabeça para o Domingo Espetacular.

Tirando estes dois casos, o que resta aos milhões de telespectadores da TV aberta são momentos de descontração, em programas que tradicionalmente não teriam essa função, mas que tem conquistado cada vez mais público por conta disso. A Hora da Venenosa, um quadro que traz notícias do mundo dos famosos, surgiu há sete anos no Balanço Geral de São Paulo e se destaca justamente pelo seu bom humor com as notícias de celebridades. Não é raro que ele chegue a liderança contra os filmes da Sessão da Tarde, da Globo.

O sucesso foi exportado para dezenas de afiliadas da emissora por todo o país, e teve sucesso em praticamente todas as cidades em que foi implantado. E essa descontração e leveza, ao final do programa, depois do Balanço Geral ter abordado crimes e mazelas sociais por horas, tem conquistado cada vez mais o público. O segredo do sucesso da Hora da Venenosa certamente está na autenticidade dos apresentadores, que deixam de lado a eventual formalidade de um jornal e passam a ser eles mesmos, gente de carne e osso, como o telespectador que acompanha o programa.

Não é raro que momentos engraçados das versões regionais de A Hora da Venenosa acabem viralizando nas redes sociais. A RIC, afiliada da Record no Paraná, tem conseguido repercutir com os conteúdos feitos pelas duas versões do quadro, em Curitiba e no Paraná: em fevereiro, Jasson Goulart se tornou meme ao aparecer para comandar o noticiário de celebridades vestido de jacaré — a foto do episódio ilustra essa publicação. Giuliano Marcos, do interior, também ganhou destaque ao ter uma crise de risos ao comentar os sintomas pós-cirúrgicos de Biah Rodrigues, esposa do cantor Sorocaba. Assista:

O bom humor pode não ser a solução para todos os problemas do Brasil, mas ao menos nos ajuda a relaxar diante de uma realidade tão conturbada. Afinal de contas, um pouco de risadas não faz mal pra ninguém, não é mesmo?

Gabriel de Oliveira é jornalista e editor-chefe do TV Pop. Incorrigível amante do universo da televisão, fez parte da criação de formatos que estão no ar até hoje em algumas das principais redes do país. Nas horas vagas, alimenta o perfil @RickSouza no Twitter e viaja para conhecer e entender mais do fascinante mundo das afiliadas espalhadas pelo Brasil. Como se já não tivesse muitas coisas pra fazer e pouco tempo pra todas elas, pegou para si a responsabilidade de assumir a Coluna de Segunda (com ou sem trocadilho, fica a critério do leitor), que acabou deixando de ser semanal — e publicada nas segundas — por pura e simples falta de tempo. Você pode falar com o colunista pelo [email protected] e pelas redes sociais.

 

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