Uma das maiores fontes de polêmicas do mundo musical é a maior premiação sobre o tema. O Grammy Awards será, finalmente, realizado no próximo domingo, 14 de março, após ter sua data reajustada em virtude da pandemia de COVID-19. Entre performances ao vivo e pré-gravadas, serão mais de 20 apresentações, com a ansiedade de algumas fanbases por aparições-surpresa de Beyoncé e Adele, por exemplo.
A espera por Queen B é compreensível, já que mais uma vez ela é a artista com maior número de indicações na mesma noite. A admiração da academia por Beyoncé é realmente bem grande, tanto que ela é a artista feminina mais indicada da história da premiação, apesar da controvérsia de certos prêmios não terem ido parar em suas mãos.
Se falamos em controvérsias, esse tópico faz parte do Grammy. Seja por não indicar trabalhos e artistas que se destacaram durante o ano, quanto por preterir indicações que tinham uma grande torcida para vencer o prêmio. A ausência de The Weeknd na premiação já foi tema aqui nesta coluna, mas nunca é demais relembrar que causa um certo espanto que o dono da música mais bem-sucedida de 2020 acabou desprestigiado, demonstrando que a falta de prestígio possa ser a da premiação, mesmo que o interesse de garantir exclusividade de The Weeknd tenha partido da NFL.
A essa altura, talvez o Grammy nem seja mais uma vantagem tão grande se percebemos as problemáticas que o envolvem. Ainda assim, os nomes que normalmente tem boa recepção da academia garantiram suas indicações, ao lado de artistas que ainda estão engatinhando mas marcaram o último ano.
Entre todos esses nomes, é importante citar alguns que já ganharam. Não o prêmio em si, mas o reconhecimento da influência que tiveram durante 2020, percorrendo um caminho ainda maior para que esse momento chegasse. O primeiro caso é o do grupo coreano, BTS.
Obviamente, eles são os maiores ganhadores da noite mesmo que não levem o prêmio. O precedente que o grupo vai deixar é histórico e demonstra como o caminho para a música não é outro que não o universal. As músicas do grupo trazem mensagens extremamente relevantes para o público atual, aliados de uma imagem muito bem construída, uma produção musical potente e a performance corporal que comunica a grandiosidade do trabalho musical sul-coreano que talvez passasse despercebida mundo afora até então.
Outra vencedora da noite já tem dois gramofones para chamar de seus, mas dessa vez conseguiu uma posição ainda mais privilegiada na premiação. Dua Lipa teve um ano de ouro, com uma era das mais completas, mesmo em tempos incertos como o que ainda vivemos. Tudo isso depois de um grande álbum de estreia, que acabou gerando certa onda de ódio devido a inabilidade da cantora em demonstrar presença de palco. A chave virou e no EMA 2019, Dua nos presenteou com a performance de estreia de “Don’t Start Now”, das mais icônicas da história recente da música.
Agora, a britânica tem seis indicações e três delas nas categorias mais cobiçadas: Álbum, Música e Gravação do Ano. Essa conquista é uma vitória e marca a virada da carreira da cantora, que agora é muito mais que um nome promissor, mas sim uma artista que poderá influenciar diversas outras a seguir com seus trabalhos, demonstrando que sempre é possível adquirir novas habilidades e mostrar sua versatilidade.
Duas dos maiores nomes do ano também estão indicadas à categoria de Melhor Novo Artista, que inclusive premiou Dua Lipa em 2019. Essa é uma categoria bem especial, visto que só é possível ser indicado apenas uma vez. Doja Cat e Megan Thee Stallion conseguiram seus respectivos espaços durante o último ano e receberam essa indicação.
Outra grande vitória para duas artistas que, até então, tinham um público extremamente segmentado e passaram a comandar alguns dos lançamentos mais populares que tivemos recentemente, além de fortalecer uma nova aproximação do hip hop com o pop, um movimento que acontece de tempos em tempos, mas que parecia levemente adormecido desde a ascensão de Cardi B, o que colocou a música pop em segundo plano, de certa forma.
Em uma noite cheia de oportunidades, as maiores e melhores são as do próprio Grammy. Não que premiar as velhas conhecidas seja algo ruim, até porque Beyoncé e Taylor Swift entregaram ótimos trabalhos, com a capacidade que só elas tem. Mas se a questão é oportunidade, a academia tem várias e das melhores e talvez só isso já seja o suficiente.
Talvez a maioria dos indicados encarem que perder pra Beyoncé e Taylor jamais será um demérito, mas sim uma conquista. Poucos conseguem estar ao lado de duas das maiores artistas mundiais que nós temos. E é preciso entender que o trabalho de ambas é extremamente mais bem moldado, maduro e pertinente que o trabalho de quem está construindo ou começando sua carreira agora. Possivelmente, o brilho será de todos, mas especialmente dos azarões. Apenas comemorem!
Gabriel Bueno é publicitário de formação, atua no mercado desde 2013 nas áreas de criação, mídia e produção. Viciado em acompanhar música, sempre disposto a comentar premiações, álbuns, videoclipes e tudo que envolve o meio musical. É o autor da coluna Decifrando, publicada no TV Pop sempre nas quartas. Siga o colunista no Twitter: @GabrielGBueno_. Leia aqui o histórico do colunista no site.