A jornalista Carina Pereira, que apresentava o Globo Esporte na Globo Minas, publicou um vídeo no Instagram relatando que sofreu com machismo e assédio moral de colegas e gestores na emissora antes de ser demitida. Ela afirma que fez a denúncia a diversos canais internos da empresa, mas acabou dispensada.
Carina diz no desabafo que chegou a desejar que aparecesse um bandido que a assaltasse para mudar a sua rotina. “Eu preferiria ir para a delegacia, do que ir trabalhar. Nesse dia eu vi que eu estava ficando doente”, contou.
A jornalista conta que logo no início do seu trabalho no departamento de esportes da Globo ouvia piadas de colegas por ser mulher e novata no assunto. Pouco depois, ela passou a ouvir comentários de seu próprio chefe. “Ah, a Carina consegue essa exclusiva aí porque ela é mulher, porque você não tem o que ela tem, porque você não oferece o que ela oferece. Quando era colega, eu retrucava, mas quando era chefe, não, porque era alguém que eu respeitava, admirava e nem sei por que eu ficava calada”, relata a apresentadora.
Segundo Carina, as coisas foram piorando após ela ser selecionada para uma viagem, que “estava com fama de bonita, e que ser mulher é bom demais”. Ela afirma ter feito uma reclamação ao Recursos Humanos, mas o que ocorreu foi uma mudança de horário. “Falaram que foi uma mudança estratégica, mas não acredito nisso. Eu tinha quadros e projetos que eram meus e não pude continuar fazendo”, relata a jornalista.
Ela diz ter insistindo e procurado o compliance da Globo, mas o assunto teria sido deixado de lado mais uma vez. “Veio uma nova chefe e me ofereceu uma página em branco”, afirmou Carina. Uma gestora teria marcado uma conversa com o antigo chefe de Carina pedindo que ela negasse todos os fatos. “Eu fui e esse talvez tenha sido o maior erro da minha vida. Fingi que nada tinha acontecido”, conta. Carina relata que isso ocorreu logo no início da quarentena de 2020. Ela então foi para casa, tirou férias na sequência e repensou todos os acontecimentos. “Voltei com a certeza de que eu tinha estabelecido um limite”, conta a jornalista.
Na volta ao trabalho, Carina deixou claro que não estava contente com o pouco espaço que teriam deixado a ela, e logo depois veio a demissão. “Tenho muito orgulho de ter tido coragem de assumir isso para mim”.
Em nota, a Globo diz que “não tolera comportamentos abusivos em suas equipes e todo relato de assédio é apurado criteriosamente assim que a empresa toma conhecimento”. O canal também afirma que não comenta as questões relacionadas ao Compliance porque elas são investigadas de maneira sigilosa. Mas que a partir das apurações, a emissora pode “tomar as medidas cabíveis, que podem ir de uma advertência até o desligamento do colaborador”.
A empresa também disse que mesmo em casos de demissão do gestor, as informações apuradas em investigação interna sob sigilo não se tornam públicas: “A empresa é muito criteriosa para que os estilos de gestão estejam adequados aos comportamentos e posturas que a Globo quer incentivar e para que as medidas adotadas estejam de acordo com o que foi apurado”.