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ESQUENTA DA TEMPORADA DE VERÃO

Japão ousa e aposta em anime sobre dublagem com 16 protagonistas

Cena do anime Cue
Maika Takatori, Haruna Mutsuishi, Shiho Kano e Honoka Tsukii dublando em estúdio (foto: Reprodução/CUE!)

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Um dos destaques da temporada de inverno e primavera de animes japoneses, CUE! é um anime ambicioso que quer demonstrar os percalços de quem inicia sua carreira na atuação vocal (em outras palavras, dublagem) no Japão. Mas ele vai além: são nada mais, nada menos que dezesseis protagonistas com a missão de se aperfeiçoarem e mostrarem seu valor para os técnicos do estúdio de dublagem e para a gerente da agência que deu a chance a todas elas.

CUE! mostra, de forma realística e um pouco dramática demais as alegrias e dores de ser uma dubladora iniciante no Japão. O começo é bem morno e acaba focando no aspecto da fofura das garotas e alguns conflitos, mas da segunda metade para o final, há um forte desenvolvimento de personagens e um claro amadurecimento do anime e da premissa de mostrar os bastidores do cenário. A decisão de bancarem 24 episódios ao invés dos tradicionais 12 episódios em animes foi sábia e conseguiu dar o tempo necessário para que todas as protagonistas e personagens secundários tivessem seu momento.

Grupo idol 4xChun com Yuki Tendou, Chisa Akagawa, Airi Eniwa e Yuzuha Kujou (foto: Reprodução/CUE!)

O anime é inspirado em um jogo de mesmo nome da Liber Entertainment para celulares onde o jogador assume o papel de gerente de dezesseis dubladoras em ascensão numa pequena agência de dublagem – basicamente, a mesma premissa do anime. Ironicamente, o jogo foi suspenso em abril de 2021 para que “o time possa se esforçar em melhorias gerais”. O anime possui algumas referências sutis ao jogo.

A produção, claro, fez sua lição para não causar um pandemônio, dividindo-as em quatro grupos de quatro integrantes cada, todos eles com seu tempo de tela, suas personalidades caricatas e seus projetos pessoais que são responsáveis, em sua maioria, pelo excelente desenvolvimento de personagem num contexto geral. É evidente a dificuldade de conseguir focar em tantas protagonistas ao mesmo tempo nos primeiros episódios, tanto que, os episódios posteriormente acabam sendo focados em um grupo de quatro personagens de cada vez como no jogo, o que acabou funcionando melhor. Na reta final, em determinados momentos onde todas precisam aparecer de uma vez só, a maturidade se evidencia e todas tem seu brilho.

Riko Hinakura, Aya Kamuro, Mahoro Miyaji e Miharu Yomine em seu programa de rádio (foto: Reprodução/CUE!)

Um dos destaques do anime é que algumas das protagonistas trabalham no casting de um projeto de anime em um estúdio de dublagem. E é aqui que CUE! realmente brilha, demonstrando de forma bem convincente o processo de produção de uma dublagem através das vozes em cima de rabiscos do anime-dentro-do-anime que, evidentemente, ainda encontra-se em produção simultaneamente com a dublagem. Assim sendo, vemos técnicos monitorando as gravações, vozes falhando, erros de pronúncia, regravações, imagens preliminares e todo o ciclo de gravação de um episódio de série. Dá vontade de saber como seria esse anime de verdade.

Mas este é apenas o trabalho de uma parte do time. Nessa etapa também surgem momentos onde parte do grupo que encontra-se ocioso se questiona o quanto vale a pena investir nessa carreira com a competitividade e convivendo com os riscos de não serem chamadas para trabalhar em nada. É algo que coloca o espectador para pensar. O resto trabalha em projetos como um programa de rádio, dublagem de jogos, um anime em “tempo real” feito através de captura de movimentos e um grupo de cantoras – é normal que seiyuus no Japão também atuem no ramo musical. Falando nisso, o anime tem um forte apelo musical, com diversas canções originais executadas pelos grupos de protagonistas. As duas aberturas e cinco encerramentos também são performados pelo grupo AiRBLUE, que representa as dezesseis personagens e também nomeia a agência fictícia que acolhe as dubladoras.

Note que até então eu não havia comentado diretamente sobre as personagens, até porque é difícil guardar tanta informação; as imagens que ilustram a coluna trazem os nomes de todas. No entanto, alguns destaques vão para o próprio casting original, que conta com as oito cantoras do grupo musical DIALOGUE+, com vozes conhecidas como a de Manatsu Murakami, a Akebi Komichi de Akebi’s Sailor Uniform e a Wadagaki Sakura de ODDTAXI. O grupo musical é conhecido, entre outros, pela abertura de Higehiro: After Being Rejected, I Shaved and Took in a High School Runaway.

Rinne Myojin, Rie Maruyama, Mei Toomi e Satori Utsugi atuando em peça teatral (foto: Reprodução/CUE!)

A animação não surpreende, mas isso não significa que os estúdios Yumeta Company e Graphinica tenham feito algo ruim. É nítido que o trabalho de animação foi feito com carinho mas com um cenário complicado, resultando em uma entrega mediana; as cenas que flertam com o estilo “idol” usando animação 3D para ilustrar algumas performances musicais são um pouco estranhas mas cumprem seu papel, ao mesmo tempo que aquelas tradicionais cenas estáticas em momentos-chave aparecem para tapar buracos de falta de tempo para realizar a animação, principalmente nos episódios finais.

O último capítulo de CUE! estreou na última sexta na Crunchyroll. Todos os 24 episódios estão disponíveis na íntegra para assinantes.

Caio Alexandre é entusiasta de cinema, exibição, animes e cultura pop em geral. Escreve desde 2008 sobre os mais variados assuntos, mas sempre assumiu a preferência pelo cinema e sua tecnologia embarcada. Autor convidado do TV Pop, fala sobre tudo que é tendência no universo da cultura pop. Converse com ele pelo Twitter, em @caioalexandre, ou envie um e-mail para [email protected]Leia aqui o histórico do autor no site.

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