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Ludmilla e o peso da invisibilização que nega o reconhecimento de artistas pretos

Ludmilla levantou debate sobre racismo em apresentação na casa do Big Brother Brasil (foto: Reprodução/Redes Sociais)
Ludmilla levantou debate sobre racismo em apresentação na casa do Big Brother Brasil (foto: Reprodução/Redes Sociais)

Com os últimos acontecimentos na casa do Big Brother Brasil, o tópico sobre comentários racistas está em voga. Como aqui estamos para falar sobre música, o papel de uma cantora foi essencial para que o tema pudesse gerar a repercussão que gerou dentro da casa, mas também fora com os exemplos que ela mesma pode dar. Ludmilla foi a atração da festa do último sábado no programa e discursou sobre o respeito aos fenótipos de pessoas pretas, à medida que revive uma situação semelhante ao do brother mineiro.

Infelizmente, a decisão judicial mais recente desfavorece a cantora, o que banaliza a abordagem criminal do racismo. Vamos refletir: quantos casos de prisão por racismo você conhece? Pessoalmente, eu não conheço nenhum e isso é uma pena, principalmente porque sabemos que os casos são inúmeros. Além disso, é preciso reconhecer que, independente dos casos abertamente racistas, existem ações de invisibilização e limitação social de pretas e pretos.

Ludmilla é um dos maiores nomes da música nacional, com diversos hits, aparições estelares na TV e papel influente como artista, mulher e LGBT, assim como vários nomes igualmente importantes no nosso cenário musical. Ao mesmo tempo, é perceptível que a carreira da cantora é limitada por diversas frentes da sociedade brasileira, que apesar de a reconhecer como grande vocalista e performer, parece diminuir a importância do seu trabalho.

É bem verdade que os cantores, num geral, precisam de uma exposição que os garante visibilidade até certo ponto, mas também os colocam em situação vulnerável. A opinião pública parece tratar o trabalho de Ludmilla como inferior por ser totalmente ligado ao funk carioca e se manter como expoente da cultura que é sua raiz. Mas a artista já passeou por outros gêneros, seja com material próprio ou colaborações com cantores diversos, demonstrando uma versatilidade invejável.

Talvez a maior oportunidade que o Brasil teve de ver a versatilidade de Lud foi na sua participação no quadro Show dos Famosos. Críticas ao quadro à parte, Lud fez daquele palco uma vitrine para mostrar que a reduzir à funkeira é besteira, apesar do título ser motivo de honra.

Ela é funkeira, mas também várias outras coisas que a tornam uma artista capacitada bem antes do nome artístico atual e um contrato com uma grande gravadora. Capacidade que a faz ser uma representante das mais necessárias na nossa cultura, independente do que pensem sobre ela, seus posicionamentos e suas ambições artísticas.

A arte é feita de motivações que nem todo mundo compra, aceita e compreende. O que cabe a todos é respeitar e não tornar esse caminho ainda mais difícil, diminuindo um artista e um trabalho que não nos contempla.

Abraçar os diversos caminhos da arte é um dever da nossa sociedade, para que mais Ludmillas possam surgir e servir de modelos, não só pela responsabilidade, mas pela representatividade que possam gerar no público que as acompanharem. Nunca é tarde para reconhecer o talento, assim como a relevância de figuras pretas para a construção de uma cultura diversa, inclusiva e livre de todo o tipo de preconceito.

Gabriel Bueno é publicitário de formação, atua no mercado desde 2013 nas áreas de criação, mídia e produção. Viciado em acompanhar música, sempre disposto a comentar premiações, álbuns, videoclipes e tudo que envolve o meio musical. É o autor da coluna Decifrando, publicada no TV Pop sempre nas quartas. Siga o colunista no Twitter: @GabrielGBueno_. Leia aqui o histórico do colunista no site.

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