Vamos ser honestos já de cara: a DC sabe como fazer boas histórias animadas e até hoje nunca fui capaz de encontrar qualquer obra que desbanque o característico estilo de animação da Warner Animation Group, recheado de ótimas sacadas advindas do imenso legado da Warner Bros. nas décadas passadas. DC Liga dos Superpets é a união perfeita dos dois, introduzindo Krypto e seus colegas animais de estimação à Liga da Justiça.
Porém, a Liga da Justiça em questão não é aquela de Zack Snyder, tampouco a versão original de 2017. O público do filme aqui não é o nerd do filme de herói, e sim, crianças com uma noção de quem são os heróis na tela, embora conte com uma dezena de referências do Universo DC para os adultos pegarem.
Liga dos Superpets começa estabelecendo o universo atual para o telespectador, onde o Superman tem um cachorro, o Krypto. Pois é, aquela batida cena dos pais enviando o Kal-El para a Terra se repete mais uma vez.
Aqui vale fazer um paralelo com a famosa série animada de 2005 “Krypto, o Supercão” de Scott Jeralds. Nela, Krypto é enviado numa missão para testar uma espaçonave e causa uma falha que desvia sua rota para a Terra. Lá, segue sua jornada rumo a descobrir quem é e encontra Kevin, que o adota e descobre que Superman também havia sido enviado para o mesmo planeta, mas a tutela se manteve com o garoto devido ao herói ser “ocupado demais”.
No novo filme, a cena dos pais do Superman tem o extra de Krypto não querer se separar do até então bebê herói, entrando na cápsula junto do Superman e sendo enviado simultaneamente para fazer companhia. As semelhanças acabam aqui – não há muitas referências e os amigos do desenho original (como o gato malhado Rajado e o próprio Kevin) não existem, embora fatos como a ligação do Batman com o Batcão tragam uma certa “continuidade”. A Liga da Justiça também está presente em uma participação especial, mas em uma formação diferente.
A dublagem brasileira trouxe os clássicos da série original, incluindo o próprio Marcelo Garcia como Krypto, Duda Espinoza como Ace (cão coprotagonista), Guilherme Briggs na famosa voz do Superman e Duda Ribeiro nos trazendo o Batman que conhecemos. Para os novos personagens, Priscilla Alcântara como PB (a Porquinha), Marco Luque como Chip (o Esquilo), Ilka Pinheiro como Mirtes (a Tartaruga) e Angélica Borges como a antagonista Lulu. A Warner conseguiu o feito de unir grande parte do elenco original da série animada, trazendo um agradável senso de nostalgia ao mesmo tempo que adiciona novas vozes em bons novos personagens. A dublagem dirigida por Flavia Fontenelle é excelente.
O enredo do filme traz uma relação de ciúme e o romance do Superman com a Lois Lane, peças fundamentais para o desenvolvimento da história como um todo. O lado dos antagonistas é mais interessante, com uma relação esquisita entre Lulu, uma porquinha-da-índia maléfica, e Lex Luthor, onde a pet procura por seu “dono” após supostamente ter sido levada embora com a descoberta de que a Lexcorp estava realizando experimentos em animais. São poucas cenas com a Liga da Justiça, mas são cenas genuinamente boas, com uma menção honrosa ao que acontece na união dos heróis com os bichos de estimação no ato final. As piadas são sempre boas, mérito da Warner que consegue fazer todos os personagens terem seu próprio estilo. Assim como em Lightyear, uma gata rouba a cena quando aparece, adicionando muito na comédia do filme, embora apareça pouco e nem sequer seja identificada.
A trilha sonora é bem completa e brinca com músicas da Taylor Swift num momento de forte revolta do Krypto e nos créditos, além de incluir R.E.M., Europe e Queen. A única música original do filme também foi adaptada para a versão dublada de Liga dos Superpets. Originalmente chamada Count On Me, a canção do músico Jac Ross foi interpretada brilhantemente na versão em português por Vitor Kley. Embora não seja o maior fã do estilo musical do cantor, é impossível não perceber o trabalho bem feito e o acerto da Warner em trazê-lo. Conta Comigo entra suavemente inserida em uma cena emocionante com Krypto e Ace; eu mesmo não consegui segurar algumas lágrimas nesse momento.
Emoção, aliás, é a palavra certa para quem assiste o filme. É evidente que o filme mira no público infantil, mas acerta mesmo no emocional de donos de bichos de estimação, trazendo diversas cenas onde quem tem um pet consegue se identificar – volto a destacar aqui a parte final com a Liga da Justiça. Para os outros, uma bonita mensagem nos créditos com o contexto do final do filme diz “Seja um herói, adote um pet”. Há duas cenas durante e depois dos créditos, esta última, mais interessante.
DC Liga dos Superpets é excelência em sua melhor forma. Claro, não é um filme para todo mundo, principalmente para quem não tem familiaridade com a DC. No entanto, ele atinge um público diverso, que vai das crianças, passando pelos fãs da DC até chegar nos nostálgicos que assistiram o desenho original do Cartoon Network — que até poucos anos atrás, ainda passava aos sábados também no SBT e no canal Boomerang –. Isso sem contar o grande estímulo à adoção de animais que o filme deixa intrínseco. É muito melhor que a Liga da Justiça de Zack Snyder.
Liga dos Superpets está em cartaz nos cinemas desde a última quinta-feira (28). Krypto, o Supercão está disponível na íntegra na HBO Max.
Caio Alexandre é entusiasta de cinema, exibição, animes e cultura pop em geral. Escreve desde 2008 sobre os mais variados assuntos, mas sempre assumiu a preferência pelo cinema e sua tecnologia embarcada. Autor convidado do TV Pop, fala sobre tudo que é tendência no universo da cultura pop. Converse com ele pelo Twitter, em @caioalexandre, ou envie um e-mail para [email protected]. Leia aqui o histórico do autor no site.