A Globo cortou da reprise de A Favorita (2008), na última terça-feira (20), uma cena em que Flora (Patricia Pillar) humilhava idosos. Na sequência que foi eliminada do Vale a Pena Ver de Novo, a rival de Donatela (Claudia Raia) debochava de Irene (Glória Menezes) e Copolla (Tarcísio Meira) durante uma conversa com Silveirinha (Ary Fontoura). Nos capítulos recentes do folhetim, a matriarca dos Fontini escapou da Triunfo para viajar com o antigo amor para Paraty (RJ), deixando Gonçalo (Mauro Mendonça) preocupado com seu desaparecimento.
Floria, ciente de que Irene estava junto com o operário, comentou com o mordomo: “Será que eles não têm noção do ridículo? Um quadrado amoroso na terceira idade. Mas é muita baixaria, é o cúmulo da pouca vergonha. Como é que pode a Irene, uma velha, que mal se aguenta em pé, arrastar o amante pra Paraty? Gente, que velhinha fogosa!”, disparou a malvada no capítulo que foi exibido originalmente pela Globo em 2008. Nas redes sociais, telespectadores ficaram revoltados com o corte em uma cena que virou meme na internet.
“Quando que a Globo vai parar com esse medo do politicamente correto? Novela é ficção. Ninguém tem que se ofender”, protestou Andrea Barros em uma rede social de mensagens curtas. “Que ódio da Globo. Eu amo a Flora”, disse Eddie Lightwood. “Odiando essa tesoura que a Globo tá passando em A Favorita… tá cortando cenas maravilhosas”, lamentou um perfil identificado como Amendoim. “Já já a Globo adota aquele alerta ‘esta obra reproduz comportamentos e costumes da época em que foi realizada’ no Vale a Pena também”, disse o perfil Alexandre, em referência aos avisos que o canal Viva passou a exibir na TV por assinatura a partir da reapresentação de Da Cor do Pecado (2004), em 2021.
A razão para os cortes na reprise de A Favorita
O motivo para os cortes nos capítulos de A Favorita pode ser por causa da classificação indicativa. Recentemente, o SBT denunciou a Globo ao DPJUS (Departamento de Promoção de Políticas de Justiça), órgão do Ministério da Justiça responsável pela classificação indicativa de programas de televisão, por causa da reprise da trama de João Emanuel Carneiro. O canal de Silvio Santos alegou que o conteúdo da novela é inadequado para o horário das tardes. Por causa da denúncia, o folhetim deixou de ser recomendado para menores de 12 anos. Agora, a história de Flora e Donatela passou a ser exibida com o selo +14. A Globo discordou da decisão e recorreu, mas o DPJUS negou o pedido da líder e ainda ameaçou subir a classificação indicativa da novela para 16 anos, selo usado para produções com alto teor de nudez, sexo e palavrões.
A celeuma do SBT com a Globo começou depois que o Ministério da Justiça implicou com as novelas mexicanas que são transmitidas no fim de tarde. A TV de Silvio Santos alegou que os critérios para classificação das obras eram diferentes para emissoras com conteúdos semelhantes. “Após recebermos constantes ofícios referentes à reclassificação etária de conteúdos exibidos pelo SBT, recebemos um questionamento de nossa diretoria de Programação sobre conteúdos exibidos em outras emissoras, como, por exemplo, a novela A Favorita, da Rede Globo, classificada como 12 anos, porém, possui elementos claros de 14 anos”, disse o SBT em e-mail enviado ao órgão do governo.
“O SBT busca sempre estar de acordo com as exigências do MJ e, mesmo quando há divergências e recebemos os ofícios, fazemos as devidas alterações dentro do prazo estipulado. Porém, notamos que outros veículos não sofrem o mesmo monitoramento”, alegou o canal. A diretoria de Planejamento e Programação do SBT é liderada por Murilo Fraga, um dos principais profissionais do mercado. Após a denúncia, a Justiça concordou com os argumentos da empresa e passou a monitorar os capítulos de A Favorita. O órgão do Ministério da Justiça disse ter encontrado elementos que sustentam a tese do SBT. A Globo foi notificada e teve que fazer alterações na classificação indicativa da novela. No entanto, a Globo ficou inconformada porque a versão da trama analisada pelo MJ foi a íntegra disponível no Globoplay, não a versão editada para TV aberta.
“A versão que está sendo exibida no Vale a Pena Ver de Novo não é a versão integral da obra, mas sim uma versão editada dia após dia, que sofre naturalmente cortes em seu conteúdo, visando adequá-la ao espaço de tempo de duração do Vale a Pena Ver de Novo, além da adequação ao seu público-alvo”, disse a Globo em sua reclamação. O MJ manteve a decisão e aplicou o selo +14 anos na trama. Mas o governo ainda ameaçou subir a classificação indicativa da novela. “A novela não encontra condições de ter o selo +12. Encontramos elementos de +16, mas vamos manter sua classificação como não recomendada para menores de 14 anos”, definiu o DPJUS. Apesar da mudança na recomendação de público da novela A Favorita, a Globo não corre maiores riscos em ter que tirar o folhetim do ar. Em 2016, o STF (Supremo Tribunal Federal) entendeu que as transmissões televisivas em TV aberta não são vinculadas ao horário. Caso fosse aplicada a regra que existia antigamente, os assassinatos de Flora só poderiam ir ao ar depois das 21h.