O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) desistiu de uma ação na Justiça em que pedia direito de resposta ao Jornal Nacional pelo tom crítico à sua gestão durante a crise sanitária. O telejornal apresentado por William Bonner e Renata Vasconcellos divulgou um editorial em 8 de agosto quando o Brasil atingiu a marca de 100 mil mortos pela doença causada pela Covid-19.
De acordo com informações da colunista Mônica Bergamo, da Folha de S.Paulo, o texto lembrava que o país estava sem ministro titular da Saúde havia 85 dias. E que Bolsonaro reagia às seguidas notícias de altas das mortes dizendo que a doença era uma “chuva” e que todos iriam se molhar. O presidente alegava que a morte é um destino de todos ou respondendo “e daí?” e “não sou coveiro” quando questionado sobre os óbitos da pandemia.
No Twitter, Bolsonaro reagiu dizendo que a Globo festejava as mortes. Pouco depois, Advocacia-Geral da União (AGU) entrou com pedido de resposta na Justiça. Segundo a colunista da Folha, AGU perdeu a ação em duas instâncias. Na quarta-feira (12), quando o Brasil passou de 428 mil mortos, o órgão informou à Justiça que não apresentará recurso para reverter a decisão.
Na abertura da edição do JN de 8 de agosto, Bonner e Renata ficaram por mais de quatro minutos criticando a inércia do Governo Federal no combate ao novo coronavírus. “Todo cidadão brasileiro tem direito à saúde. E todos os governantes brasileiros têm a obrigação de proporcionar para os cidadãos esse direito. As ações dos governantes precisam ter como objetivo diminuir o risco de a população ficar doente. E não somos nós que estamos dizendo isso. É a Constituição brasileira que todas as autoridades juraram respeitar. Está registrado no artigo 196”, iniciou Bonner.
Renata Vasconcellos prosseguiu com as críticas, destacando a falta de um ministro titular da Saúde: “Mas o Brasil está há 12 semanas sem um ministro da saúde titular. São 85 dias desde 15 de maio. Dois médicos de formação deixaram o cargo porque pretendiam seguir a orientação da ciência. E o presidente Bolsonaro não concordou com essa postura”.
“Primeiro, o presidente menosprezou a Covid. Chamou de ‘gripezinha’. Depois, quando um repórter pediu que ele falasse sobre o número alto de mortes, Bolsonaro disse que não era coveiro. Disse duas vezes: ‘não sou coveiro’. Quando os óbitos chegaram a 5 mil, a resposta dele a um repórter foi: ‘E daí?’ Agora o presidente repete que a pandemia é uma chuva e que todos vão se molhar. Ou que a morte é o destino de todos nós e que temos que enfrentar. Como se fosse uma questão de coragem, como se nada pudesse ter sido feito”, criticou William Bonner.
Na época, o Jornal Nacional criticou Jair Bolsonaro por se colocar contra as medidas sanitárias de isolamento social. “Os brasileiros viam o presidente criticar essa iniciativa diariamente, na contramão do bom senso daqueles governadores que a defendiam. O resultado disso foram a confusão e a perplexidade de muitos cidadãos que ficaram sem saber em que acreditar. E o isolamento capenga, insuficiente para atingir plenamente o seu objetivo”, observou o âncora.
Renata, então, questionou se Jair Bolsonaro cumpriu o que determina Constituição. “Nós já mostramos o que diz o artigo 196: é dever das autoridades que governam o país implementar políticas que visem a reduzir riscos de doenças. E a pergunta que se impõe é: o presidente da República cumpriu esse dever? Entre governadores e prefeitos, quem cumpriu? Quem não cumpriu? Mais cedo ou mais tarde o Brasil vai precisar de respostas pra essas perguntas. É assim nas democracias e nas repúblicas: todos temos direitos e deveres. E onde ninguém está acima da lei”, disse o texto lido pela apresentadora.