O jornalista Marcelo Canellas, da Globo, foi atacado nas redes sociais após o Fantástico do último domingo (22) mostrar uma reportagem especial sobre o mapa da fome no Brasil. A equipe do jornalístico revisitou famílias pobres que havia encontrado no início dos anos 2000. Após 20 anos, o repórter da emissora líder constatou que a situação continua a mesma. Em uma rede social, o profissional contou que os xingamentos começaram antes mesmo do material completo ser exibido na televisão.
“Antes mesmo da reportagem especial desta noite ir ao ar no Fantástico, assim que as chamadas começaram a ser veiculadas durante a semana, minha caixa postal ficou abarrotada de xingamentos que terminavam com perguntas acusatórias. ‘Para que filmar a pobreza?’, Por que em vez de mostrar não entregaram cestas básicas?’, ‘Por que expor tanta tristeza em vez de ajudar?’ A todos expliquei os porquês de mostrar: porque é inaceitável e porque é injusto”, disse Canellas em uma plataforma de mensagens curtas.
Marcelo explicou que ele o cinegrafista Lúcio Alves ajudaram com “uma conta de luz paga aqui, uma cesta básica acolá”, mas que isso não é suficiente. “E aos que julgam os outros à luz de suas próprias debilidades morais, esclareço: eu e meu parceiro de ofício e utopias, Lúcio Alves, não acreditamos na assepsia emocional do jornalista diante do fato. Nos comovemos e, tanto hoje como há 20 anos, fomos deixando uma conta de luz paga aqui, uma cesta básica acolá, apoio frustrante de quem sabe que um ajutório fugaz não é solução para nada”, continuou.
“Somente uma política de Estado consistente, estruturante e duradoura será capaz de enfrentar os efeitos da desigualdade perversa que nos envergonha. A luta contra a fome é também uma batalha retórica contra a sua negação. E por vezes, tristemente, quem nega o faz por sentir-se humilhado. Por esses, tenho compaixão. Aos cínicos, tenho más notícias: o jornalismo continuará botando o dedo na ferida até que o poder cicatrizante da justiça social nos cure dessa chaga”, concluiu o repórter da Globo.
Em 2003, quando o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) começou seu primeiro mandato, Marcelo Canellas e o cinegrafista Lucio Alves fizeram uma série de reportagens para mostrar o mapa da fome no Brasil. Com a volta do político ao Palácio do Planalto, jornalistas da emissora líder reencontraram os mesmos personagens de 20 anos atrás e constataram que, depois de avanços e retrocessos, a situação continua a mesma. No primeiro dia do terceiro mandato, Lula assinou a volta do Consea (Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional), criado para o combate à fome. O órgão tinha sido extinto no governo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
