Marcelo Canellas, um dos principais jornalistas da Globo, foi demitido nesta terça-feira (4) após 33 anos de contrato. O repórter especial do Fantástico é mais um dos nomes dispensados pela empresa de comunicação, que passa por um processo de reestruturação financeira. Ele fazia reportagens para o Show da Vida desde 2009. Ao lado do repórter cinematográfico Lúcio Alves, por exemplo, produziu matérias especiais, focadas principalmente no social, como a reportagem S.O.S. Infância, sobre violência e omissão de crianças no Brasil, exibida em 2013; e a série Quem é meu pai, que foi ao ar em outubro de 2014.
O que você precisa saber
- Jornalista premiado, Marcelo Canellas foi um dos alvos da primeira onda de demissões na Globo;
- Ele foi dispensado da líder de audiência após 33 anos de serviços prestados;
- Em uma de suas últimas reportagens, o repórter foi ameaçado por exibir imagens de pobreza no Fantástico.
Um dos últimos trabalhos de Canellas na rede foi o documentário sobre a tragédia da Boate Kiss, produção original do Globoplay. Em janeiro, o jornalista revelou nas redes sociais que foi atacado por causa de uma reportagem sobre o mapa da fome exibida no Fantástico. Em um longo texto publicado nas redes sociais, ele falou sobre o papel do jornalismo em um país com tanta desigualdade social como o Brasil. O programa jornalístico da Globo revisitou famílias pobres que Canellas e Alves haviam encontrado no início dos anos 2000. Vinte anos depois, a equipe da emissora constatou que a situação continuava a mesma.
Marcelo Canellas contou que os xingamentos começaram antes mesmo do material completo ser exibido na televisão. “Uma grande história sempre se impõe. A potência do jornalismo está em sua insubmissão. E por ser avessa a teses a priori, por refutar ideias pré-concebidas, por não aceitar encilhamento, por ancorar-se na força indomável da vida, a reportagem de prospecção causa tanto desconforto. Eis a missão mais urgente do jornalismo num país injusto como o Brasil: incomodar os omissos, causar náuseas nos indiferentes, perturbar os negacionistas escancarando o que eles gostariam de esconder”, começou.
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“Antes mesmo da reportagem especial desta [domingo, dia 22 de janeiro] noite ir ao ar no Fantástico, assim que as chamadas começaram a ser veiculadas durante a semana, minha caixa postal ficou abarrotada de xingamentos que terminavam com perguntas acusatórias. ‘Para que filmar a pobreza?’, ‘Por que em vez de mostrar não entregaram cestas básicas?’, ‘Por que expor tanta tristeza em vez de ajudar?’. A todos expliquei os porquês de mostrar: porque é inaceitável e porque é injusto”, explicou o repórter.
“E aos que julgam os outros à luz de suas próprias debilidades morais, esclareço: eu e meu parceiro de ofício e utopias, Lúcio Alves, não acreditamos na assepsia emocional do jornalista diante do fato. Nos comovemos e, tanto hoje como há 20 anos, fomos deixando uma conta de luz paga aqui, uma cesta básica acolá, apoio frustrante de quem sabe que um ajutório fugaz não é solução para nada”, disse o profissional. Segundo a reportagem, o número de brasileiros em situação de “insegurança alimentar” despencou entre 2004 e 2013.
Globo faz demissão em massa de jornalistas
Nesta terça-feira (4), a Globo deu início a um processo histórico de demissões de funcionários. A primeira leva de desligamentos aconteceu entre os repórteres mais famosos (e consequentemente mais bem pagos) da editoria Rio. Até agora, além de Marcelo Canellas, a emissora demitiu Eduardo Tchao, Flávia Jannuzzi, Mônica Sanches, Luciana Osório, Jorge Espírito Santo, entre outros. Também foram dispensados produtores e editores que tinham muito tempo de casa e recebiam salários acima da média do mercado.
Procurada pelo TV Pop, a Comunicação da Globo enviou a seguinte nota sobre as recentes demissões: “A Globo, assim como as demais empresas de referência do mercado, tem um compromisso permanente com a busca de eficiência e evolução. Seus resultados refletem a boa performance do conjunto das suas operações e uma constante avaliação do cenário econômico do país e dos negócios. Como parte do processo de transformação pela qual vem passando nos últimos anos e alinhada à sua estratégia, a empresa mantém a disciplina de custos e investimentos em iniciativas importantes de crescimento”.