A diretoria do SBT tem acompanhado com apreensão os desdobramentos sobre a realização da Copa América em território nacional. O evento, que em situações normais seria festejado por qualquer emissora, virou um imenso abacaxi por conta de sua grande repercussão negativa nas redes sociais. Até agora, poucas empresas mostraram interesse em exibir as suas marcas nas transmissões do torneio. Nos bastidores, há o temor de que o interesse dos telespectadores fique ainda menor se, de fato, os principais jogadores da seleção não participem da competição.
Os índices do triunfo do Brasil diante do Equador, que foi transmitido pela Globo na noite de sexta-feira (5), foram recebidos com entusiasmo pelos executivos do SBT. A boa audiência da primeira partida das eliminatórias mostrou que, mesmo com todo o imbróglio midiático, a população ainda tem interesse em acompanhar as partidas da seleção brasileira. Mas, há um problema nisso: o interesse é no futebol ou nos craques da seleção, como Neymar e Gabigol?
A emissora de Silvio Santos adquiriu os direitos de transmissão do torneio sem ter a mínima ideia de que ele seria realizado no Brasil. Em abril, quando o negócio já estava praticamente fechado, tudo estava certo para que o evento acontecesse na Argentina e na Colômbia. No entanto, a CONMEBOL não esperava ter que lidar com a crise política colombiana e com o avanço da crise sanitária em terras portenhas. Os países, que estão sofrendo para resolver os seus próprios problemas, dispensaram o torneio sem nem pensar duas vezes.
Há uma semana, a Copa América literalmente caiu no colo no Brasil. Jair Bolsonaro não hesitou em apoiar os jogos em território nacional, e se articulou rapidamente para achar cidades dispostas a receberem o torneio. O presidente, no entanto, não contava com a iminência de uma grande crise na CBF. Rogério Caboclo, presidente da federação e um dos principais interessados na competição, foi afastado por 30 dias para a apuração de uma denúncia de assédio, e dificilmente reassumirá o seu posto. Ele, no entanto, passa longe de ser o maior problema governamental.
Os jogadores da seleção brasileira, muitos deles com contratos milionários, não queriam disputar a Copa América mesmo antes da transferência do torneio para o país. Até então, o motivo era apenas falta de interesse: a competição não vale praticamente nada, é interpretada por muitos como uma imensa sequência de amistosos e, além disso, iria tirar dias de férias dos atletas. O desembarque dos jogos no Brasil foi apenas mais um fator para que a maioria dos craques organizassem um boicote contra o evento.
Na era do cancelamento, ter o seu nome associado a um governo que dividiu o país em dois e a um evento realizado em pleno auge da crise sanitária nacional é, de certa forma, assinar um recibo de prejuízo. Para grande parte dos jogadores, a seleção é apenas um hobbie e um holofote, e não representa absolutamente nada em suas finanças, turbinadas justamente pelo seus desempenhos em gramados internacionais.
No mercado publicitário, especula-se que o SBT pagou cerca de R$ 31 milhões pelos direitos de transmissão da Copa América. E, até a publicação deste texto, a emissora não teria conseguido reaver nem 10% do investimento por meio da venda de anúncios nas transmissões da competição, que começará oficialmente no domingo (13). Por enquanto, a cúpula da rede apenas para que os astros da seleção desistam de boicotar o evento e minimizem os danos da quase certa realização do torneio do país.
Fernando Pelegio, diretor de Planejamento Artístico e Criação da emissora de Silvio Santos, é um dos que não faz questão de disfarçar publicamente o incômodo com os rumos da competição. “Essa história de boicote à Copa América está parecendo quando era criança e o menino rico, mas ruim de bola, pegava a bola nova e não deixava a gente jogar porque ele não era escolhido. E ainda pagava sorvete a quem fosse embora com ele”, afirmou ele, em uma publicação feita nas redes sociais na tarde de sábado (5).