A Record causou espanto em importantes alas do mercado publicitário e em executivos de suas concorrentes na noite desta sexta-feira (25). Pouco antes do encerramento do chamado horário comercial, a emissora utilizou o seu portal de notícias e a sua assessoria de comunicação para uma divulgação em massa de índices de audiência deturpados e adulterados para indicar que a emissora teria tido a melhor quinta-feira de toda a sua história na Grande São Paulo na véspera, em 24 de junho. No entanto, nenhuma das informações repassadas pela emissora estava correta.
No texto enviado pela assessoria de imprensa às 17h42 e reproduzido pelo R7 apenas sete minutos depois, a Record afirma categoricamente que o dia 24 teria sido histórico para a emissora. Em letras amarelas garrafais, e colocadas em um chamativo fundo azul, o canal brada que teve “a melhor quinta-feira da história” com 7,7 pontos na chamada média-dia, contabilizada entre 7h e meia-noite.
Porém, um rápido esforço de pesquisa revela que o departamento adulterou fatos e criou uma narrativa que nunca existiu para, simplesmente, tentar dizer que a emissora estaria se aproximando da Globo. Diferentemente do que foi alardeado pela empresa, o 24 de junho passou longe de ser a melhor quinta-feira da história. Uma semana antes, no dia 17, o canal teve 7,8 pontos na média-dia e vários de seus programas tiveram performances superiores ao suposto dia histórico, como o Hoje em Dia, o Balanço Geral da hora do almoço e o Cidade Alerta.
No entanto, os 7,8 também passam bem longe de ser a melhor quinta-feira da história da Record. A emissora já teve performances superiores neste dia da semana em incontáveis ocasiões: em 21 de março de 2019, potencializada pela cobertura da prisão de Michel Temer, o canal teve 9,8 pontos entre 7h e meia-noite. Em 24 de maio de 2018, foram 8,5 de média na mesma faixa, em um dia marcado pelo noticiário da greve dos caminhoneiros. Mais recentemente, em 28 de novembro de 2019, a média foi de 11,1 pontos — neste dia, a rede cobriu o velório de Gugu Liberato.
A assessoria de imprensa da Record volta a mentir em outro argumento utilizado no comunicado. No mesmo texto, a emissora afirma que não ficava tão perto da Globo desde 11 de agosto de 2013, um domingo, quando a diferença das duas foi de 4,2 pontos na Grande São Paulo. Mais uma vez, a informação é falsa. Em 23 de março de 2014, segundo o Notícias da TV, 4,1 separaram o canal da líder de audiência entre 6h e meia-noite. Quando levamos em consideração a faixa da média-dia, a diferença tende a ser menor, já que contabilizará menos uma hora de programas religiosos.
Anos depois, em 17 de setembro de 2017, a Record marcou média de 12,1 pontos entre 7h e meia-noite, contra 14,7 da Globo. A diferença, de 2,6 pontos, é logicamente menor — e mais recente — do que a alardeada pela emissora, que fez questão de festejar os dados falsos nas redes sociais. Mesmo alertada às 17h55 de que os índices eram deturpados, a assessoria de imprensa compartilhou o feito em sua página oficial, com quase 800 mil curtidas, às 20h23.