A temporada de primavera do mundo dos animes está chegando ao fim. Entre diversos lançamentos que os últimos três meses nos proporcionaram, escolhi alguns para comentar mais profundamente e sem spoilers, agora que seus episódios finais estão indo ao ar. Para esta semana, Super Cub.
O anime é uma adaptação da light novel de mesmo nome e segue o estilo dos slice of life — gênero focado em mostrar a vida como ela é, trazendo o cotidiano dos personagens em formato de uma sequência definida pelo passo da série. No caso de Super Cub, onde a história de como uma moto mudou a vida de uma garota solitária é contada, tudo tende a ser bem devagar. Os episódios seguem o subgênero iyashikei — que traz vidas pacíficas em ambientes calmos.
Inicialmente, Super Cub é despretensioso. Para quem não está familiarizado e começa do zero, o nível de detalhes faz parecer 24 minutos de propaganda para a moto japonesa, mas não se deixe enganar. A história é acolhedora e não demora muito para a animação exalar sua verdadeira identidade, embora em alguns poucos momentos o culto ao modelo da motocicleta pareça um pouco exagerado. O modelo da Honda é icônico e fez 60 anos em 2018, sendo vendida até hoje pelo mundo.
Antes de continuar, uma introdução da protagonista: Koguma é A Garota Sem Nada: sem pais, sem amigos, sem dinheiro e enfrentando diariamente dificuldades como a vida solitária e o longo caminho para a escola em sua bicicleta, enfrentando ladeiras íngremes e cansativas. Esta última razão a motiva a procurar uma solução: uma motocicleta que faça o trabalho que até então era braçal. Ao visitar uma loja, claro, os preços iniciais de 120 mil ienes (pouco mais de 5 mil reais em uma conversão direta) para modelos zero-quilômetro desmotivam. O senhor dono da loja, no entanto, percebe o semblante da estudante e traz dos fundos da loja uma Honda Super Cub supostamente amaldiçoada por um preço irrisório: 10 mil ienes (~450 reais).
Os primeiros episódios trazem o começo da evolução de uma Koguma solitária, partindo do processo de aquisição e aprendizado sobre sua nova moto e seus equipamentos. Limitações como a falta da habilitação e dificuldades como o trânsito e falhas na partida do veículo já assustam a protagonista nos primeiros episódios.
No clímax da história, a estudante já tem um desenvolvimento de personagem relativamente acelerado, criando novas amizades motivadas por conversas sobre a sua Super Cub. Graças a ela e a amizade com Reiko, dona de uma Postal Cub modificada. O aprendizado focado na moto continua e o cotidiano traz novos percalços, como o calor do verão, e progressos como um emprego temporário e a obtenção da habilitação japonesa de classe 1 para pilotar em velocidades elevadas.
Os episódios finais trazem Shii, que junto de seus pais, comandam um café de nome francês com uma padaria de estética alemã e um restaurante estilo americano, tudo isso em um prédio de característica tirolesa. Assim como Koguma e Reiko, Shii quer sua liberdade, e as meninas tornam-se sua inspiração. Embora não tenha uma motocicleta, ela se esforça a bordo de uma bicicleta britânica Alex Moulton. Os desafios se intensificam: o gélido inverno japonês demanda cuidados com as motos e um grave acidente afeta as personagens.
Super Cub brinca muito com a paleta de cores. O anime reproduz a visão de mundo de Koguma, por isso trata as cenas com um tom mais acinzentado, passando uma sensação de frieza ao espectador que parece perdurar a série inteira, mas é com os pequenos momentos de êxtase da protagonista que o visual se transforma através de ventos sobre a personagem e o realce das cores do cenário. O encerramento dos episódios reflete isso de uma forma bem evidente.
Apesar disso, o fato da coloração se manter assim a série inteira acaba trazendo uma reflexão. Ora, temos uma menina triste que vê o mundo sem cores e tem pequenos momentos de felicidade onde as cores se iluminam; ela compra uma motocicleta e faz amigos, mas mesmo assim o mundo continua sem cores para ela, ainda que suas amizades e sua moto a tragam felicidade constantemente.
Assumindo a realidade de que ela se torna uma garota feliz que passa por pequenos momentos de muita felicidade, faria muito mais sentido trazer uma mudança gradual da paleta de cores com o desenvolvimento inerente da personagem, trazendo uma visão muito mais clara do estado de espírito da Koguma no decorrer da série.
O estúdio Kai, responsável pela produção da animação, é relativamente novo, mas já recorreu à alternativa de animar os veículos usando CGI. A técnica é frequentemente usada entre estúdios de animação, dada a complexidade de animar esses tipos de objetos em movimento. Porém, com um anime onde esse é o principal cerne, a qualidade em geral acaba comprometida.
Super Cub é um anime que me encantou pela simplicidade. Não era raro o sentimento de ansiedade para a chegada de um novo episódio na semana para assistir meninas andando de moto e desligar a mente da realidade e relaxar. O sentimento de felicidade da protagonista ao progredir se torna o sentimento do espectador, enquanto momentos de tensão afligem da mesma forma.
Super Cub está disponível em seus 12 episódios na Funimation. Ainda não há informações sobre uma possível continuação da adaptação.
Caio Alexandre é entusiasta de cinema, exibição, animes e cultura pop em geral. Escreve desde 2008 sobre os mais variados assuntos, mas sempre assumiu a preferência pelo cinema e sua tecnologia embarcada. Não dispensa um filme com um balde de pipoca e refrigerante com o boss no fim de semana. No TV Pop, fala sobre tudo que é tendência no universo da cultura pop. Converse com ele pelo Twitter, em @CaioAlexandre, ou envie um e-mail para [email protected]. Leia aqui o histórico do colunista no site.