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O SBT do futuro: os desafios de um negócio familiar para o amanhã

Silvio Santos posa ao lado de suas filhas e de sua mulher (foto: Reprodução/SBT)
Silvio Santos posa ao lado de suas filhas e de sua mulher (foto: Reprodução/SBT)

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Em vias de completar 40 anos em agosto, o SBT, como qualquer grande empresa, tem missões importantes para se manter vivo e relevante – mas com obstáculos ainda mais difíceis de serem vencidos se comparado à Record e à Globo. E antes de qualquer aprofundamento, este texto não questionará a sobrevivência da TV aberta enquanto um canal de distribuição de conteúdo. Essa é uma questão que deve ser superada. A TV aberta é um meio de comunicação gratuito e que sempre será relevante, mesmo que no formato linear.

Jornalismo, esportes, grandes eventos e prestação de serviço sempre serão demandados pelo telespectador – seja pela necessidade de se reportar imediatamente algo que acontece em determinado momento ou pela premissa de resumo, onde um amontoado de informações são condensadas e levadas para o telespectador de forma sintética e objetiva (e, portanto, se resume o que é um telejornal). As análises serão feitas em três pilares: programação, produção e gestão.

Programação: uma programação de TV pode ser fragmentada entre o que pode ser consumido a qualquer momento e o que só pode ser consumido naquele momento. Dificilmente alguém maratona o SP1 ou o Jornal Nacional. Novelas, talkshows, filmes e desenhos se encaixam no modelo de conteúdo que pode ser consumido a qualquer momento – e isso joga contra o SBT.

Dependendo do dia, ao somarmos os desenhos, a faixa de novelas da tarde e da noite, os filmes do horário nobre e o “The Noite”, são 12 horas de uma programação que o telespectador não tem porque ver na hora que o Silvio Santos quer. Tanto é que o canal do programa de Gentili no YouTube tem quase 10 milhões de inscritos que provavelmente se recusam a ver o programa pela madrugada para vê-lo quando quiserem.

À medida que o streaming ganha força e considerando que o SBT não possui nenhuma plataforma on demand que seja paga, como Globoplay e PlayPlus, como a emissora se sustentará? Como um canal que dedica poucos investimentos a programas que preencherão a grade no futuro, como jornais, compensará essa migração gradual da TV para o streaming? A emissora precisará ‘virar a chave’ e, com apoio de pesquisas e de inteligência de mercado, se preparar para este que é um caminho sem volta e que, mesmo que seja iniciado hoje, já estará atrasado.

Produção: o SBT inaugurou em 1996 o CDT, o Centro de Televisão da Anhanguera. São praticamente 300 mil metros quadrados com pouca justificativa de se existir nos dias de hoje. Há mais de dez anos não há nenhuma produção dramatúrgica ousada, com grandes ou numerosos cenários. As superproduções de realities, como “Ídolos”, ficaram para trás – e mesmo que voltassem, poderiam ser produzidos em produtoras, como a Record faz com o “Canta Comigo”. Os programas de auditório diários, como o “Casos de Família”, também não justificam se ter uma estrutura tão grande e onerosa.

Um dos caminhos para o SBT poderá ser a locação de estúdios para produtoras que gravam para Netflix e Amazon ou até mesmo emissoras concorrentes. O SBT possui o que muitas produtoras pleiteiam: estrutura pronta, com estúdios amplos, equipados e próximos de São Paulo. A Record já gravou novelas em Paulínia, no interior de São Paulo. Que mal haveria em uma reorganização de estúdios e locá-los para projetos da concorrência (com começo, meio e fim delimitados)?

Gestão: Claudio Galeazzi, sócio-fundador da Galeazzi & Associados, que presta consultoria de reestruturação de empresas e teve como clientes as Lojas Americanas, Estadão, Vila Romana, BRF, Grupo Pão de Açúcar, entre outros, citou um caso curioso em seu livro Sem Cortes que irei trazer para contextualizar a questão familiar

Ao ser convocado para recuperar a Cecrisa, fabricante de azulejos e pisos de Santa Catarina, fundada pelo já falecido Manoel Dilor, Galeazzi encontrou uma empresa com administração totalmente familiar e diversas torneiras abertas. Uma linha orçamentária da companhia lhe chamou atenção: a de ração para gansos – nada a ver com a atividade-fim, que era a cerâmica. Dilor tinha uma criação de gansos importados da Itália e gastava alguns milhares de dólares da empresa (e não seus, como deveria ser) com eles. Como mudar uma cultura como essa?

Não que Silvio Santos gaste com gansos, mas o cerne da discussão é que uma administração familiar é quase sempre carregada de vícios que partem de um CPF que impactam o CNPJ. Os ‘gansos’ do SBT estão espalhados por toda sua estrutura: seja pela existência de um clã de pessoas intocáveis que podem estar cerceando a inovação ou por produtos de gosto ou viabilidade comercial duvidosos como o Alarma TV, as intermináveis edições do Primeiro Impacto ou o longevo Bom Dia & Cia.

Como será o SBT após Silvio Santos se ausentar por completo das operações? Como as seis filhas irão se dividir entre papéis, responsabilidades e limites? Uma decisão que hoje é exclusiva de Silvio, passará a ser colegiada. As filhas terão maturidade e disposição para convergirem em prol da eliminação dos ‘gansos’ da emissora e na preparação dela para o futuro?

João Gabriel Batista é publicitário, com pós-graduação em Marketing and Sales na Escola de Negócios Saint Paul e MBA em Gestão Empresarial pela FGV. Tem 29 anos e atua com marketing há 11, com passagens por veículos de comunicação, como emissora de TV, rádio e jornal, e multinacionais do segmento de telecom. É analista de mercado e negócios no TV Pop, com publicação nas manhãs de terça-feira. Converse com ele por e-mail em [email protected]. Leia aqui o histórico do colunista no site.

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