A Jovem Pan está tentando correr atrás do prejuízo depois de ter perdido quase metade de seus telespectadores em menos de três meses. Para tentar fazer barulho entre o mercado publicitário, o canal de notícias decidiu mobilizar a sua assessoria de imprensa para divulgar índices tendenciosos de audiência, em uma tentativa de maquiar o momento ruim vivido pela emissora, que viu seu público migrar para outras plataformas de conteúdo. A estratégia da companhia passa, até mesmo, por descredibilizar os resultados de profissionais que tiveram bons resultados na empresa.
O TV Pop apurou que os resultados de ibope de setembro provocaram um clima de enterro no conglomerado controlado por Antônio Augusto Amaral de Carvalho Filho, o Tutinha. Ultrapassada até mesmo pela Record News, que habitualmente tem força apenas na televisão aberta, a Jovem Pan se apressou para divulgar um texto institucional omitindo os resultados acumulados ao longo das 24 horas do dia no Painel Nacional de Televisão, justamente para ocultar o fato de que a rede caiu para o terceiro lugar dos canais noticiosos no mês passado.
Com sua gestão questionada internamente, o diretor de Jornalismo André Ramos foi um dos nomes que mais se empolgaram com um possível sinal de recuperação da emissora: ele utilizou seus perfis nas redes sociais para festejar dados prévios de audiência, fazendo com que a empresa violasse o contrato de confidencialidade firmado com a Kantar Ibope Media. O instituto, responsável pela medição dos índices no território nacional, veta terminantemente que números não consolidados sejam divulgados pelos contratantes, justamente por serem índices passíveis de alteração.
Ramos, no entanto, ignorou a cláusula de confidencialidade que a Digital Seven — razão social da Jovem Pan News — assinou com a medidora: em uma série de publicações nas suas páginas, ele exibiu os índices prévios das edições de Linha de Frente e Três em Um exibidas em 4 de outubro. O executivo divulgou os números de ibope do canal e de seus respectivos rivais, e ainda arriscou uma provocação aos seus concorrentes. “Números não mentem”, bradou ele, comemorando que o programa comandado por Evandro Cini emplacou uma rara vitória diante da GloboNews.
Os índices divulgados pelo executivo, referentes ao Painel Nacional de Televisão, serviram ainda para estampar uma reportagem de um site especializado em entretenimento, que afirmou que os números eram referentes ao universo da Grande São Paulo, que sequer conta com aferição de audiência em tempo real dos canais da televisão por assinatura, serviço restrito — ao menos até este momento — ao Painel Nacional de Televisão, métrica que compila dados das 15 principais regiões metropolitanas no país.
André Ramos, de fato, está certo ao dizer que os números não mentem. Apenas um dia depois de festejar uma vitória atípica, a Jovem Pan News voltou ao seu patamar normal: o Linha de Frente perdeu 22% de seu público nesta quinta-feira (5) e voltou a ser superado pela CNN Brasil. O formato, agora mediado por Fernando Capez, registrou média de 0,21 ponto, contra 0,24 da segunda colocada e 0,93 da GloboNews. Na sequência, o Três em Um — líder na quarta com 0,40 ponto — despencou 58% e teve 0,17 ponto de média, quase quatro vezes menos que a GloboNews (0,66).
Ao lado de Os Pingos nos Is, os jornalísticos vespertinos são os principais responsáveis pela sangria nos índices do canal de notícias. Enquanto comandado por Tiago Pavinatto em 2023, o Linha de Frente nunca foi superado pela CNN Brasil e rivalizava com o Estúdio i, de Andréia Sadi, pela liderança dos noticiosos. O Três em Um, que chegou a ser a atração mais vista da rede quando era mediado por Paulo Mathias, passou a ter números residuais com Evandro Cini, prejudicando o carro-chefe da emissora, que chegava a desbancar o Edição das 18h sistematicamente.
A reportagem do TV Pop apurou que o comentário mais ouvido nos bastidores da Jovem Pan News é de que a emissora, que teve um início promissor justamente por servir como contraponto ao editorial da GloboNews, está se transformando em uma versão de baixo orçamento da CNN Brasil. Reservadamente, até mesmo medalhões do conglomerado admitem que a nova fase da emissora servirá apenas para que ela siga perdendo fôlego nas plataformas digitais e também na audiência televisiva, tendo que se contentar com as migalhas deixadas pelo canal de notícias da Globo.