Há algumas semanas, mais uma notícia de que a Netflix fará um considerável reajuste no preço de suas assinaturas no Brasil causou espanto entre os assinantes da plataforma. Agora, o plano mais completo do serviço de streaming ultrapassará a barreira dos R$ 50 — algo até então inédito, já que a cifra só era batida por plataformas que oferecem conteúdos premium, como transmissão ao vivo de eventos de futebol nacional. Em um momento em que o mercado está cada vez mais inchado e com mais concorrentes, o reajuste pode parecer uma loucura. Mas será que é mesmo?
A Netflix sempre foi sinônimo de “dar o próximo passo” ao decorrer da sua história, surgindo ainda na década de 1990 como um mero plano de negócios. Ela, porém, acabou derrubando a famosa locadora Blockbuster e conseguiu confirmar seu sucesso nos Estados Unidos — e no mundo — com o início da era do streaming. Porém, o êxito dela foi muito baseado em conteúdos de outras empresas e produtoras, que acabaram percebendo que podiam potencializar os seus lucros lançando seus próprios serviços. Agora, em 2021, vivemos um grande boom de plataformas.
Para cada nova plataforma que surge, mais e mais conteúdos aumentam o êxodo da Netflix. Friends, por exemplo, era um dos maiores sucessos mundiais do serviço e virou notícia por fato de sair da vermelhinha e ir parar no HBO Max, que tem conquistado espaço no país pela sua agressiva campanha de lançamento, com preços extremamente mais competitivos que as rivais. Agora, é a vez de Grey’s Anatomy, que migrará para um segundo serviço on demand da Disney, com nome ainda não definido — o imbróglio judicial pela marca Star+ continua rolando.
Para estancar a sangria em seu catálogo, a Netflix decidiu investir cada vez mais em conteúdos originais. No início, a empresa procurava qualidade, tendo House of Cards e Orange Is The New Black como seus principais atrativos. Isso, porém foi esquecido. Agora a empresa busca quantidade: afinal, melhor inflar a plataforma com vários produtos, pra chamar atenção e, se não der certo, cancelar como se nada tivesse acontecido. Nos últimos tempos, os anúncios das novidades mensais do serviço estão repletos de produtos originais — e poucos são realmente bons.
Acho que já ficou meio claro o motivo, certo? A empresa, diferente de companhias como a Disney e Warner, tem a sua principal operação no serviço de vídeo sob demanda, e evidentemente precisa ter lucro. No Brasil, o serviço não era reajustado há dois anos, e o aumento de produções feitas neste período foi considerável, até mesmo em atrações nacionais, encabeçadas por nomes renomados, como Leandro Hassum. As rivais, além de ter séries e filmes de peso, podem diminuir o preço facilmente, dominando o cinema e canais de TV, sendo fácil equilibrar as contas.
A questão que fica é se foi um bom movimento a se fazer. A Netflix sabe que tem a melhor tecnologia, está presentes em todos os dispositivos e já é dona de uma base bem sólida. Mas estamos no meio de uma crise, em que o real perdeu o valor e a inflação está nas alturas, e os novos players no mercado tirarem vantagem disto. O Globoplay mesmo fez uma propaganda com várias indiretas sobre o aumento promovido pela rival.
É esperar para ver se haverá uma perda considerável de assinaturas após esse aumento, assim como foi visto nos Estados Unidos, onde perderam quase meio milhão de assinantes.
Mateus Ribeiro é engenheiro por formação, e nas horas vagas se diverte maratonando séries e assistindo programas de origem duvidosa da televisão brasileira. No TV Pop, escreve semanalmente sobre as séries produzidas pela indústria norte-americana. Converse com ele pelo Twitter @omateusribeiro. Leia aqui o histórico do colunista no site.