Lembra da Simba Content? A empresa criada pela Record, SBT e RedeTV! e responsável por provocar a suspensão da transmissão das emissoras por cinco meses nas operadoras de televisão por assinatura na Grande São Paulo e no Distrito Federal segue firme e forte, e está atravessando o seu primeiro período de renovações de contrato. E, assim como aconteceu há quatro anos, as conversas não tem sido animadoras para o trio. A companhia exigiu da Claro, a maior operadora de TV paga do país, um aumento de 8% na remuneração por assinante já a partir de setembro, mês do vencimento do atual contrato. A multinacional não curtiu a ideia e tem se mostrado relutante com o novo acordo.
A Claro, no acordo firmado em setembro de 2017, aceitou pagar para a empresa R$ 0,57 por cada emissora. Em junho, a operadora tinha uma base de 6.600.000 clientes — com isso, o gasto anual da companhia com a Simba ultrapassa a casa dos R$ 135 milhões. Na nova proposta, a joint-venture dos canais abertos quer que o valor seja imediatamente reajustado para R$ 0,6156, o que já provocaria um incremento superior a R$ 11 milhões por ano.
A proposta desagradou a líder da televisão por assinatura. O TV Pop apurou que além do reajuste imediato, que teria validade já a partir de setembro, o trio exige que a dona da antiga Net promova reajustes anuais em 2022 e 2023 (anos em que a atual proposta contratual estaria válida) com base no IPCA. O índice, que é aferido de forma mensal, já está acumulado em 7,27% neste ano. Ou seja: considerando que a porcentagem fique estável durante os próximos dois anos e que a operadora não perca clientes, as emissoras chegariam em setembro de 2023 faturando quase R$ 33 milhões a mais do que atualmente pela distribuição dos sinais.
Além de aumentar a remuneração prevista pela tradicional transmissão na Claro TV, a Simba Content também já está em busca de uma parceria com o novo serviço da companhia. Há alguns meses, a operadora lançou o serviço Claro Box, que funciona da mesma forma que uma TV por assinatura normal, mas com transmissão dos sinais através da modalidade IPTV, como uma plataforma de streaming. O serviço, que já cresce rapidamente, ainda não conta com a Record, SBT e RedeTV!.
Se a Claro quiser exibir as três emissoras abertas em seu novo produto, ela terá que desembolsar R$ 0,95 para cada assinante da plataforma. De acordo com uma estimativa feita pelo trio, o serviço já conta com 150 mil assinantes, e deverá alcançar meio milhão de clientes em dezembro. Com isso, a Simba faturaria mais de R$ 17 milhões apenas com a liberação da exibição dos canais na plataforma — cada emissora ganharia R$ 5,7 milhões, já que o valor é dividido de forma igualitária entre as três membras da sociedade.
E agora?
Nas reuniões realizadas nas últimas semanas, a Claro já sinalizou que não está disposta a conceder um aumento tão generoso para uma empresa que não cumpriu com as suas obrigações nos primeiros anos de contrato. Para chegar a um acordo com a operadora em 2017, a Simba sinalizou que planejava investir na montagem de conteúdos próprios para a TV por assinatura, como a criação de um canal exibindo parte do acervo dos três canais. O projeto nunca nem chegou perto de sair do papel, e a companhia seguiu apenas responsável pela Record, SBT e RedeTV!. Para não dizer que o trio nunca fez nada, ele atuou na co-produção de alguns filmes nacionais, como Turma da Mônica: Laços.
O TV Pop apurou com fontes próximas ao negócio que a líder de mercado da televisão paga até tem interesse em um novo acordo com a programadora, mas que ela terá que ceder em vários pontos. Para o time de conteúdo da América Móvil, empresa mantenedora da Claro, deixar de contar com as três emissoras (que representam uma grande parcela da audiência da TV por assinatura) pode representar uma fuga ainda maior de assinantes, e por isso é necessário ter uma maior flexibilidade nas negociações. A equipe de gestão da empresa, no entanto, não quer nem saber: para eles, um aumento neste momento beira o inconcebível, ainda mais da forma que foi proposto pela Simba Content.
A próxima reunião das companhias acontecerá em 2 de setembro, seis dias antes do vencimento do atual contrato. A tendência é de que as negociações sejam prorrogadas por mais tempo, já que ambas as partes ainda não chegaram a um denominador comum. Diante disso, para evitar que a transmissão das emissoras seja suspensa mais uma vez, um aditivo contratual prevendo a manutenção dos sinais durante as negociações deverá ser assinado nos próximos dias.
O impacto da TV paga na audiência
A Record, o SBT e a RedeTV! estão entre as maiores audiências do país na televisão aberta e também entre o público consumidor da televisão por assinatura. De acordo com dados consolidados do Painel Nacional de Televisão, a média do trio nas 24 horas do mês de julho foi de 8,38 pontos, marca que representa a sintonia de cerca de seis milhões de telespectadores, considerando as duas formas de transmissão — em junho, todas as operadoras de payTV alcançaram a marca de 13 milhões e 870 mil assinantes.
Um levantamento obtido pela reportagem do TV Pop mostra que dos seis milhões de telespectadores das emissoras representadas pela Simba, 1.603.862 acompanham os canais através de operadoras de TV paga. Caso um novo corte de sinal seja aprovado, o trio voltaria a enfrentar um impacto considerável em sua audiência mensal.
Levando como base os dados aferidos em julho, a RedeTV! seria a mais impactada: sem ser transmitida pelas operadoras, ela veria 33% de seu público simplesmente desaparecer, indo de 0,39 para 0,26 ponto, ficando atrás do SporTV (0,31) e bem próxima da GloboNews (0,23) e do Viva (0,21), que são exibidos exclusivamente na TV por assinatura. Em um eventual corte de sinal em todas as operadoras, a Record perderia 29% de sua audiência, caindo de 4,26 para 3,03 pontos de média. O SBT seria o menos afetado, com fuga de 24%, indo de 3,73 pontos para 2,85.
A Globo, líder de mercado em ambos os setores e que não está envolvida com a Simba Content, foi acompanhada por 8.341.516 telespectadores no mês passado, com uma média de 11,65 pontos. 33% desse público vem justamente das operadoras de televisão por assinatura: 2.792.439 pessoas assistem o canal em empresas como a Claro, Sky e a Vivo.