Renata Varandas foi demitida pela Record no final da tarde desta quarta-feira (17). A jornalista, que atuava como apresentadora substituta do Jornal da Record e era a principal repórter do canal em Brasília, teve o contrato rescindido depois que a emissora descobriu o seu envolvimento com uma agência de análise política e financeira. A empresa, que não era de conhecimento da direção da rede, foi a responsável por vazar trechos descontexualizados da entrevista do presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao mercado financeiro, provocando uma oscilação na cotação do dólar.
A íntegra da entrevista de Lula ao Jornal da Record foi transmitida apenas na noite de terça-feira (16). Porém, mesmo antes da divulgação oficial da conversa do político com Renata, oficializada pela emissora pouco antes das 14h, trechos da exclusiva do principal telejornal da rede já circulavam em um texto da corretora BGC, contratante dos serviços da Capital Advice, empresa de que a jornalista é sócia. Em uma fala vazada, o presidente teria dito que não se convenceu sobre a necessidade de cortes orçamentais, e que a meta fiscal não precisaria, necessariamente, ser cumprida.
De acordo com informações da Folha de S.Paulo, a exposição antecipada e descontextualizada da entrevista de Lula acabou provocando um salto na cotação do dólar, pois analistas avaliaram que as falas do político provocaram ruídos de incertezas fiscais. No final do dia, a moeda recuou e fechou em baixa. Os trechos da conversa do político com Renata Varandas foram revelados pela BGC por volta das 13h, uma hora antes da Record divulgar oficialmente os primeiros fragmentos do conteúdo que seria exibido em seu telejornal.
Apresentadora do Jornal da Record tinha emprego paralelo
Em seu site oficial, a Capital Advice se anuncia como uma “casa de análise política referência no Brasil e no exterior”, especializada em “apurar e organizar informações fundamentais aos clientes, traçando cenários que auxiliam na tomada de decisões de alocação de recursos”. De acordo com o banco de dados da Receita Federal, consultado pela reportagem do TV Pop, Renata Varandas é sócia-administradora da empresa, ao lado das também jornalistas Mariana Londres e Flávia Mesquita — o CNPJ foi aberto em dezembro de 2020.
Renata, no entanto, dava expediente na Record há quase duas décadas: ela foi contratada em 2007, depois de passagens pela Rede Amazônica (afiliada da Globo) e pela assessoria de imprensa do Senado Federal, inicialmente para apresentar a versão local do Tudo a Ver produzida e exibida em Brasília. Com o fim do programa, ela foi deslocada para a reportagem dos telejornais regionais e, posteriormente, promovida para o posto de repórter dos noticiários nacionais. Em junho do ano passado, ela estreou como âncora do Jornal da Record, cobrindo folgas e férias dos titulares.
A Record, até o momento da publicação deste texto, não se manifestou oficialmente sobre a demissão de Renata Varandas. No início do dia, a emissora emitiu um comunicado oficial, em que dizia ter sido pega de surpresa com a notícia de que a sua agora ex-funcionária tinha relação com uma empresa de análise política. Confira a íntegra do posicionamento do canal:
A Record esclarece que soube da ligação da repórter Renata Varandas com a Capital Advice somente após a divulgação do release pela agência. A emissora deixa claro que condena qualquer vazamento de informações, principalmente com recorte parcial do que é apurado em entrevistas feitas por nossas equipes. Medidas cabíveis serão tomadas com a apuração dos fatos.