Roberto Kovalick é o nome mais citado nos corredores da Globo para suceder Rodrigo Bocardi no Bom dia São Paulo. O jornalista, que está há quase 6 anos no comando do Hora 1, não esconde a insatisfação com sua atual jornada de trabalho. Para amigos e colegas mais próximos, ele já sinalizou que não deseja ficar muito mais tempo no comando do noticioso que abre a programação diária do canal, sob a justificativa de que não quer mais ficar sem dormir — para comandar o telejornal, do qual também é editor-chefe, ele troca o dia pela noite, jantando em pleno meio-dia.
Desde setembro de 2019 no comando do Hora 1, o ex-correspondente internacional precisou adotar um estilo de vida peculiar: além de jantar no horário em que grande parte dos brasileiros se preparam para o almoço, o jornalista precisa almoçar às 8h da manhã. Para conseguir dormir durante a tarde, por volta das 15h, ele precisou virar cobaia de um experimento criado pensando na performance esportiva de atletas que disputariam torneios em Tóquio. Kovalick usa até óculos escuros dentro de sua casa, em uma movimentação feita, segundo ele, para “enganar o cérebro”.
Não foram poucas as ocasiões nos últimos anos em que Roberto Kovalick precisou se afastar do trabalho por conta de problemas de saúde. Habituado a acordar às 23h para dar expediente nas instalações da Globo a partir da meia-noite, o jornalista deixou de ter uma vida social há vários anos. Não é uma novidade no canal que ele gostaria de ter mais tempo ao lado de sua mulher, a também jornalista Karina, e de sua filha. Nos últimos meses, segundo apurou a reportagem do TV Pop, ele procurou a chefia da emissora em várias ocasiões pedindo por um novo projeto.
Em todas as ocasiões, no entanto, o jornalista acabou ouvindo a mesma resposta: que não havia espaço para remanejamento na grade de programação da empresa. Até então, a emissora tinha como ideia fixa que só voltaria a fazer mudanças radicais na bancada de seus noticiosos depois da aposentadoria de William Bonner, que não deverá acontecer antes de 2026. Os planos da rede mudaram diante da demissão de Rodrigo Bocardi, flagrado em uma violação aos princípios éticos impostos aos colaboradores (comenta-se que ele foi denunciado por outro âncora do canal).
A súbita saída do titular do Bom dia São Paulo virou uma imensa dor de cabeça para os executivos da Globo. Há o entendimento de que Bocardi foi responsável por dar relevância ao telejornal, que em um passado não tão distante chegou a sofrer com a concorrência da Record e do SBT. Uma movimentação equivocada no noticioso poderia fazer estragos no ibope de outros matinais, historicamente dependentes dos índices herdados pelo telejornal local — há algumas semanas, em um dia ruim do formato, o Fala Brasil e o Hoje em Dia chegaram a superar o Encontro.
O possível remanejamento de Kovalick surgiu nos bastidores como uma solução ideal para todos os problemas provocados pela saída de Rodrigo Bocardi. Profissional experiente, ele já esteve a frente do Bom dia São Paulo em outras ocasiões, mesmo depois que assumiu a titularidade do Hora 1, e conta com forte identificação com o público paulistano. O seu comportamento fora das câmeras também é visto como exemplar: o jornalista não ostenta nas redes sociais e tampouco dá sinais de que poderia ter relações promíscuas com políticos ou empresas de outros setores.
Uma eventual substituição no Hora 1 é interpretada como um problema mais fácil de ser resolvido. Diferentemente do telejornal local, que conta com concorrência da Record, Band e do SBT, o matinal que abre a programação diária da Globo nada de braçada durante a sua primeira hora de exibição, das 4h às 5h, disputando público apenas com um fraco jornalístico do SBT, que herda números baixíssimos da madrugada da rede. Ana Paula Campos, reserva imediata de Kovalick, é vista como escolha natural para a vaga — ela mantém os índices do titular em suas férias e folgas.
Procurada pela reportagem do TV Pop, a Globo não se manifestou até a publicação deste texto.