Você pode ser uma pessoa começando a ver séries agora ou há algum tempo deve ter se deparado com seriados de temática adolescente, mostrando os dramas no colegial e os primeiros relacionamentos (com o passar dos anos sempre surge uma nova para que possa se comunicar com um novo público). Nos Estados Unidos, o High School (equivalente ao nosso Ensino Médio) dura quatro anos, mas muitas vezes, por audiência, as séries ultrapassam esse tempo, e Riverdale é uma série que atualmente passa por esse processo.
Devido a paralisação causada pelo coronavírus, a transição foi adiada alguns episódios na atual quinta temporada para que seus personagens pudessem graduar e se despedir de alguns atores que interpretavam os pais dos protagonistas. E nas últimas semanas houve um salto temporal de sete anos, para que os personagens pudessem ser desenvolvidos como adultos e com novas tramas.
Um veterano de guerra, um escritor fracassado, uma agente do FBI em treinamento — e com problemas psicológicos — e uma mulher casada com problema matrimoniais. É a partir disso que os quatro protagonistas de Riverdale começam a trama após o salto temporal. Cada um em um canto dos Estados Unidos, se juntando para salvar a cidade de uma destruição total. No meio do caos que voltamos a ver a cidade, a série ainda mantém todo um mistério, assim como nas outras temporadas, com seriais killers. Mas dessa vez como adultos, espero que não precisemos voar tanto (como uma adolescente desarmando uma bomba na sede do FBI).
Mas a trama da CW não é a única que procurou um jeito de continuar a série. O uso do salto temporal nessas séries adolescentes é mais pelo fato de cada personagem ir para uma faculdade diferente e usar um motivo em que todos possam se reunir no mesmo local e voltar com os mesmos romances da adolescência. One Tree Hill – Lances da Vida, após sua quarta temporada, por exemplo, também utilizou do salto temporal de quatro anos. Além de ser um recurso disponível, foi o único que o criador da série encontrou após fechar todas as tramas, pois série corria risco de ser cancelada na temporada anterior.
Outro meio que posso citar é a estratégia usada em Gossip Girl – A Garota do Blog. Após sua segunda temporada, os roteiristas simplesmente jogaram fora o sonho de uma das suas protagonistas, Blair, de ir pra Faculdade de Yale, para que ela pudesse continuar no Upper East Side estudando na NYU. Ainda dividiram outros personagens entre NYU, Columbia e alguns que resolveram não cursar o ensin superior, como Serena.
Já em Glee, o criador de sua série fez um movimento um pouco ousado. Sendo apaixonado por sua protagonista Rachel, interpretada por Lea Michele, Ryan Murphy dividiu a série em duas numa só ao invés de fazer um spin-off. Então acompanhamos novos alunos no coral do colégio e as aventuras de Rachel e outros formandos em Nova York, formato que durou uma temporada e meia. Com a morte de Cory Monteith, reclamações constante de fãs querendo ver os personagens “originais”, ataques de estrelismos de Lea Michele (a ponto de afastar outros atores) e a queda em audiência, a série voltou a se passar exclusivamente no colégio em sua sexta e última temporada (ainda contando com Lea no elenco).
Posso passar o dia inteiro escrevendo sobre as séries adolescentes e suas tentativas de continuar após o colégio, exemplos suficientes para escrever uma monografia, mas, no fim, a audiência é abalada se o plano não for tomado com cuidado ou caso os espectadores não comprem a ideia ou não cresçam junto com as tramas. Para o próximo ano, temos que ver qual será o caminho adotado para All American e Euphoria.
Mateus Ribeiro é engenheiro por formação, e nas horas vagas se diverte maratonando séries e assistindo programas de origem duvidosa da televisão brasileira. No TV Pop, escreve semanalmente sobre as séries produzidas pela indústria norte-americana. Converse com ele pelo Twitter @omateusribeiro. Leia aqui o histórico do colunista no site.