Autor da trilogia Os Mutantes na Record, Tiago Santiago revelou que houve censura da Igreja Universal à história dos folhetins exibidos entre 2007 e 2009. Em conversa com a jornalista Kelly Miyashiro, do Notícias da TV, o roteirista disse que um romance LGBTQIA+ poderia ter sido mais explorado. “A maior interferência foi não deixarem fazer o beijo gay, uma bobagem”, disse ele.
“Em Os Mutantes, a maior interferência foi não deixarem fazer o beijo gay, uma bobagem, porque tem gente que até hoje não vê a homossexualidade como algo absolutamente natural”, criticou. O beijo aconteceria entre os personagens Danilo (Cláudio Heinrich) e Bené (Deo Garcez) em Os Mutantes – Caminhos do Coração (2008), segunda parte da trilogia.
Em 2011, Santiago escreveu Amor e Revolução (2011) no SBT, que exibiu um histórico beijo entre duas mulheres. Na conversa com a publicação, o autor diz não ter aborrecimentos com a emissora paulista, mas lamenta a falta de ambição da diretoria em produzir histórias diferentes da Bíblia por interesses religiosos.
“Ajudei a construir o núcleo de teledramaturgia da Record, trouxe muita gente boa que está lá até hoje e vejo com preocupação o movimento de substituição de profissionais de TV, em todas as áreas, por pessoal da IURD [Igreja Universal do Reino de Deus]”, conta.
“Se eu fosse a Cristiane Cardoso ou o Edir Macedo, ia querer me cercar dos melhores e realmente criar produtos para disputar a liderança [no Ibope]. Tive problemas durante o tempo em que estive lá, por incompetência do Honorilton Gonçalves e do Hiran Silveira, como falta de pontualidade para entrar com o produto no ar, comerciais de seis a sete minutos”, revelou.
“Falta de crossmedia profissional com valorização dos artistas e novelas nos programas de auditório e reportagens da emissora, a criação de um elenco gigante quando não havia necessidade, o endividamento da empresa com a construção de novos estúdios”, disse ele.
O último trabalho de Santiago exibido pela Record foi a série Na Mira do Crime, em 2015, produção dele na extinta Fox. “Não sou contratado da Record desde 2009, mas ainda associam meu nome à emissora porque fiz muito sucesso lá. Trabalhei muito mais tempo na Globo do que em qualquer outra emissora do Brasil. Não há comparação entre o profissionalismo da Globo e o da Record”, finalizou.