Diversos virais surgiram nos últimos anos, originando desafios e oportunizando carreiras de cantores promissores, seja por músicas com letras pegajosas ou clipes que despertavam a curiosidade do público. Essa experiência foi vivenciada no final da década de 2000 em que Lady Gaga e Beyoncé capturaram a atenção do público com videoclipes que simplesmente não saíram do imaginário pop desde então.
De lá pra cá, vários outros virais surgiram e marcaram seu espaço com desafios e memes, apesar de na maioria das vezes não passarem simplesmente disso. Mas com o espaço que as redes sociais passaram a ocupar, novas tendências surgiram e novas necessidades estratégicas também, o que poderia tornar tudo mais simples, mas, ao mesmo tempo, mais complicado.
Uma dessas redes sociais é o TikTok, lançado a partir de um aplicativo chinês e popularizado a partir da fusão com o Musical.ly, outro aplicativo que atraiu diversos usuários a partir de 2014. Com a principal função de estimular o compartilhamento de vídeos, o aplicativo gerou e gera diversas personalidades da mídia que fazem conteúdos de humor e cotidiano, sempre com a música presente, mesmo que de maneira não-intencional. A partir da popularização de desafios de dança, as músicas usadas nos vídeos passam de mero adorno para principal ferramenta dos usuários para gerar visualização e engajamento.
No início, isso poderia ser só um movimento desinteressado, mas muito significativo para redefinir as estratégias musicais que temos hoje. O primeiro grande caso a ser citado é o de Old Town Road, de Lil Nas X. O cantor lançou a música de forma independente e, como usuário do TikTok, passou a promover desafios para a divulgação do seu trabalho. Foi assim que surgiu o hit que se tornou o mais longevo no topo da Hot 100 americana. Com isso, Lil Nas X saiu do status de artista independente para um contrato com a Columbia Records, que relançou a música com a participação de Billy Ray Cyrus, pai de Miley. Podemos somar ainda a visibilidade de um novo artista de rap, com as bandeiras antirracista e LGBTQ+.
Se representatividade importa, isso é o que a plataforma de vídeos mais pôde proporcionar desde então. Em 2019, Lizzo já estava contratada de uma grande gravadora, com divulgação de suas músicas, mas viu tudo ser atropelado ao ver um single de 2017 atrair a atenção a partir do uso em um filme da Netflix e gerar desafios no TikTok. Truth Hurts também alcançou o topo dos charts nos Estados Unidos e ao redor do mundo, mesmo depois de quase 2 anos após seu lançamento. Um sleeper hit já é bom, mas imagina dois.
A artista resgatou outro single, Good as Hell, de 2016, e acabou entrando novamente no top 10 de diversos países. A imagem dela se tornou fonte de inspiração pela sua confiança em um corpo maior, mesmo que o peso do título não a agrade da melhor forma, pois deveria ser óbvio que todos devemos ser confiantes, seguros e amantes de nossos corpos.
A fórmula parece simples, mas não existe regra, a bem da verdade. A popularidade dada às músicas parte, única e exclusivamente, dos usuários. Nenhuma estratégia pode atrair as pessoas a querer fazer parte dela se não houver motivos para isso. A curiosidade é que os desafios surgem a partir da letra das músicas e o quanto é possível sugerir uma coreografia, quase que literal, do que é cantado. A melodia da música também é essencial para definir se vai ser compartilhada em vídeos em que o cotidiano é pano de fundo, transformando o Chillhop e o Bedroom Pop em tendências musicais que conquistaram o público e a crítica musical.
O novo exemplo, a se dar atenção, é o de Kali Uchis. A música Telepatía, que faz parte de seu último álbum, conseguiu o feito de viralizar entre os tiktokers e agora é a terceira música mais ouvida do Spotify americano, além de ter sido a primeira entrada da colombiana a entrar na parada oficial dos Estados Unidos.
Mesmo com todos os boicotes e as tentativas de demonizar o aplicativo, até por figuras políticas das mais controversas, a popularidade do TikTok não demonstra ser passageira. Hoje é possível ver a marca presente em videoclipes, comerciais e até reality shows. O principal motivo é que o estímulo para a geração de conteúdo e apoio entre os usuários é constante e ainda vai fazer surgir mais figuras influenciadoras, músicas capazes de fazer sucesso e artistas que vão capturar a atenção fora das dancinhas que são reproduzidas e compartilhadas por milhões de pessoas.
Gabriel Bueno é publicitário de formação, atua no mercado desde 2013 nas áreas de criação, mídia e produção. Viciado em acompanhar música, sempre disposto a comentar premiações, álbuns, videoclipes e tudo que envolve o meio musical. É o autor da coluna Decifrando, publicada no TV Pop nas manhãs de quarta-feira. Siga o colunista no Twitter: @GabrielGBueno_. Leia aqui o histórico do colunista no site.