A Globo demitiu nesta sexta-feira (11) Vinicius Coimbra, diretor artístico de Nos Tempos do Imperador, dois anos após denúncias de racismo por parte do elenco. Ele havia sido afastado temporariamente dos trabalhos nos Estúdios Globo em fevereiro. “Fui comunicado do meu desligamento da Globo, por assédio moral”, disse Coimbra à colunista Carla Bittencourt, do site Notícias da TV.
“Nas últimas semanas, muito foi dito a meu respeito. Por isso, agradeço àqueles que prezaram por uma apuração responsável dos fatos, sem atribuir a mim atitudes que não condizem com a minha índole ou que não são da minha competência”, diz o profissional, que iria comandar as gravações de Mar do Sertão, próxima novela das seis da emissora.
“Como homem branco, porém, reconheço minha responsabilidade por atitudes que reproduzem privilégios. Eu sinceramente não gostaria que isso tivesse acontecido e estou empenhado para que não se repita. Desculpei-me à época e me desculpo novamente. Reafirmo meu profundo respeito pelo elenco da novela. Quero poder contribuir para juntos repararmos esta situação e construirmos um futuro melhor”, finalizou.
Após o afastamento de Coimbra dos trabalhos na Globo, a emissora escalou Allan Fiterman, que dirigiu Quanto Mais Vida, Melhor!, para assumir a próxima trama das seis. Procurada pela publicação, a Comunicação da rede informou que “a Globo não comenta questões relacionadas a compliance, em razão do compromisso de sigilo previsto em nosso Código de Ética”.
Na época em que a notícia sobre as denúncias de racismo nos bastidores de Nos Tempos do Imperador veio à tona, Vinicius Coimbra não comentou as acusações e disse que respeita o elenco e que é a favor do diálogo. “O elenco da novela tem todo o meu respeito e admiração. Sou a favor do diálogo e acredito que todas as discussões sobre o tema são necessárias”.
Entenda o caso
Segundo a colunista Carla Bittencourt, do Notícias da TV, as atrizes Cinnara Leal, Dani Ornellas e Roberta Rodrigues procuraram a Globo para reclamar do comportamento de Coimbra e sua equipe. Os diretores Ricardo Waddington, dos Estúdios Globo, e José Luiz Villamarim, de Dramaturgia, foram avisados das queixas das artistas e disseram a elas e seus representantes que providências seriam tomadas. Como as gravações de Nos Tempos do Imperador começaram em 2020 e não houve mudança nas posturas da direção e produção da trama, Cinnara, Dani e Roberta fizeram queixa formal no departamento de compliance da líder de audiência.
As atrizes relataram que Vinicius Coimbra e sua equipe tinham falas preconceituosas e que fizeram segregação entre os atores da novela. Nos bastidores da novela das seis da Globo, as pessoas entre elenco branco e negro eram separadas, incluindo nos camarins. Na reclamação ao compliance, Cinnara, Dani e Roberta citaram o episódio em que a trama derrapou ao retratar o “racismo reverso” envolvendo os personagens Samuel (Michel Gomes) e Pilar (Gabriela Medvedovski). A cena levou a autora Thereza Falcão a pedir desculpas, e Coimbra insistiu para que as atrizes e outros artistas negros defendessem a trama em entrevistas e redes sociais. Depois, a Globo contratou uma consultoria para fazer uma revisão histórica e apontar os erros no texto da trama.
Ainda de acordo com a publicação, Leticia Sabatella e Gabriela Medevedovski, intérpretes de Thereza e Pilar, foram citadas na queixa ao setor de compliance da Globo. Elas defenderam as três atrizes em situações nos bastidores de Nos Tempos do Imperador e, ao lado de Maicon Rodrigues, que deu vida a Guebo na história, tentaram resolver o impasse entre os diretores e as atrizes. Elas aguardam, por orientação jurídica, o fim da investigação interna para decidirem se vão processar a Globo e Coimbra na Justiça comum. Por causa dos acontecimentos, Cinnara, Dani e Roberta estão fazendo tratamento psicológico.
