A Justiça de São Paulo rejeitou denúncia feita pelo Ministério Público contra o comentarista político Adrilles Jorge, da Jovem Pan, que foi acusado de fazer uma suposta saudação nazista no encerramento do Opinião. Em fevereiro, ao se despedir dos telespectadores da atração, que debatia o caso do youtuber Monark, o ex-participante do Big Brother Brasil fez um gesto considerado pelo Ministério Público como a reprodução do “sieg heil”, saudação usada por Hitler e seus apoiadores na Alemanha nazista.
“O nazismo matou 6 milhões de judeus, o comunismo matou mais de 100 milhões de pessoas e hoje é visto aqui no Brasil como uma coisa livre, absolutamente liberada, com partidos normalizados”, afirmou o comentarista, que levantou a mão direita para se despedir. O caso foi criticado nas redes sociais e internautas associaram o gesto à saudação nazista. O apresentador do programa, William Travassos, ficou estarrecido com a atitude do colega. “Surreal, Adrilles”, disse ele. O comentarista Diogo Schelp, que também participava do debate, não escondeu o constrangimento. Adrilles chegou a ser demitido pela Jovem Pan, mas foi recontratado pela emissora semanas depois.
Em entrevista para a jornalista Marcela Ribeiro, do NaTelinha, Adrilles Jorge falou sobre a volta ao grupo de comunicação liderado pelo empresário Antônio Augusto do Amaral Carvalho Filho, o Tutinha, que foi quem o procurou para convidar para voltar à emissora. “Voltei para a Jovem Pan e acho que não deixa de ser, não um reconhecimento de um erro, mas um reconhecimento de que o cancelamento que foi feito contra mim foi absolutamente covarde e maluco”, afirmou.
“Claro que fiquei magoado, mas entendi a justificativa do Tutinha [pela demissão], você tem um tanto de marcas pedindo a cabeça de alguém por uma falsa acusação… Aí o cara que é empresário, que tem que pagar salário, manter uma estrutura, que depende dessas marcas para a sobrevivência, ele é obrigado pela pressão econômica a demitir a pessoa. É assim que opera o cancelamento”, disse Adrilles.
De acordo com informações do colunista Rogério Gentile, do UOL, a promotora Maria Fernanda Pinto afirmou na denuncia que acusou Adrilles de “praticar, induzir e incitar a discriminação ou preconceito de raça, sob a forma de saudação nazista”. Segundo ela, o comentarista da Jovem Pan nunca havia feito tão gesto em suas 60 participações no programa. “O contexto evidencia que o gesto nazista foi a maneira não verbal do denunciado de reafirmar os argumentos anteriores [feitos durante o programa] no sentido de que o nazismo foi menos ruim historicamente que o comunismo, revelando, pelo gesto, a própria preferência dentre os regimes”, afirmou a promotora.
No entanto, o juiz Márcio Falavigna Sauandag não concordou com a argumentação. Na decisão em que rejeitou a denúncia contra Adrilles, o magistrado declarou que o comentarista fez um discurso “amplamente desfavorável” ao nazismo, ainda que tenha afirmado que o comunismo foi muito pior. “Tanto é verdade que, durante a fala de um colega de discussão, ele disse que ‘infelizmente’ ainda existem movimentos neonazistas”, disse o meritíssimo.
O juiz ainda disse que o gesto “abjeto e asqueroso, não pode ser pinçado e isolado do contexto que o antecedeu”. Na avaliação do magistrado, Adrilles não cometeu “uma ação livre e consciente tendente a difundir a ideia de segregação ou superioridade entre seres iguais”. “Do episódio, espera-se, unicamente, a reflexão do acionado”, disse ele na sentença. O Ministério Público ainda pode recorrer da decisão.