Intérprete do mordomo Silveirinha em A Favorita (2008), Ary Fontoura cuspiu de verdade no rosto de Claudia Raia em cena da trama que será reprisada pela primeira vez na Globo a partir de 16 de maio no Vale a Pena Ver de Novo. Em entrevista à coluna de Mônica Bergamo, na Folha de S.Paulo, o ator de 89 anos relembrou o que havia sentido durante as gravações da história de João Emanuel Carneiro. Na sequência, a protagonista descobre que o personagem vivido por ele é aliado de Flora (Patrícia Pillar), sua rival. ”É uma cena cruel. Estávamos tomados pela emoção. Começamos a brigar e foi indo, foi indo, foi indo e as coisas aconteceram, eu cuspi de verdade na Claudia. É claro que a gente não pode perder a razão, mas há cenas que são tão envolventes que temos que tomar muito cuidado para não ultrapassar limites”, disse ele. “Nós [atores] batalhávamos pelo melhor”, disse Ary Fontoura.
Em 2020, em entrevista na época em que A Favorita foi disponibilizada no Globoplay, Claudia Raia também lembrou que o momento só foi possível pela entrega e intimidade que existiam entre os atores. “A cena do cuspe foi uma loucura. A Donatela pega o Silveirinha com a Flora, entra ali e dá de cara com a traição. Ele, que parecia um mordomo fofo, querido, é um vilão da pior espécie, que não vale nada”, disse a artista na ocasião. “Eu falava muito, falava horrores pra eles. Nós passamos [a cena] e não tinha o cuspe, não estava escrito isso. A gente começou a fazer e aquele ódio [da personagem] veio vindo, pegando fogo. Eu falava na cara dele, bem perto, ficamos cara a cara, e vi que ele ficou transtornado. Na hora pensei: ‘Nossa’. Do nada, ele cuspiu na minha cara”, lembrou a atriz.
“Ficou aquela pausa que você não ensaia. É genuína, dependendo do que é feito ali. Me deu um ódio daquele cuspe. Mas achei incrível, eu amei [o resultado], achei que deu aquela levantada [na cena]”, opinou. Segundo Claudia Raia, após o fim da gravação, todos no estúdio os aplaudiram. “Essa cena ficou pra sempre, falo sempre dela. É a intimidade dos atores. Imagina se o Ary pensasse: ‘Se eu cuspir na cara da atriz, ela vai ficar puta’. Não pode. Essa coisa tão visceral, tão unida, nos deu a liberdade para que a gente criasse, arriscasse. Nunca imaginei levar uma cusparada na cara, e olha que eu já passei por muita coisa na vida”, finalizou.