Chefe de jornalismo investigativo da Globo no Rio de Janeiro, Tyndaro Menezes foi demitido pela emissora na última terça-feira (17). O nome do jornalista aparece em uma investigação do Ministério Público do Rio sobre um negócio suspeito na área da saúde em que estão envolvidos o empresário Arthur César de Menezes Soares Filho, o Rei Arthur, e o delegado Ângelo Ribeiro de Almeida Júnior, afastado da Polícia Civil acusado de corrupção.
De acordo com informações do site SBT News, o ex-titular da Delegacia Fazendária fluminense foi denunciado na semana passada por corrupção e lavagem de dinheiro pelo recebimento de R$ 2 milhões de propinas do empresário. Os promotores do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) anexaram um adendo à denúncia criminal contra Rei Arthur e Almeida Júnior para abrir novos procedimentos criminais. Eles relatam no documento que supostos outros ilícitos foram descobertos nas investigações.
Em um dos casos, o delegado estaria intermediando para fornecimento de insumos para uma grande rede de hospitais. “O envolvimento de Tyndaro Menezes com o denunciado Ângelo Ribeiro fica ainda mais evidente no e-mail, enviado pelo denunciado a pessoa não identificada, onde ele expressamente afirma que iria repartir com o jornalista parcela do valor percebido”, afirma o Gaeco. A Globo disse em nota que não comenta questões relacionadas a Compliance.
O ex-funcionário da Globo é citado em trechos de conversas de aplicativo de celular e em um e-mail sobre tratativas de valores a receber. Ribeiro negociava com um empresário do ramo de importação e exportação para venda de insumos hospitalares. O negócio envolveria ainda Sérgio Côrtes, ex-secretário de Sérgio Cabral –ex-governador do Rio de Janeiro preso e condenado na Operação Lava Jato. “Foi localizado, também, chat entre Ângelo Ribeiro e Tyndaro Menezes, o qual demonstra claramente a parceria de ambos no meio empresarial, novamente mencionando negócios”, destaca o MP.
De acordo com interpretação dos investigadores, “as negociações suspeitas propostas pelos delegados ficam ainda mais evidentes, tendo eles se referido, inclusive, ao jornalista Tyndaro Menezes, ligado à Rede Globo. No contexto em que falam sobre compra de insumos médicos e sobre ‘SC’ [Sérgio Côrtes] e família serem atravessadores de uma empresa de São Paulo, Ângelo fala a Victor que Tyndaro não integraria nenhuma empresa, mas, ainda assim, ‘seria prestigiado’”.
Ex-chefe do jornalismo investigativo da Globo nega ato ilícito
Tyndaro Menezes nega que tenha cometido algo ilícito. Ao SBT News, o jornalista disse que conhece o delegado e que apresentou Ribeiro ao empresário que forneceria insumos, mas negou qualquer ilícito. De acordo com ele, foi um ato privado que não se concretizou e que assim que soube da participação de Côrtes no negócio, deixou de intermediar os contatos.
“A tentativa do empresário e do delegado de vender produtos hospitalares nunca foi concluída. Nenhuma empresa chegou a sequer ser aberta, portanto, eu não poderia ter recebido nenhuma comissão. Não negociei valores, percentuais ou coisa do tipo. Se cometi algum erro foi ético por ter apresentado o empresário ao delegado. Não sou acusado de nada ilícito ou ilegal”, se defendeu.
A Globo divulgou a seguinte nota: “O profissional citado não está mais na empresa. A Globo não comenta questões relacionadas a Compliance. Reitera que tem um Código de Ética, que deve ser seguido por todos os colaboradores, e uma ouvidoria pronta para receber quaisquer relatos de violação. Todo relato é apurado criteriosamente assim que a empresa toma conhecimento e as medidas necessárias são adotadas”.
Na semana passada, os advogados que defendem o delegado Ângelo Ribeiro afirmaram que o cliente é inocente. “A defesa tem certeza de que os fatos serão devidamente esclarecidos e que a Justiça reconhecerá a improcedência da denúncia”. O SBT News não conseguiu contato com a defesa de Sérgio Côrtes e Rei Arthur. Eles têm negado o envolvimento em crimes nos processos que eles respondem na Justiça.