EM ENTREVISTA

Ex-jogador e comentarista da Globo, Richarlyson assume ser bissexual

Imagem com foto do ex-jogador e comentarista Richarlyson
Richarlyson assumiu bissexualidade em entrevista ao podcast Nos Armários dos Vestiários (foto: Reprodução)

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Ex-jogador de futebol e comentarista da Globo, Richarlyson revelou no podcast Nos Armários dos Vestiários que é bissexual. A produção jornalística detalha a homofobia e o machismo no futebol brasileiro. O relato inédito do ex-atleta aconteceu durante entrevista de duas horas sobre o tema para a jornalista Joanna de Assis. “A vida inteira me perguntaram se sou gay”, disse ele. “Eu já me relacionei com homem e já me relacionei com mulher também. Só que aí eu falo hoje aqui e daqui a pouco estará estampada a notícia: ‘Richarlyson é bissexual’. E o meme já vem pronto. Dirão: ‘Nossa, mas jura? Eu nem imaginava’. Cara, eu sou normal, eu tenho vontades e desejos. Já namorei homem, já namorei mulher, mas e aí? Vai fazer o quê? Nada”, declarou o comentarista

“Vai pintar uma manchete que o Richarlyson falou em um podcast que é bissexual. Legal. E aí vai chover de reportagens, e o mais importante, que é pauta, não vai mudar, que é a questão da homofobia. Infelizmente, o mundo não está preparado para ter essa discussão e lidar com naturalidade com isso”, desabafou. Um dos objetivos do podcast é falar sobre homofobia e machismo dentro de vários espaços do futebol, como campo, arquibancada, apito, base e outros. Ao do que aconteceu diversas vezes em quase 20 anos de carreira como jogador de futebol, Richarlyson não foi questionado diretamente sobre sua sexualidade. Segundo Joanna de Assis, a decisão de falar surgiu de forma espontânea. “Pelo tanto de pessoas que falam que é importante meu posicionamento, hoje eu resolvi falar: sou bissexual. Se era isso que faltava, ok. Pronto. Agora eu quero ver se realmente vai melhorar, porque é esse o meu questionamento”, disse ele.

“Eu não queria ser pautado por causa da minha sexualidade, de eu ser bissexual. Eu queria que as pessoas me vissem como espelho por tudo aquilo que conquistei dentro do meu trabalho. Eu nunca coloquei a minha sexualidade à frente do meu trabalho, e nunca faria isso. E eu não estou falando isso agora porque parei de jogar. Muita gente maldosa vai falar isso, que eu falei agora porque não jogo mais. Não. Eu nunca falei porque não era a minha prioridade, como não era hoje, mas hoje eu me senti à vontade de falar. Eu queria que não existisse essa pauta. Eu queria estar falando aqui da minha nova carreira [de comentarista]. Mas é importante. Vamos poder alertar um ali, outro aqui”, continuou. Na época em que jogou pelo São Paulo, onde viveu o melhor momento da carreira, chegou a ser ignorado pela própria torcida no momento em que ela gritava um a um os nomes da escalação: “Eu sempre fui eu. Queria mostrar para as pessoas que independentemente do que elas falassem eu iria viver a minha vida, faria o que me desse prazer brincando de peteca, jogando vôlei, colocar uma braque rosa no vôlei”. O debate sobre a vida intima do jogador veio à tona em 2007, quando o então dirigente do Palmeiras José Cyrillo Júnior insinuou em rede nacional que o jogador seria gay.

Richarlyson abriu uma queixa-crime contra o cartola, que se desculpou publicamente. A queixa, porém, foi indeferida pelo juiz Manoel Maximiniano Junqueira Filho. O meritíssimo arquivou o processo alegando que não seria razoável aceitar homossexuais no futebol brasileiro porque prejudicaria o pensamento da equipe. Ele ainda citou na sentença que futebol é coisa de macho, não homossexual. “Isso, sim, me deixou muito triste porque em nenhum momento eu senti que aquilo era uma coisa normal. Era uma coisa muito pejorativa. Isso foi muito ruim não só para mim. Ser homossexual não é demérito para ninguém, e no futebol não deveria ser um assunto tão polêmico. Nunca deixei que isso atrapalhasse o que eu quero para minha vida, não vai ser uma frase, uma palavra, uma discussão ou um cara babaca que tentou de forma vulgar maltratar uma classe… Pelo amor de Deus, quanto sofrimento tem na classe LGBTQIA+?”, questionou.

“Só falei abertamente com a minha mãe sobre a minha sexualidade. Meu pai [o ex-atacante Lela] e meu irmão [o atacante Alecsandro] vão saber pelo podcast. Nada jamais foi questionado, nunca me olharam torto na vida por nada que eu tivesse feito. Eu sempre brinco que tudo aquilo que sou hoje é porque em casa tive uma formação totalmente rígida na questão de educação e respeito, mas acima de tudo com uma clareza e naturalidade para enfrentar o que quisesse da forma que eu visse, não da forma que meu pai, minha mãe ou meu irmão estivessem vendo”, continuou. “Muitas vezes, o homossexual se vitimiza demais. Não, vai pra cima, cara! Você não é diferente, não. É carne e osso igual a qualquer outro. Morrendo todo mundo vira caveira igual, ninguém vai virar uma caveira rosa ou de purpurina. Você não é diferente. Você não tem que se sentir diferente, você tem que se sentir feliz”, finalizou o ex-jogador Richarlyson.

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